FOLHA TÉCNICA: acompanhamento da fenologia do cafeeiro é importante no manejo da lavoura

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O conhecimento de como está evoluindo o ciclo fenológico do cafeeiro é importante, pois a análise, em certos períodos, de como se encontram os processos de crescimento e de florescimento/frutificação, vai auxiliar na indicação de práticas no manejo das lavouras.

A fenologia do cafeeiro estuda os eventos periódicos do ciclo de vida das plantas, que acontecem correlacionados com as condições do ambiente. Esses eventos podem ser agrupados em dois tipos – vegetativos e produtivos.

A parte vegetativa consta do crescimento da ramagem e da folhagem, bem como a indução e desenvolvimento das gemas florais nos ramos. O maior crescimento vegetativo ocorre de setembro-outubro até janeiro-fevereiro, com dias longos e maiores temperaturas. Já a partir de janeiro e, principalmente, após março-abril, até junho, com dias curtos, as gemas foliares existentes são induzidas para gemas florais. Elas amadurecem e entram em dormência.

A parte produtiva começa com o abotoamento, seguindo-se a floração e a frutificação. As gemas dormentes são estimuladas por um diferencial hídrico, que ocorre com a retomada das chuvas ou irrigações, a partir de setembro-outubro. Elas crescem rapidamente e ocorre a abertura dos botões e, então, a frutificação.

Os eventos vegetativos e produtivos ocorrem simultaneamente no cafeeiro e as fases fenológicas se completam em 2 anos. Ao mesmo tempo em que está ocorrendo a frutificação, na parte mais velha do ramo, uma parte nova, desse mesmo ramo, vai crescendo para suportar a frutificação do ano seguinte. Assim, acontece uma interação entre as fases, pois quanto maior for o crescimento dos ramos, maior vai ser a produção no ano seguinte. Por outro lado, quanto maior a produção de frutos num ano, menor vai ser o crescimento do ramo novo. Na figura 1 podem ser observados o crescimento da parte nova de ramos em cafeeiros produtivos e em outros esqueletados, ou seja, sem safra no ano.

Uma forma simples de acompanhar o crescimento do cafeeiro (pela fenometria) é o de marcar alguns ramos, de algumas plantas, e contar, em certos meses, como vem vindo o desenvolvimento da ramagem, avaliando-se o número de nós, isso contando a partir da parte verde do ramo, ou seja, do crescimento inicial daquele ano agrícola. Ao mesmo tempo, pode-se avaliar, nesses ramos, o enfolhamento presente. Na tabela 1 foram incluídos o número de nós por ramo e o enfolhamento, determinados, durante os meses, na média de 21 anos (1999-2020), na Fda Experimental de Varginha. Nessa tabela foram incluídos os dados médios em lavouras de safra alta e baixa. Verifica-se que o crescimento dos ramos ocorre de setembro a abril/maio e a partir dai se estabiliza. O enfolhamento nos ramos novos se inicia em setembro e permanece alto até fevereiro, dai vai caindo e chega ao mínimo em agosto. Na figura 2 foram colocados os dados, em 5 anos, do crescimento diferencial dos ramos, na comparação entre lavouras de safra baixa e alta. Pode-se verificar que as plantas sem carga apresentam, no final do ciclo, cerca de 2 nós a mais do que os de safra alta. Nesse trabalho, da Estação de Avisos da Fundação Procafé, avalia-se, também, o crescimento dos ramos em plantas esqueletadas e tem-se verificado que, nessas plantas, os ramos crescem mais, de forma semelhante àquelas de safra baixa.

No aspecto de avaliação da diferenciação e desenvolvimento das gemas florais, a figura 3 mostra os diferentes estágios e auxilia nas observações, para diagnosticar o que vem acontecendo no campo. Neste último ano agricola, em outubro/novembro de 2021, verificou-se que muitas lavouras apresentavam bom desenvolvimento de ramos novos, porém havia baixa ou nula floração/frutificação. A causa provável disso foi a falta de água, ocorrida na fase de diferenciação floral, lá atrás, de março a junho. Isso mostra a necessidade de avaliar e acompanhar, periodicamente, os aspectos ligados à fenologia do cafeeiro.

Verifica-se que, dentro do trabalho de assistência técnica ou de consultoria, prestado aos cafeicultores, a par das avaliações já usuais, relativamente às análises de solo e folhas, o Técnico deve fazer  o acompanhamento das fases vegetativas e produtivas dos cafeeiros, dando base para ajustes na indicação de práticas mais adequadas, compatíveis com o desenvolvimento das plantas e do seu potencial produtivo.

Fonte: Fundação Procafé (Por J.B. Matiello, Rodrigo N. Paiva e Lucas Bartelega – Engs Agrs Fundação Procafé)