Boletim Carvalhaes: Produção mundial de café está abaixo do consumo global

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Boletim semanal Escritório Carvalhaes – ano 88 – n° 37
Santos, sexta-feira, 17 de setembro de 2021

O mercado de café apresentou uma semana calma, de poucos negócios, no Brasil e no exterior. Em nosso mercado físico, os compradores têm bastante interesse por todos os lotes de café que chegam ao mercado, mas a base de preços oferecida afugenta os vendedores. Para os arábicas, essas ofertas são sempre calculadas tendo como base as cotações dos contratos de café na ICE Futures US – em nossa opinião represadas pela ação dos operadores – e o valor de nossa moeda frente ao dólar.

Os cafeicultores brasileiros, com a quebra da produção deste ano e a certeza de que também terão uma quebra significativa na safra 2022/2023, veem seus custos de produção: fertilizantes, defensivos, combustíveis, energia elétrica, máquinas e equipamentos, tratores subindo forte, e a inflação crescendo, o que, provavelmente, levará a mais altas nos custos já elencados e na mão de obra. Continuam enfrentando as mudanças climáticas e sabem que não terão um clima regular, estabilizado, nos próximos anos. Fazem seus cálculos e concluem que, para seus negócios, o melhor é ficar com a produção estocada, aguardando preços que compensem todos os riscos e incertezas que estão enfrentando. Suas lavouras estão bastante desgastadas pela seca do segundo semestre do ano passado, pela seca deste ano, que ainda não vislumbram o final, pelas três frentes frias e geadas do último mês de julho, e pelas pragas, que aumentam rapidamente em seus cafeeiros. Nesse quadro vendem o mínimo necessário para fazer frente aos compromissos mais próximos.

A produção mundial está abaixo do consumo mundial. Os estoques brasileiros – o governamental e os privados de safras anteriores – zeraram. Os estoques nos países consumidores são baixos e todos os países produtores estão enfrentando problemas com as mudanças climáticas. Para piorar o quadro, tendo como pano de fundo a pandemia, o transporte marítimo se concentrou em poucas grandes corporações e os preços dos fretes dos contêineres explodiram. Conforme o destino, dobraram, triplicaram, quadruplicaram e até quintuplicaram de preço, trazendo um transtorno imenso ao comércio internacional. Os especialistas no setor informam que essa crise será longa.

Com toda a nossa longa experiência, desconhecemos outra crise como a atual no mercado mundial de café. Em nossa opinião, os preços continuarão firmes e não voltarão tão cedo aos patamares de um ano atrás. Se é que voltarão.

Para o mercado físico de café destravar, as cotações do arábica terão de se descolar dos preços na ICE em Nova Iorque, como já está acontecendo no mercado de conilon em relação aos preços na bolsa de Londres.

A partir deste fim de semana, as áreas de café arábica no Brasil passam por um novo período de calor intenso e tempo seco. As chuvas devem retornar a partir do dia 24, próxima sexta-feira, na última semana do mês, e deverão então começar a se tornar mais frequentes, aumentando aos poucos a umidade do solo. Quando o ciclo de chuvas se regularizar no sudeste brasileiro, poderemos ter um estancamento nas perdas, mas não uma recuperação no volume de produção de nossa próxima safra de café 2022. Na ICE Futures US, os contratos para dezembro próximo fecharam, hoje, com queda de 175 pontos, a US$ 1,8640 por libra peso. Ontem, subiram 80 pontos e, anteontem, 190 pontos. No balanço desta semana, recuaram 165 pontos. Na semana passada, esses contratos recuaram 495 pontos.

No mercado cambial brasileiro, o dólar continuou oscilando bastante. Fechou mais uma vez em alta nesta sexta-feira, de 0,40 %, a R$ 5,2860. Ontem, subiu 0,50%. A aversão ao risco no exterior e a alta nos impostos no Brasil, do IOF para bancar o lançamento do Auxílio Brasil, mantiveram a trajetória de alta do dólar frente ao real (fonte: Valor Econômico). Na semana passada, a moeda americana acumulou valorização de 1,59% e fechou a sexta-feira valendo R$ 5,2670.

Em reais por saca, os contratos de café para dezembro próximo na ICE em Nova Iorque fecharam, hoje, a R$ 1.303,37. Ontem, fecharam a R$ 1.310,38. Na sexta-feira passada, fecharam valendo R$ 1.310,18. Como já vem acontecendo nas últimas semanas, fecharam todos os dias ao redor de R$ 1.300 por saca, valor que, aparentemente, os operadores e seus programas estão tentando manter.

O mercado físico brasileiro permaneceu o mesmo: firme e comprador, mas praticamente sem vendedores. Hoje, os compradores mantiveram o valor de suas ofertas, mas nosso mercado físico fechou novamente praticamente travado. Não apareceram vendedores nas bases oferecidas pelos compradores. Os cafeicultores continuaram retraídos. O volume de lotes que chega ao mercado é baixo e preocupante para o mês de setembro. Os preços pagos pelas ligas de café arábica utilizadas no consumo interno brasileiro para elaboração da categoria de qualidade “Tradicional”, a mais consumida no Brasil, estão bem próximos dos valores ofertados para os arábicas mais preparados. Sempre é bom lembrar que o maior comprador dos cafés brasileiros é o Brasil, bem à frente dos EUA, nosso segundo maior cliente.

O preço da saca de café conilon, também muito utilizado em nosso consumo interno, atingiu hoje os R$ 750 para retirar. Em 11 de setembro de 2020, o preço do conilon na Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), em São Gabriel da Palha, no Espírito Santo, a maior cooperativa de café conilon do Brasil, com atuação no Espírito Santo e na Bahia, estava a R$ 380.

A “Green Coffee Association” divulgou que os estoques americanos de café verde totalizaram 6.130.484 em 31 de agosto de 2021, uma alta de 56.138 sacas em relação às 6.074.346 sacas existentes em 31 de julho de 2021.

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) informou que no último mês de agosto foram embarcadas 2.674.116 sacas de 60 kg de café, aproximadamente 25,18% (899.842 sacas) a menos do que no mesmo mês de 2020 e 6,7% (192.963 sacas) a menos do que no último mês de julho. Foram 2.108.186 sacas de café arábica e 228.460 sacas de café conilon, totalizando 2.336.646 sacas de café verde, que somadas a 333.644 sacas de solúvel e 3.826 sacas de torrado, totalizaram 2.674.116 sacas exportadas em agosto último.

Até dia 15, os embarques de setembro estavam em 979.685 sacas de café arábica, 131.186 sacas de café conilon, mais 117.478 sacas de café solúvel, totalizando 1.228.349 sacas embarcadas, contra 797.333 sacas no mesmo dia de agosto. Até o mesmo dia 15, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em setembro totalizavam 1.428.819 sacas, contra 1.226.608 sacas no mesmo dia do mês anterior.

Fonte: CaféPoint