Entenda as características que fazem um café ser considerado especial

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Com clima e relevo favoráveis, aliados a uma produção artesanal, o Sul de Minas se destaca quando o assunto é café especial. De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, em inglês) dedicação em todas as etapas de produção, infraestrutura sólida e investimentos em pesquisa, são também ingredientes para o sucesso do produto, tornando a região uma das principais produtoras de cafés especiais do Brasil.

A topografia e o clima do sul de Minas, com a temperatura média de 20 graus e altitudes elevadas, podendo chegar até 1.400 metros, possibilitam a produção de cafés bem específicos. Aqueles produzidos na região das montanhas possuem corpo aveludado, acidez alta, adocicado, com notas de caramelo, chocolate, amêndoa, cítricas e frutadas. Já aqueles oriundos do sudoeste da região, apresentam corpo médio, acidez alta, adocicado, com notas florais e cítricas.

Cafés especiais do Sul de Minas têm características específicas — Foto: Divulgação / BSCA

Mas, o que faz um café ser considerado especial? Segundo especialistas, esses possuem grãos isentos de impurezas e defeitos, além de atributos sensoriais diferenciados.

“Esses predicados, que incluem bebida limpa e doce, corpo e acidez equilibrados, qualificam a bebida acima dos 80 pontos na análise sensorial. Além da qualidade intrínseca, os cafés especiais devem ter rastreabilidade certificada e respeitar critérios de sustentabilidade ambiental, econômica e social em todas as etapas de produção, do campo à xícara,” explicou Vanusia Nogueira, diretora da BSCA.

Para quem já é a quarta geração na cafeicultura de um grupo familiar, produzir café especial significa trilhar um caminho de desafios e conquistas. O produtor Álvaro Antônio Pereira Coli, de 55 anos, cresceu no meio da lavoura e há 26 anos pegou o bastão do pai e assumiu o Sítio da Torre, localizado no município de Carmo de Minas. Em 2002, para tentar sobreviver na cafeicultura de montanha, que tem um custo mais elevado de produção, Álvaro resolveu investir nos cafés especiais. Modernizando e aperfeiçoando as técnicas de plantio, colheita e principalmente pós-colheita.

O cafeicultor Álvaro produz café especial na região de Carmo de Minas — Foto: Divulgação / Tribus Studio

“Um jeito que a gente achou de melhorar foi partir para o café especial e agregar valor, vimos que era um caminho legal. Inicialmente foi pensando no financeiro, mas depois vimos que é um caminho sem volta, que acaba sendo uma paixão, a gente gosta de fazer isso, de receber visitas, de entregar um café especial e ver o cliente satisfeito, é um prazer,” contou.

A propriedade de Álvaro tem 95 hectares, sendo 55 deles dedicados à produção de café arábica. Anualmente, são produzidas cerca de 1500 sacas de café. Situada na região da Serra da Mantiqueira, as lavouras estão a cerca de 1.300 metros de altitude, com as variedades bourbon amarelo, acaiá, catuaí amarelo e catucai amarelo. Para Álvaro, um café especial precisa de mais do que alta pontuação para ser qualificado.

“Para mim, não basta ele ser um café de 90 pontos, de 92, de 88 pontos. Hoje, o cliente procura a história desse café, como a gente fez o café, como a família se dá com a lavoura de café, tem que ter uma história para vender junto. Se for só o café, ele não é especial, produzir por um ano, acertar e pronto. Não, tem que ter uma história, uma cumplicidade, uma constância, aí sim eu considero um café especial,” declarou.

Investir na produção de cafés especiais e na história da família com o café, tem dado frutos que vão além do financeiro. Além de diversas premiações em concursos de qualidade do café, o grão produzido no Sítio da Torre já chegou ao Japão, Coreia, Austrália, China, Bélgica, Inglaterra, EUA, França, Alemanha, Chile, e Grécia.

Álvaro tem uma sala no Sítio da Torre só par os prêmios de seu café — Foto: Arquivo Pessoal / Álvaro Antônio Pereira Coli

“Nós temos várias premiações, a gente tem como premiação principal a da Família Sítio da Torre, eu e mais três sócios e minha mãe, já ganhamos o CUP, da BSCA, e temos muitas premiações estadual, municipal, regional. A família é muito premiada,” disse.

Consumo e produção
Segundo a BSCA, em 2020 foi projetado que o Brasil consumiu o equivalente a 1,5 milhão de sacas de 60 kg de cafés especiais, volume que representa elevação de 25% na comparação com 2019.

“O consumo de cafés especiais no Brasil destoa positivamente, mantendo crescimento médio anual de 15% e acreditamos que esse percentual será mantido para 2021,” destacou Vanusia.

Com relação à produção de cafés especiais, a associação aponta que o Brasil produziu 12 milhões de sacas em 2020, das quais, 10,5 milhões foram exportadas e 1,5 milhão de sacas destinadas ao consumo no mercado brasileiro. Para 2021, com exceção ao consumo, o cenário deverá ser de queda em produção e exportação.

Sul de Minas se destaca na produção de cafés especiais — Foto: Divulgação / BSCA

“A safra colhida este ano já será naturalmente menor em função da característica bienal da cafeicultura brasileira, principalmente da variedade arábica. Ela também sofreu impactos do longo período de estiagem e das altas temperaturas registradas no último trimestre do ano passado e no começo deste ano, cenário que refletirá tanto na produção dos cafés convencionais, quanto na de especiais, que devem apresentar uma quebra de 20% a 30% frente a 2020. Já as exportações serão impactadas pelo menor volume colhido e também pelos gargalos logísticos, problema estrutural global que transcende a cafeicultura e o Brasil. Atualmente, há escassez de contêineres e navios para a exportação, o que vem atrasando as remessas ao exterior desde março deste ano,” apontou Vanusia.

Segundo a diretora da associação, o número de cafeicultores oscila ano a ano, já que não existem especificamente produtores de cafés especiais. Ela explica que esses grãos são produzidos, normalmente, por pessoas que também cultivam cafés convencionais.

“É possível projetar o volume colhido por origens cafeeiras, que está alinhado à proporção da produção cafeeira como um todo no Brasil. Assim, o sul de Minas é responsável por cerca de 25% do cultivo de cafés especiais no Brasil,” explicou.

Produtor está à frente da lavoura há 26 anos — Foto: Divulgação / Tribus Studio

Considerado praticamente um patrimônio brasileiro, o café é consumido por 95% da população, segundo a Associação Brasileira de Indústria de Café (ABIC). De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), o Brasil é o segundo maior consumidor mundial da bebida, representando 13% da demanda, ficando atrás somente dos EUA. Paixão para quem consome, mas também para quem produz.

“Produzir café especial é uma paixão, assim como é para o brasileiro que consome. Hoje tem aumentado muito a procura de cafés especiais aqui no Brasil, o brasileiro aprendeu a tomar esse café, a experimentar novos sabores, aprendeu muito a valorizar isso e ele não volta atrás. Então, é muito gratificante para nós ver aumentando esse consumo, valorizando nosso trabalho aqui no campo,” finalizou Álvaro.

Fonte: G1 Sul de Minas – Grão Sagrado (Por Tatiana Espósito)