Café teve 2019 de recuperação ao final do ano

Imprimir
O mercado internacional de café teve um ano de 2019 de duas partes bem distintas. Até outubro, as cotações do grão, balizadas pela Bolsa de Nova York (ICE Futures US), foram pressionadas pelo sentimento de ampla oferta mundial. Mas, depois, a partir de meados de outubro, o mercado passou por uma brusca recuperação que trouxe um encerramento de ano com balanço positivo para o produtor.

Como destaca o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, a maior parte do tempo (até outubro) foi ruim para os produtores de café, com preços deprimidos, mas com alguns bons momentos. Ele lembra que no pico do inverno, quando houve o “medo” com as geadas, e algumas geadas efetivas, as cotações subiram nas bolsas e também no mercado brasileiro. E quando o dólar subiu bem também melhorou as bases de preços interna.

Nesta maior parte do tempo, o mercado internacional vinha pressionado pelas indicações de superávit na oferta mundial, com o Brasil vindo de uma safra recorde em 2018 e mantendo exportações históricas. A oferta tranquila para o abastecimento global pressionava sempre as cotações. Além disso, o mercado passou a olhar para 2020 e ver que o Brasil poderia chegar a uma nova safra recorde. Tudo ratificava um cenário cômodo para os compradores e as cotações eram pressionadas. NY então trabalhou abaixo da importante linha de US$ 1,00 a libra-peso em muitos momentos. Em maio, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais chegou a cair a R$ 370,00 a saca na base de compra.

Mas, depois, o “mercado mudou completamente”, como ressalta Barabach. A partir de meados de outubro, especialmente. O que era tranquilidade de abastecimento, virou preocupação com um novo pensamento dos agentes.

O consultor lembra que a safra brasileira de 2019 passou a ser revisada para baixo. E, como o Brasil manteve um forte fluxo nas exportações nos primeiros meses da nova temporada 2019/20 (julho/junho), o sentimento passou a ser de estoques muito baixos do Brasil ao final da temporada. Começou também a ocorrer um aperto na oferta de arábicas suaves de alta qualidade, como os colombianos e da América Central. Isso levou a uma maior compra de cafés certificados da Bolsa de NY, com estoques da bolsa passando a ter significativa queda. As exportações mundiais passaram a enfraquecer nos números da Organização Internacional do Café (OIC). E a safra brasileira de 2020 passou a ser olhada como uma safra que terá potencial um pouco menor do que se imaginava anteriormente (embora ainda possa ser recorde). O dólar em relação ao real também ficou mais baixo, dando sustentação à bolsa, conclui o consultor.

Assim, os preços em NY passaram a subir e avançaram de 97 centavos de dólar por libra-peso em meados de outubro para um teto alcançado de US$ 1,42 a libra-peso em 17 de dezembro. Ou seja, em dois meses, NY subiu mais de 46%. É bem verdade que a bolsa não se manteve nestes patamares, e apresentou uma correção técnica, estando agora abaixo de US$ 1,30. Porém, ainda sustenta ganhos muito significativos em relação ao “chão” que foi visto no ano.

E, no Brasil, as cotações acompanharam esse movimento, tanto que o arábica bebida boa no sul de Minas Gerais foi subindo e chegou a bater em R$ 565,00/570,00 a saca em 16 de dezembro. O preço agora recuou desse nível mais altos, mas o produtor ainda tem uma cotação expressivamente melhor do que a mínima do ano.

No balanço do ano, o café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) subiu de 101,85 ao final de 2018 para 127,30 centavos de dólar por libra-peso (fechamento de 26/12), acumulando assim valorização de 25,0%. Já o robusta na Bolsa de Londres caiu no mesmo comparativo de US$ 1.506 para US$ 1.350 a tonelada, baixa de 10,3%. Barabach comenta que, no caso do robusta (conilon), o preço caiu diante das indicações de melhor oferta de importantes origens, como é o caso do Vietnã. Tanto que a participação do robusta na produção mundial aumentou, enquanto a de arábica caiu.

O dólar comercial subiu em 2019, embora tenha perdido terreno ao final do ano. Até o dia 26 de dezembro, acumulou no ano uma elevação de 4,8%, subindo de R$ 3,877 para R$ 4,063 (fechamento desta quinta-feira, 26). Mas é bom lembrar que chegou a ter máxima no ano de R$ 4,277.

No mercado físico brasileiro de café, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais terminou esta quinta-feira em R$ 510,00 a saca na compra, contra R$ 410,00 a saca ao final de 2018. Ou seja, o ano de 2019 até aqui foi de alta acumulada de 24,4%. O conilon tipo 7, em Vitória/Espírito Santo, recuou no mesmo comparativo de R$ 300,00 (ao final de 2018) para R$ 295,00 a saca. Isso se explica em grande parte pelas perdas do robusta na Bolsa de Londres no acumulado do ano, mas também pelas relações internas de oferta e procura.

Avaliando essas duas partes bem distintas do ano no mercado, como ressalta o consultor de SAFRAS, o ano de 2019 foi em grande parte do tempo desfavorável ao produtor. Apenas metade de outubro, novembro e dezembro foram de reação de preços. Mas o sentimento é bem mais positivo para um mercado que na Bolsa de NY trabalhou abaixo de US$ 1,00 a libra-peso e agora está próximo de US$ 1,30 a libra-peso. Enquanto no Brasil a cotações do arábica bebida boa trabalha acima da marca importante de R$ 500,00 a saca.

Fonte: Agência SAFRAS (Por Lessandro Carvalho) via Revista Cafeicultura

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *