Fórum da Cooxupé prevê quebra da safra 2021 de café com seca e calor

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A Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé) realizou na terça-feira a segunda edição do Fórum Técnico “Café e Clima”, evento online e transmitido pelo Youtube. Houve unanimidade entre os quatro palestrantes do fórum em apontar a expectativa de quebra na produção em 2021 no Brasil em função do clima seco e das altas temperaturas em 2020.

Após abertura do presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, sob a mediação do engenheiro agrônomo e gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, Mário Ferraz de Araújo, o cooperado e engenheiro agrônomo Guy Carvalho passou sua visão sobre como está o “Cenário Atual da Lavoura – Visão do Especialista”.

Segundo Guy Carvalho, as floradas vieram agora em setembro com muito déficit hídrico. Houve calor e seca estendida por mais 10 dias após a abertura de uma grande florada, que levou as plantas ao limite. Com muita desfolha nas lavouras, a florada abriu com temperaturas muito elevadas e sem reserva de água no solo. “Compromete a safra seguinte com perdas na produção”, afirma. Ele ressaltou que em áreas em que atua, no sul de Minas Gerais e São Paulo, há uma privação hídrica gigante nos últimos seis meses, com níveis muito baixos de umidade, pelo menos metade da média histórica.

Observou que as temperaturas muito elevadas combinadas com a falta de chuvas maltrataram as plantas, que saíram de safra de bienalidade alta em 2020. “Mesmo lavouras boas, que produziram pouco esse ano, ou que foram podadas recentemente, apresentaram grande desfolha do final de agosto para cá, além da queda do potencial quando comparado lá atrás no final do outono.

Já lavouras mais velhas, que iriam ser podadas, e tiveram alguma restrição de tratos estão ainda piores e sem dúvida deverão receber a poda. A questão preocupante é que outras lavouras, que a princípio não seriam podadas, pois produziram uma meia carga e teoricamente deveriam produzir de novo, elas também sentiram e estão apresentando também necessidade de poda. Se o cafeicultor optar por não podar, a produtividade será muito baixa, mesmo que a chuva se normalize a partir de agora”, descreveu Guy Carvalho.

Carvalho afirma que o quadro é irreversível, muito preocupante e com certeza afetará a produção a ser colhida em 2021. Ele ressalta que, mesmo se as chuvas melhorarem, “o que a planta penalizou para a próxima safra não volta mais”. O questionamento que ele coloca é como será o pegamento dessa florada.

“A dica é: se a flor secar, de cor chocolate, é bom sinal, que houve a fecundação. Mas, se o chumbinho ficar amarelo pode ser que já tenha se desligado da planta. O cafeicultor tem de observar detalhes como esse”, comenta. Com perdas já irreversíveis para 2021, Guy Carvalho diz que o produtor tem de cuidar bem das lavouras pensando em 2022. “Na minha lavoura teve poda dobrada em relação ao meu planejamento. Vamos ver nas que restaram como elas vão reagir no retorno das chuvas”, avaliou.

Na Palestra “Avaliação das Condições Agrometeorológicas de 2020 nas Regiões Cafeeiras da Cooxupé”, Éder Ribeiro Santos, engenheiro agrônomo e coordenador de Geoprocessamento da Cooxupé, salientou que entre 60% e 70% das vezes em que ocorre variabilidade na produção é causada pelo clima, sendo que 56% das vezes de quebra de produtividade é por deficiência hídrica.

Descrevendo a safra de 2020 desde o ano passado, Ribeiro indicou que em 2019 a florada principal aconteceu no primeiro decêndio de outubro, sendo uma florada de alta intensidade. No mês de setembro de 2019 também ocorreram temperaturas altas e em outubro da mesma forma. A florada do início de outubro do ano passado veio com chuvas no final de setembro, e houve precipitações em outubro, com a regularização ocorrendo em novembro.

Então houve boa intensidade de chuvas em novembro, dezembro umidade acima da média, em janeiro (2020) muito acima da média e também em fevereiro, para depois em março as chuvas ficarem abaixo da média histórica, mas suficientes para as necessidades da planta. Assim, de outubro a março houve boas condições para o crescimento de ramos, enfolhamento e bom desenvolvimento do fruto e granação. Porém, a partir de abril as condições mudaram drasticamente. Chuvas muito abaixo da média histórica se estenderam até setembro. “Foram seis meses de chuvas abaixo da média e isso trouxe uma série de consequências”, comentou.

Para entender o tamanho da seca, Éder Ribeiro indicou que, considerando chuvas acima de 2mm, no sul de Minas Gerais, de 01 de abril a 04 de outubro, o que representam 187 dias, em mais de 170 dias não ocorreram chuvas. “Período extremamente longo em fase extremamente importante em que não houve chuvas”, ressaltou.

