FOLHA TECNICA: Frio intenso pode reduzir gemas florais em cafeeiros

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J.B. Matiello, Marcelo Jordão Filho e L. Bartelega – Engºs Agrºs. Fundação Procafé

Observações de campo, realizadas em cafeeiros em áreas afetadas por geadas, tem mostrado que os ramos laterais das plantas, mesmo em partes não queimadas pelo frio, tendem a emitir poucas gemas florais, que resultariam em botões, flores e frutos.

O processo que regula a indução, a diferenciação e o crescimento inicial das gemas florais em cafeeiros não é perfeitamente conhecido, mas sabe-se que essa fase é caracterizada por dias curtos, ocorrendo normalmente de março a junho. Esse processo depende do estado fisiológico da planta e da interação de fatores do ambiente, como suprimento de água, radiação solar, fotoperíodo e temperatura.

Com relação ao efeito da temperatura sobre o processo de floração é conhecida a ação de altas temperaturas provocando abortamento, na forma do que se chama de estrelinhas. Já, o efeito de baixas temperaturas tem sido associado à grande formação de brotações, saídas junto às rosetas, no lugar onde deveriam ser formados os botões e, em seguida, as flores e frutos. Essas brotações dão origem a novos ramos laterais, chamados de terciários. Isso ocorre por morte ou bloqueio temporário da gema apical do ramo (quebra de dominância) por efeito de frio intenso. Essa brotação excessiva influi na redução do número de botões e flores.

Neste ano, de 2021, ocorreu um período continuado de frio intenso, com registro de 3 geadas em julho. Além disso, houve uma estiagem prolongada, a partir de março, estendendo-se até fins de setembro. Agora, em outubro-novembro, com a retomada das chuvas, vieram as floradas nos cafezais. Em geral, foram boas florações e mais uniformes, função do déficit e depois o diferencial hídrico pelas chuvas. Porém, em muitas áreas, ramos laterais que apresentavam bom crescimento e preparo para florescer não apresentaram, até o momento, gemas ou botões. A princípio suspeitou-se do efeito prejudicial do déficit hídrico, ocorrido na fase de diferenciação das gemas. No entanto, a observação sobre essa falta de abotoamento dos ramos, num mesmo talhão, mostrou que o problema era maior na medida em que as plantas se situavam em partes mais baixas do terreno, portanto, mais afetadas pelo frio. Também foi observado que plantas que tiveram uma pequena queima da parte superior, tipo capote, quase não apresentam abotoamento na ramagem da parte baixa, não queimada pela geada. Outra verificação foi que variedades mais precoces no abotoamento e maturação, como a Catucai 785-15, tiveram um abotoamento melhor do que as variedades tardias.

Pelas observações de campo existem algumas evidências que o efeito de frio intenso possa estar causando uma redução no abotoamento em ramos dos cafeeiros. Pode haver um efeito físico (menos provável) ou um efeito hormonal. Tratando-se de um fenômeno ainda não relatado, é preciso que as pesquisas comprovem melhor o que vem ocorrendo.

Fonte: Procafe