Importação de café: Decisão sobre o assunto deve sair só no início de 2017 após avaliação dos estoques

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A queda de braço entre a indústria e o setor produtivo de café ganhou mais um capítulo na noite desta quarta-feira (14) depois de um encontro de representantes dos cafeicultores com o ministro da agricultura Blairo Maggi. Agora a questão só deve ser decidida pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) na segunda quinzena de janeiro do ano que vem. Até lá, ficou decidido que as autoridades competentes do país devem fazer uma avaliação minuciosa dos estoques.

Maggi afirmou ontem à tarde, em audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), que autorizaria a importação de café tanto arábica quanto conilon (robusta) com algumas condições, como o aumento da alíquota de importação, atendendo assim uma demanda da indústria. “Se nós matarmos nossa indústria nesse momento, não tivermos produto para que ela possa processar, certamente vamos perder mercado internacional”, disse o ministro.

No entanto, logo após o posicionamento positivo de Maggi na Câmara representantes do setor produtivo se reuniram com o ministro para expor seu posicionamento, o ministro voltou atrás e ficou decidido que antes de qualquer decisão sobre o assunto, deve ser feito um levantamento completo dos estoques no país com ajuda da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Uma nova reunião do ministro com a Cacex (Câmara do Comércio Exterior) já está marcada para o dia 15 de janeiro.

“Usando o bom senso, depois de intensas negociações, fechamos um acordo com o ministro Blairo, e está suspenso qualquer movimentação que vise importar café. Faremos junto com a Conab um levantamento minucioso dos estoques, provando que existe sim café físico disponível e vamos assim encerrar esse assunto de um vez por todas. Essa é uma estratégia das indústrias e traders para desmontar o setor”, explicou o deputado federal Evair de Melo (PV-ES), que representou os produtores na conversa com o ministro ontem.

Segundo Melo, a reivindicação da indústria de que os preços estão altos procede, mas isso não faz sentido. “Essa é a lógica do mercado. Quando vendemos café abaixo do custo de produção ninguém foi lá socorrer os agricultores. Esse preço que hoje remunera a cafeicultura, na verdade, não é lucro para o produtor rural”, diz.

A proposta de importação de café conilon foi feita por representantes da indústria de café solúvel e torrado e moído em novembro. Eles pedem que o processo seja autorizado por um período determinado (janeiro até maio) e limite de até 250 mil sacas mês, acima disso seria cobrado uma alíquota de até 35%. “Isso permite que a atividade da indústria continue e que o país não perca sua importante condição no mercado global”, ressalta afirma o diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), Nathan Herszkowicz.

Maggi tinha aceitado a proposta e autorizaria a importação de arábica e conilon, mas isso com a condição de estabelecer um aumento do valor da alíquota para o café arábica, o que contribuiria para impedir a entrada dessa variedade no país.

O Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, tem apresentado consecutivas quebras na safra de conilon no Espírito Santo, que tem a maior produção da variedade no país, e que foi afetada por seguidas seca. Nos últimos meses, com a escassez do grão para a confecção de seus produtos, a indústria brasileira de café torrado e moído utilizou alguns tipos de café arábica de menor qualidade como substitutivo. Porém, a de café solúvel não tem alternativa.

“A indústria brasileira de café está sem suprimento para continuar as atividades. Isso ocorreu por conta da seca e do déficit hídrico que prejudicou fortemente a safra de conilon, principalmente no Espírito Santo. A indústria de café torrado e moído até consegue adequar seus blends usando mais arábica, cerca de 60% delas já até abandonaram o conilon, mas na de solúvel isso não é possível, pois precisa- de pelo menos 80% da variedade na composição do produto. Nunca vi uma situação como essa em 30 anos no setor”, afirma Herszkowicz.

PRINCIPAIS DÚVIDAS

A indústria de café solúvel não consegue usar outro tipo de café, além do robusta?

“A indústria de café torrado e moído até consegue adequar seus blends usando mais arábica, cerca de 60% delas já até abandonaram o conilon, mas na de solúvel isso não é possível, pois precisa de pelo menos 80% da variedade na composição do produto para um maior rendimento. Nunca vi uma situação como essa em 30 anos no setor”. – Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café)

Qual é quantidade de café que a indústria precisa?

“A intenção é fazer a importação de café conilon do Vietnã ou Indonésia momentaneamente (janeiro-maio), com volume entre 200 mil e 250 mil sacas por mês. Isso corresponde, no volume global, a menos de 5% daquilo que a indústria consome por ano. Portanto é uma quantidade extremamente pequena. Passou disso, o governo tributaria o produto em até 35%” – Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café)

Qual a quantidade de café nas mãos dos produtores?

“Após anos seguidos de seca, o Brasil não tem mais estoques de café conilon. A indústrias não tem conseguido comprar o café nem com os altos preços. A redução também foi motivada pelos números de exportação. Em 2015, o país exportou 4,2 milhões de sacas de 60 kg de conilon. Neste ano, até novembro, foram 569 mil sacas e em 2017 deve ser ainda pior”. – Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café)

“Apesar de a indústria alegar a possibilidade de faltar o produto, a realidade é que existe café conilon em quantidade suficiente para suprir a demanda industrial de solúvel, torrado e moído até a próxima safra que, historicamente, começa em março/abril, no Espírito Santo” – Breno Mesquita, presidente das comissões Nacional e Estadual do Café da CNA e FAEMG  

Em março, a Conab informou em levantamento que os estoques privados de café conilon eram de 1,12 milhão de sacas de 60 kg. O de arábica estava em 12,47 milhões de sacas.

O adiamento por um mês da importação atrapalha a indústria?

“A indústria brasileira de café está sem suprimento para continuar as atividades. Isso ocorreu por conta da seca e do déficit hídrico que prejudicou fortemente a safra de conilon, principalmente no Espírito Santo. O suprimento está inviabilizado em algumas semanas, ou seja, a indústria sai para comprar café no mercado e volta de mãos vazias. Isso faz com que indústrias, especialmente pequenas fechem e já estão fechando”. – Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café)

A suspensão é para os dois tipos de café?

A suspensão de 30 dias de Blairo Maggi sobre a decisão na importação é para o café conilon e também para o arábica.

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