Com alta de 64% em 2021, preço do café dispara em BH

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A disparada do preço do café tem assustado os brasileiros. Com base no IPC-10, calculado pelo FGV-Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), é possível atestar o que o consumidor encara no cotidiano: o café em pó subiu 49,92% no ano passado. Em Belo Horizonte, segundo o Ipead, instituto ligado à UFMG, o aumento foi ainda maior: 64% em 2021. O resultado: pacotes de 500gr de marcas populares já são encontrados por R$18 nos supermercados.

A explicação para a alta passa por dois principais fatores: clima e dólar, explica Matheus Peçanha, economista do FGV-Ibre. “Em 2021, a produção de café sofreu muito por duas vezes. Primeiro, tivemos uma forte seca, depois uma geada, o que impactou a safra”. Aliado aos fatores climáticos, a valorização do dólar perante o real fez o produtor, que já tinha uma safra reduzida, optar por exportar a maior parte do estoque que salvou.

O reflexo não poderia ser diferente, com o cafezinho chegando mais caro na xícara. O tradicional Café Palhares, no centro da capital mineira, por exemplo, segurou o aumento do cafezinho por dois anos. Mas a xícara, antes vendida por R$1,50, precisou ser atualizada para R$2. Segundo o herdeiro do ponto, André Palhares, R$0,50 está distante do reajuste de 50% que seu fornecedor aumentou ao longo do ano passado, mas repassar todo o aumento é inviável. “Com 84 anos de história, trocar a marca não é uma opção, o jeito é tirar na margem de lucro”, diz André.

A poucos metros, no Café Nice, na avenida Afonso Pena, o proprietário Renato Caldeira vive o mesmo dilema. Entre junho do ano passado e janeiro de 2022, seu fornecedor subiu o preço do produto quatro vezes, em média 10% a cada aumento, mas ele repassou apenas dois reajustes à clientela. “Reclamam muito, o povo não tem dinheiro, mas com 80 anos de história, tenho uma freguesia ativa que ameaça não voltar, mas depois volta ao normal”, relata.

Segundo o dono do Comercial Sabiá, tradicional ponto no Mercado Central, Pedro Moreira, as reclamações dos clientes são constantes, mas para manter a saúde do negócio não é possível se basear nas queixas. Em 2020, ele pagava R$400 em uma saca (60kg) de café, hoje, paga R$2.000 pela mesma quantidade, um aumento de 400%. “O que eu faço é equilibrar as compras entre os seis produtores que compro”, diz.

Mercado

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Archimedes Coli Neto, presidente do Centro do Comércio de Café do Estado de Minas Gerais (CCCMG) (Foto: Luiz Valeriano/Comunicação CCCMG), afirma que produtor que tinha estoque garantido se beneficiou com a valorização de 134% no valor de mercado do café, mas essa não foi a realidade de todos. “Grandes produtores faturaram muito, mas a maioria é de pequenos e médios cafeicultores e, como os insumos e o custo de produção também subiram muito, muitas famílias quebraram onde a geada foi mais severa, como no Sul de Minas e no Triângulo Mineiro”, afirma.

Em relação a 2022, Archimedes diz que o cenário é de incerteza. “O produtor está muito resistente, inseguro sobre o potencial da nova safra, prevista para maio, então, por enquanto, ele tem vendido só o necessário para fazer caixa. E o mercado internacional está estagnado, a tendência é que os preços se mantenham firmes diante de uma colheita menor”, avalia.

Matheus ainda ressalta que até as eleições em outubro pode afetar o cafezinho. “Em todos os anos eleitorais, o câmbio é uma incerteza que pode explodir no segundo semestre e alimentar a inflação na commodity”, afirma.

Fonte: Jornal Hoje Em Dia (Por Leíse Costa)