Granizo no cafezal: meteorologista alerta para possibilidade de fortes chuvas nos próximos dias

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Uma chuva de granizo que durou cerca de 20 minutos no último final de semana causou prejuízos a cafeicultores em três bairros rurais de Nova Resende (MG). A chuva derrubou frutos, machucou e desfolhou cafeeiros. E o fenômeno ainda pode se repetir em todo Sul de Minas nos primeiros dias de abril. O fenômeno é um dos mais temidos pelos cafeicultores pela sua capacidade de danificar a plantação e prejudicar a produtividade.

O fato ocorrido no último final de semana durou 40 minutos com intervalos de chuva e cerca de 20 minutos de queda de granizo. O técnico em agropecuária da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Isnard Batista Reis, contou que cerca de 40 produtores tiveram lavouras de café afetadas pelas chuvas em Nova Rezende (MG). “A chuva afetou as pequenas propriedades dos bairros Taboão, Penha e São João”, explicou.

O cafeicultor Ilário contabiliza os prejuízos climáticos em sua lavoura — Foto: Arquivo Pessoal

Um desses produtores foi Ilário Vicente que possui 196 mil pés de café distribuídos em 45 hectares nos bairros Estiva, Mamono e Boa Vista. Ele contou que a lavoura ficou bem estragada.

“Até já estou passando foliar para ver se ajuda a cicatrizar. Tenho algumas pessoas jogando foliar com mão e eu de trator. O estrago foi muito grande. O trem foi sério mesmo. Estragou muito. Foram cerca de 21 hectares danificados aqui”, lamentou.

O produtor disse também que cerca de 12 hectares tiveram apenas desfolha e outros 10 hectares com queda de frutos também. “Onde caiu as folhas e frutos, o trem foi bem mais sério”, falou.

Além da geada em 2021, outra chuva com granizo já tinha afetado a lavoura há apenas 25 dias. “Vai ser difícil da lavoura recuperar agora porque ela já estava danificada pela primeira chuva. A lavoura tinha pouco mais de um ano em algumas áreas e, em outras, as plantas tinham apenas três meses. De dois a três anos para cá, esse tipo de ocorrência tem sido comum nessa região”, explicou.

Os prejuízos de Ilário ainda estão sendo contabilizados.

Folhas de cafeeiro ficam danificadas após chuva de granizo — Foto: Arquivo Pessoal

Danos à lavoura

O professor e coordenador do setor de industrialização de café do Instituto Federal do Sul de Minas (Ifsuldeminas) em Machado (MG), Leandro Carlos Paiva, explica que o atrito das pedras de granizo pode quebrar os galhos do cafeeiro e também promover a queda de frutos como aconteceu com o cafeicultor Ilário.

“O granizo rasga a folha e promove injúrias no grão. Quando a pedra acerta o grão, ela pode romper a casca e a mancha que fica acaba oxidando. O café tem uma capacidade de oxidação muito rápida. E esta fresta no grão pode fazer o fruto perder poupa. A abertura deixada ainda pode ser porta de entrada para fungos e contaminação do café. Portanto, esse café vai perder qualidade de bebida”, explicou.

Leandro detalhou que quando o granizo atinge as folhas, há danos na produção de energia do cafeeiro.

“Existe perda de produtividade da planta porque a área foliar para a fotossíntese diminui quando as folhas são arrancadas ou rasgadas e os galhos quebrados”, resumiu.

Quanto ao fruto que cai no chão, o tempo de maturação é que vai definir se ele pode ou não, ser aproveitado. O professor explicou que os frutos verdes não tem aproveitamento. Já os que estão maduros ou quase maduros podem ser aproveitados como os chamados grãos de varreção.

“Se o grão estiver maduro ou verdolengo (indo do verde para o maduro) ele pode ser aproveitado como varreção. E nessa classificação são enquadrados grãos de baixa qualidade e retorno financeiro”, afirmou.

O técnico da Emater em Nova Resende Isnard Reis — Foto: Arquivo Pessoal

Previsão

A meteorologista Daniela Freitas, do Climatempo, explicou que há previsão de mais chuva forte e mudanças nos próximos dias por causa de uma frente fria que vai avançar pela região entre o dia 31 de março até 2 de abril. Ela falou também que existem condições para a formação de granizo.

“É preciso ter a formação de um tipo de nuvem chamada de Cúmulo-nimbo para que ocorra granizo. Essa nuvem é de grande extensão vertical com fortes rajadas de vento internas e potencial para formação de gelo”, explicou.

Café realiza adubação foliar em lavoura de Nova Resende — Foto: Arquivo Pessoal

Daniela falou ainda que quando esse gelo formado na nuvem desprende a barreira da gravidade, ele cai em formato do granizo.

“Pode acontecer em qualquer época do ano. Está mais favorável agora por conta dessa atividade conectiva muito intensa associada à passagem da frente fria a partir do dia 31 de março. Haverá condições maiores para a formação de nuvens Cúmulo-nimbo porque há potencial de temporal nas regiões do Sul de Minas, Triangulo Mineiro e Zona da Mata”, disse.

Fonte: g1 Sul de Minas (Por Jonatam Marinho)