ARTIGO: Para onde a biruta indicar

Imprimir
Por Marcelo Fraga Moreira*

A semana terminou praticamente onde começou, em centavos de dólar por libra-peso! Novamente tivemos uma amplitude acima dos 1.000 pontos (1.145 pontos). O Set-21 trabalhou entre a máxima (logo na terça-feira), a mínima (na sexta-feira), e o fechamento respectivamente @ 168,65/157,20/163,55 centavos de dólar por libra-peso! O Set-21 mais uma vez atingiu a nova máxima do ano mas ainda não conseguiu romper os 170 centavos de dólar por libra-peso!

Após abrir firme na terça-feira, chegando a trabalhar com +435 pontos, o mercado virou, chegou a cair -200 pontos e fechou @ 163,55 centavos de dólar por libra-peso (por coincidência o mesmo valor do fechamento da sexta-feira). Com essa “virada” do mercado o volume negociado chegou a +66,133 lotes (provavelmente stops foram acionados, tanto na ida quando na volta, quando a cotação rompeu a resistência dos 50 dias e quanto a cotação voltou a negociar abaixo desse mesmo indicador).

A amplitude do mercado (diferença entre cotação máxima e mínima negociada no dia), em todas as sessões da semana, foi superior a 500 pontos: 735 na terça-feira; 500 na quarta-feira; 580 na quinta-feira; e 675 na sexta-feira.

O volume também foi positivo negociando na média +54.593 lotes por dia (em todos os pregões desde o último dia 26 de maio – 7 pregões – o mercado negociou mais de 40.000 lotes por dia: +41.386 / +49.064 / +66.073 / +66.133 / +41.077 / +55.652 / +56.511 respectivamente. Esse volume refletiu na posição dos “fundos+specs” terminando o pregão da terça-feira (dia 01 de junho) comprados em +47,817 lotes (aumento de +6.348 lotes). Essa posição é calculada com base no período da “quarta-feira da semana corrente até a terça-feira da semana seguinte”. Dessa forma, acreditamos que os fundos já devam estar comprados próximos dos +50.000 lotes! Cuidado quando decidirem “virar a mão”!

O Real foi o destaque da semana! Após a divulgação do PIB brasileiro do primeiro trimestre de 2021 (indicando um crescimento de + 1,2% na comparação com os três meses imediatamente anteriores), e com as novas projeções da “relação dívida x PIB” ficar abaixo dos 90%, o Dólar derreteu e o Real valorizou +3,45% (fechando a semana @ 5,045 R$/US$)!

Com o Real mais forte muitos produtores voltaram a “reclamar” dos preços praticados no mercado interno. As ofertas de compra voltaram a trabalhar entre 780-870 R$/saca para entrega em agosto-21. Para entrega em agosto-22 os preços ficaram entre 840-910 R$/saca e para entrega em agosto-23 entre 880-970 R$/saca. Considerando o fechamento do Set-22 na sexta-feira @ 170,50 centavos de dólar por libra-peso, o Real com vencimento em agosto-22 @ 5,34 R$/US$ (considerando a correção do câmbio com base na taxa-selic em 5,75% ao ano) e um desconto para a compra do produto em -30 pontos contra a “tela”, os números fazem todo sentido!

Como sabemos (mas as vezes nos esquecemos) a formação do preço do produto está atrelado em 4 premissas básicas: cotação em NY, taxa de câmbio, qualidade/disponibilidade do produto e a “lei da oferta x demanda”. As demais variáveis, tais como: expectativa de crescimento no consumo; problemas logísticos e/ou climáticos; aumento dos custos de produção no Brasil e Vietnam (principais produtores globais) podem “fazer” preço no curto/médio prazo. Mas como sempre, gostando ou não, a “lei da oferta x demanda” sempre vai convergir para a realidade do mercado. E buscar o preço de equilíbrio entre a “oferta x demanda”.

