‘Declaração de Londres’ mostra racha entre importadores e exportadores
A Colômbia, por exemplo, disse que vai discutir as propostas internamente. Ruanda reagiu dizendo que o documento apresentado não mostrou um sentido de “urgência” para a resolução dos problemas do setor, que enfrenta um longo período de preços em queda. “Quando voltarmos aos nossos países, precisaremos dar respostas de nossa parte, precisamos de soluções tangíveis”, disse o representante do país.
O Brasil também mostrou desconfiança. “O documento traz um mapa do caminho, mas não existe solução mágica para um problema de grande complexidade como este”, declarou o embaixador da Representação Permanente do Brasil junto a Organismos Internacionais (Rebraslon) em Londres, Hermano Telles Ribeiro, O desafio maior, segundo ele, recai sobre o grupo de países exportadores que está sendo penalizado. “Temos que olhar a declaração para ser examinada pelo conselho e considerar seu endosso por parte dos membros da OIC”, comentou.
No encontro de Londres, o primeiro a pedir a palavra foi o representante da Suíça, que apoiou a proposta, considerada vaga por vários participantes do I Forum de CEOs e Líderes Globais ouvidos pelo Broadcast. A Suíça tem participado intensivamente na OIC – há dois anos chegou a apresentar um candidato para comandar a organização, mas o brasileiro José Sette foi o vencedor.
O porta-voz da União Europeia (UE), que vota em bloco nas decisões da OIC, também foi favorável à iniciativa. “Temos que focar na sustentabilidade do setor e isso começará com a viabilidade econômica para os cafeicultores”, disse. Para ele, é preciso “mudar o paradigma” e incluir o custo da produção real no preço final do produto. “Acreditamos que o consumidor europeu aceitará essa mudança de paradigma”, previu. Também o México fez questão de deixar seu voto garantido: “Apoiamos a resolução de acordo”.
Para o embaixador Telles Ribeiro, no entanto, a Declaração de Londres exigirá que o setor privado, governos e a OIC se engajem em uma agenda única. “A sustentabilidade do setor passa pela questão do preço e pelo aumento sustentado do consumo”, argumentou. “Ao mesmo tempo, a OIC está fazendo uma reflexão estratégica: se vai persistir no acordo atual ou se vai se basear em uma negociação de um novo acordo. Estas duas ações (a do documento do setor privado e o futuro da OIC) têm que ser vistas como único pacote.” O representante do Quênia apoiou as palavras do Brasil.
O preço do café na Bolsa de Nova York tem sido negociado nos últimos meses na casa de US$ 0,89 por libra-peso, atingindo os menores níveis desde setembro de 2005, quando chegou a US$ 0,8815. O índice composto da OIC também vem registrando quedas sucessivas na última década, interrompidas por alguns momentos de retomada.Em agosto, o preço médio da commodity recuou 6,7% na comparação com julho, para 96,07 centavos de dólar por libra-peso.
Nas primeiras operações do ano, o preço do indicador composto diário cedeu para 99,16 centavos de dólar por libra-peso, mas chegou em 31 de janeiro a 103,58 centavos de dólar por libra-peso. Apesar da alta em relação a dezembro, a OIC identificou que o preço médio do mês passado é o menor para janeiro dos últimos cinco anos. No primeiro mês de 2014, o indicador composto estava em 110,75 centavos de dólar por libra-peso. “Os preços continuam sob pressão, com suprimento suficiente na safra 2018/19”, observou a entidade na ocasião.