O engenheiro agrônomo Éder Ribeiro disse que no cerrado de Minas Gerais o quadro foi parecido. De setembro de 2019 a fevereiro de 2020 houve boas chuvas. Em março, abril e maio houve chuvas, o que fez que o armazenamento hídrico até maio tivesse condições melhores que o sul de MG.

Porém, depois chuvas ficaram bem abaixo da média também no cerrado. Éder Ribeiro diz que o interessante é que o volume total de chuva acumulado de janeiro a setembro foi superior à media histórica, mas a distribuição foi uma tragédia. “Choveu muito no começo do ano e depois parou”, descreveu. E as temperaturas permaneceram entre a média e acima da média histórica, com alguns meses muito acima da média histórica. Apenas em maio a média foi abaixo.

Falando sobre a safra de 2021, Éder Ribeiro observou que as chuvas no último decêndio de agosto, entre 20 a 22 do mês, promoveram abertura de florada entre 2 e 6 de setembro em lavouras novas e podadas, sendo de média intensidade.

Em setembro ocorreram chuvas no último decêndio, entre 22 e 23, com o florescimento ocorrendo entre 29 de setembro e 03 de outubro. Foi uma florada generalizada e de alta intensidade. Ocorreram floradas em condições de temperatura muito elevada em setembro e nos primeiros dias de outubro, com um armazenamento de água muito baixo, o que deve afetar a safra de 2021.

Já na Palestra: “Condições agroclimáticas nas Regiões Cafeeiras do Brasil e Perspectivas para a Safra 2020-21”, com o professor doutor Paulo César Sentelhas, Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo), avaliou a seca nas regiões de arábica do sul e cerrado de Minas Gerais, Matas de Minas e Mogiana Paulista. Sentelhas salientou que após falta de chuvas em parte de 2019 o problema se acentuou em 2020. O déficit hídrico foi 40% maior em média esse ano do que em 2019. “Vai impactar a produtividade”, avaliou.

Com um mês de outubro ainda seco e quente, vai ser penalizado o pegamento das floradas, alertou o professor doutor. Apresentando probabilidade de La Niña até o primeiro trimestre de 2021, ele observou que o trimestre final deste ano de 2020 deve ser de chuvas ainda abaixo do normal, mas melhorando em novembro.

Em suas conclusões, Sentelhas disse na apresentação que as condições meteorológicas que vêm prevalecendo ao longo de 2020 na maioria das regiões produtoras de café tem impactado as lavouras, “com expectativas de quebras de produtividade decorrentes dos efeitos do déficit hídrico elevado na queda de folhas, na formação dos ramos e das gemas, no pegamento da florada e na escaldadura das folhas”.

Sentelhas afirmou que a expectativa é que as chuvas retornem entre o final de outubro e novembro, melhorando as condições para a cultura. No entanto, até o estabelecimento da estação chuvosa a deficiência hídrica deverá continuar afetando a construção da próxima produtividade. Avaliando a previsão climática de diversas fontes, ele diz que há uma certa concordância entre a previsão de tempo e a climática, já que ambas indicam regularização das chuvas a partir de novembro nas regiões produtoras de café arábica em MG, SP, ES e PR.

A palestra final foi “Calor e Seca: a Florada do Café vai Vingar?”, com o professor doutor José Donizeti Alves, UFLA (Universidade Federal de Lavras). Ele comparou o déficit hídrico dos anos de 2014, 2018 e agora em 2020. Os dados apresentados de regiões como sul de Minas Gerais e São Paulo mostraram que o déficit hídrico agora em 2020 é muito superior aos de 2014 e 2018, quando as safras do ano seguinte foram prejudicadas. Para Donizeti, isso mostra que as avaliações dos produtores de que a próxima safra deve quebrar não são um simples “chororô”.

As conclusões apresentadas por Donizeti colocam que as perdas para a safra 2020/21 já existem, diante das altas temperaturas, déficit hídrico e baixa umidade relativa do ar há mais de 120 dias. Ele indica que a primeira florada em áreas de sequeiro não vai impactar a produção. Quanto ao tamanho das quebras, ele diz que “resta saber quanto e até quando as estruturas de defesas do cafeeiro podem amenizar e estancar as perdas/aborto para 2021”.

Donizeti coloca que as chuvas vão frear as perdas, desde que continuem regularmente até o final do primeiro trimestre de 2021. “As perdas vão ser proporcionais ao grau de enfolhamento das lavouras. As lavouras muito desfolhadas deverão ser podadas”, concluiu.

Fonte> Agência SAFRAS (Por Lessandro Carvalho)