O mercado e os fundos, estão de olho na direção da biruta! E ao mesmo tempo deixando os produtores “birutas” também! Dependendo das notícias, da “intensidade dos ventos”, a biruta está mudando de direção diariamente e os fundos estão acompanhando. E os produtores ficam rezando para os preços continuarem a subir! Produtores, fiquem atentos! Protejam-se fazendo o “hedge” para as safras 22/23 e 23/24 em diante! Em algum momento o mercado vai corrigir e convergir para os “custos de produção” dos maiores produtores do mundo, ou seja, do Brasil e do Vietnam!

Na semana o mercado continuou de olho no clima, buscando informações sobre as chuvas que caíram em algumas regiões produtoras no final da semana passada; nos boletins meteorológicos diários e nas “previsões para os próximos 15 dias” à procura de novas chuvas ou geadas; nos problemas logísticos na Colômbia; a cada novo relatório de estimativa de safra (esta semana tivemos novos dados do USDA, do Rabobank, e da Organização Mundial do Café – este reduzindo o superávit global de 3,3 milhões de sacas para 2,02 milhões de sacas e aumentando o consumo em 1,2 milhões de sacas, passando de 166,35 para 167,56 milhões de sacas); e das informações vindas do campo.

Com o clima seco e com as temperaturas amenas a safra 21/22 colhida já está próxima dos 20% (segundo a agência “Safras e Mercado”). Os compradores estão aguardando uma pressão de venda dos produtores e os produtores estão apenas entregando os contratos já firmados e aguardando para ver se vão ter café para realizar novas vendas. Já existem torrefadoras com problemas de estoque e trabalhando “da mão pra boca”…

Nesta semana, como esperado, já começaram os repasses dos aumentos dos custos para os clientes/consumidores. A empresa Três Corações (maior torrefadora de café do Brasil) anunciou aumento nos seus preços entre 6-12%. Em alguns supermercados o aumento do pacote das cápsulas com 10 unidades (padrão Nespresso/Starbucks) já subiram entre 10-20%. Os supermercados já estão repondo estoques com as novas tabelas de preço. Será que mesmo com todo esse repasse de preços o consumo no Brasil vai ficar estável/crescer?

Seguimos altistas no curto prazo de olho na falta de chuvas e no risco das geadas. A quebra da safra 21/22 já está precificada – mas eventual quebra em função das geadas não! E a safra 22/23? Se as chuvas não vieram no momento certo a próxima florada poderá não vingar, então a biruta vai ficar biruta mesmo!!

Para o Set-21 suportes @ 156,30 / 153,00 / 143,90 e 138,60 centavos de dólar por libra-peso e resistências @ 166,50 / 168,65 / 170,00 centavos de dólar por libra-peso.

Para o Set-22 suportes @ 166,60 / 163,00 e 150,00 centavos de dólar por libra-peso e resistências @ 174,70 / 180,00 centavos de dólar por libra-peso.

Para safra 22/23 seguimos sugerindo a compra da “Put-Spread” strike +170 /-130 vendendo a “Call” strike -190. Desta forma o produtor garante um preço mínimo ao redor dos 980 R$/saca e um preço máximo ao redor dos 1,130 R$/saca (desde que o mercado feche acima dos 130 centavos de dólar por libra-peso e acima dos 190 centavos de dólar por libra-peso).

Como sempre, sejam prudentes! Protejam-se! Evitem ao máximo as operações alavancadas, os famosos acumuladores, as operações com “Knock-in / Knock-out”!

Aproveitem as oportunidades! MUITO CUIDADO: o inverno e os riscos das geadas estão começando!

OBS: Invistam 2-4 sacas de café nos nossos dois já consagrados Cursos: o Essencial de Futuros em Commodities Agrícolas (de 16 a 20 de agosto) e o Avançado de Opções em Commodities Agrícolas (de 20 a 24 de setembro).
Não percam. Inscrições já estão abertas!

Depois só em 2022!!

Detalhes no nosso site archerconsulting.com.br

Ótima semana a todos!

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda