FOLHA TÉCNICA: Modo de fazer a calagem em cafezais

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A calagem em lavouras de café deve observar cuidados especiais, principalmente quanto ao modo de aplicação, para que tenha melhor efeito, trazendo benefícios ao desenvolvimento e à produtividade dos cafeeiros.

O uso de calcário em cafezais é indicado com a finalidade principal de corrigir a acidez do solo e suprir os nutrientes cálcio e magnésio. Ele também contribui no aumento da disponibilidade de fósforo, diminui o alumínio e manganês tóxicos, aumenta a mineralização da matéria orgânica e melhora o aproveitamento de outros nutrientes, do solo ou das adubações. Na figura 1 pode-se observar a influência do pH do solo no aproveitamento dos nutrientes, podendo-se verificar a faixa de pH ideal.

Os aspectos importantes na adoção da calagem são: o tipo e qualidade do calcário, a dose e o modo de aplicação. Quanto aos tipos de calcário, existem duas categorias. A primeira classificação é feita com base nos teores de óxidos de cálcio e de magnésio, existindo os calcíticos, pobres em óxido de Mg e os dolomíticos, estes com maiores teores de Mg. A segunda categoria, ligada à solubilidade dos calcários, compreende os calcários comuns e os calcinados.

A necessidade da calagem deve ser determinada conforme os resultados da análise de solo da lavoura de café. A análise também permite definir a dose e indicar o tipo a utilizar. O fator a ser verificado na análise é o índice de saturação de bases ou o V%, nas amostras representativas do solo da lavoura. Este índice se correlaciona tanto com o pH (figura 2) como com os teores de Ca e Mg do solo. O índice de saturação considerado adequado é de 60-70%. Deve-se avaliar, também, a proporção existente entre o Ca e o Mg e destes em relação ao K. Conforme essa relação pode-se usar tipos diferentes de calcário ou de outros corretivos, que concentrem mais os nutrientes em falta ou em desequilíbrio. A condição da lavoura também deve ser levada em conta. Em caso de necessidade de correções mais rápidas é indicado usar corretivos mais solúveis, como os calcários calcinados ou cal dolomítica.

Quanto ao modo de aplicação, em lavouras já instaladas o calcário deve ser aplicado em cobertura e esparramado, para maior contato com o solo, já que não é possível incorporar o calcário em profundidade. É importante que ele seja aplicado numa faixa junto à linha de cafeeiros, pois assim fará maior efeito (figura 3). Não deve ser distribuído em área total, a menos que a lavoura seja adensada. A distribuição junto às plantas coincide com o local da adubação, que provoca a acidificação do solo e, especialmente no caso de irrigação de gotejo, a colocação mais debaixo da saia das plantas permite a ação do calcário na área do bulbo, que fica mais ácida. Em áreas montanhosas o calcário pode ser aplicado do mesmo modo que os adubos, do lado de cima da linha. Nas áreas planas e de aplicação mecanizada deve-se aplicar dos dois lados da linha de cafeeiros. Quanto à época, pode-se aplicar o calcário em qualquer uma, mas a mais usada é no pós-colheita. Pode ser em solo seco ou úmido.

A aplicação do calcário na linha de cafeeiros, portanto em parte da área do terreno, deve ser feita com a dose normalmente calculada. Não deve haver redução de dose. São três os motivos para isso. Primeiro porque sempre cai um pouco do produto fora dessa faixa e, também, a própria chuva acaba arrastando algo. Segundo porque o calcário, em cobertura, vai agir lentamente e doses mais concentradas podem compensar essa lentidão. Terceiro porque a ação acidificante dos adubos se contrapõe a um possível excesso de correção. Essa ação lenta do calcário faz com que a necessidade de calcário, mostrada pela análise do solo, persista mesmo em áreas onde ele foi aplicado em anos anteriores. Por último, uma questão operacional. Quando a dose de calcário calculada for muito baixa, normalmente menos do que 1 t por ha, deve-se esperar mais um ciclo agrícola, para acumular doses mais significativas, pois, aplicar pequenas doses, muitas vezes, não compensam as despesas operacionais.

Fonte: Fundação Procafé (Por J.B. Matiello e Lucas Bartelega – Engs. Agrs Fundação Procafé)