ARTIGO: Os fantasmas da recessão e da inflação assombram os mercados

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Por Marcelo Fraga Moreira*

A semana começou com os mercados aguardando a ata da última reunião do FED* (divulgada na quarta-feira). A ata do FED* “reitera a preocupação dos diretores em relação à inflação, mas não adiciona nenhum detalhe crucial às projeções para a política monetária. A preocupação em relação à recessão global devido a uma política monetária cada vez mais dura contra a inflação tem sido o principal sentimento que ronda os mercados globais atualmente”.

O medo da recessão refletiu nos preços do petróleo (o petróleo tipo “brent” chegou a cair -13,60% mas conseguiu recuperar +8,63% – após negociar @ 98,50 US$/barril – e terminou a semana @ 107,15 US$/barril). Novamente os “analistas de plantão” estimaram preços para o petróleo entre o pequeno “intervalo” +65/+320 US$/barril nos próximos 12-18 meses! Assim fica fácil!

O risco para novos aumentos nos juros americanos + inflação em alta com risco de recessão na Europa + o governo brasileiro tentando se reeleger a qualquer custo (colocando em risco a política fiscal) fez o R$ chegar a desvalorizar -2,80% (voltou a negociar @ 5,45 R$/US$). Na sexta-feira a moeda brasileira valorizou fechando a semana @ 5,27 R$/US$.

O Set-22 chegou a cair -4,25% (máxima/mínima/fechamento respectivamente @ 225,90 / 215,10 / 220,45 centavos de dólar por libra-peso) e terminou a semana caindo apenas -1,87%. Em R$/saca os preços praticados no mercado interno continuam negociando entre +1.350/+1.450 R$/saca dependendo da qualidade / local de entrega do produto.

Com os vasos comunicantes voltando a funcionar (R$ x cotação em NY x oferta/demanda) Nova Iorque não aguentou e o Set-22 chegou a cair -955 pontos. O volume diário negociado foi baixo, ao redor dos +25.000 lotes/dia (mesmo com o mercado negociando abaixo da média móvel dos 200 dias @ 224,80 centavos de dólar por libra-peso). Pelo visto os fundos + especuladores não estão com coragem para ficarem vendidos nesse momento. Pelo contrário. Segundo os últimos números do CFTC* os fundos + especuladores voltaram às compras e estão comprados em +26.129 lotes (compraram +4.195 lotes).

O Set-22 agora encontra grande resistência @ +223/+225 centavos de dólar por libra-peso e suporte @ +215 / +207 centavos de dólar por libra-peso.

Noticias dos produtores e cooperativas continuam chegando no mercado confirmando quebra na safra 22/23. Segundo o maior produtor brasileiro (Sr. Antonio Francisquini  com cerca de 16.000 hectares plantados) a quebra nas suas lavouras deverá ser superior a -70%! Com uma expectativa inicial para colher na safra 22/23 aproximadamente +800.000 sacas agora estima colher entre +180/+200.000 sacas de café – no máximo!

Na sua fazenda Romaria, com 2.300 hectares, sua expectativa para esse ano será colher apenas +20.000 sacas x +100.000 sacas na safra anterior!

Algumas lavouras com pouca produtividade (entre +3/+5 sacas por hectare) nem sequer serão colhidas pois o risco em estragar as lavouras prejudicando eventual recuperação para a safra 23/24 são muito grandes.

Até o dia 01 de julho de 2021 esse produtor já havia beneficiado aproximadamente +50.000 sacas de café. Nessa safra, no mesmo período, beneficiou apenas +2.000 sacas de café! Então, a safra está “atrasada” ou “não tem café”?

Grandes cooperativas também não estão recebendo parte dos seus contratos existentes e estão tendo que sair a mercado para originar produto e poder honrar com seus compromissos! Produtores seguem relatando quebras nas suas lavouras, muitas cooperativas com armazéns vazios e sem filas de caminhões para descarregar. Então, a safra está “atrasada” ou “não tem café”?

Segundo o sr. Francisquini “não tem café”! Vamos acreditar no sr. Francisquini ou na Conab* ou nos outros “grandes especialistas”?

Mais uma semana com a Conab* omissa sem divulgar os estoques de passagem da safra 20/21 para a safra 21/22 e o estoque de passagem da safra 21/22 para a safra 22/23.

A Cecafé deverá publicar na próxima semana o fechamento das exportações do mês de junho-22 e do ano safra julho-21/junho-22. Na primeira semana de julho-22 o Brasil já havia solicitado autorização para embarques para aproximadamente +580.000 sacas e já embarcado +267.000 sacas. Em julho-21 o Brasil exportou +2,90 milhões de sacas! Como será julho-22??

Os estoques certificados voltaram a cair e terminaram a semana com apenas +789.981 sacas! Esse “estoque” nunca foi tão acompanhado diariamente pelo mercado desse jeito! Seguimos apostando no “squeeze” contra a tela de Dez-22 ou Março-23!

Café da América Central / Colômbia estão sendo negociados a NY + 40/60 pontos sobre NY!

Por que o Brasil segue negociando @ -20/-30 pontos? Os compradores vão alegar “custos logísticos”… Porém, a escassez do produto brasileiro poderá fazer o mesmo se valorizar em breve!

Pelo andar da colheita o “basis”/desconto praticado contra os vencimentos dos contratos em NY contra os produtores brasileiros poderá voltar a ficar positivo! Os produtores brasileiros deveriam se unir e não aceitar vender seu produto com “desconto” sobre NY. Dependendo da qualidade do produto (por exemplo o café tipo cereja descascado) deveriam exigir prêmio sobre NY!

Hoje o café tipo arábica negociado com base a NY “flat” contra o Set-22 equivale @ 1.570 R$/saca. Contra o Set-23 equivale @ 1.640 R$/saca. Mercado atual tentando comprar pagando -200/-250 R$/saca…

Esse mesmo café com +30 pontos de prêmio contra as mesmas telas representam 1.785 R$/saca e aproximadamente 1.870 R$/saca!

 

 

 

Seguimos a mesma recomendação da semana passada:

– Para produtores com vendas/travas entre +250/+400 R$/saca para café robusta e entre +500/+800 R$/saca para café tipo arábica para as safras 22/23 e 23/24 esse mercado pode estar dando uma oportunidade para a recompra da posição e renegociação da entrega dos contratos com suas contra-partes! Procurem realizar “wash-out” ou comprar proteção utilizando as opções de compra “call*” ou as estruturas “call-spreads”. Se a safra brasileira realmente vier entre +48/+55 milhões de sacas o mercado vai “andar”!

Para a indústria nossa sugestão comprar proteção contra alta nos preços, comprando estruturas “Call-Spread*” contra a tela Dez-22 e Julho-23.

Acreditamos que os fundamentos seguem positivos.

 

É com grande entusiasmo que gostaríamos de comunicar a todos a formação da ARCHER EDUCATION, uma empresa focada na educação de profissionais do agronegócio objetivando suprir uma enorme demanda por conhecimento e especialização nas mais diversas áreas do agro. Nossos principais focos são competitividade e eficiência. Cursos, palestras, workshops e seminários farão parte do escopo da nova empresa cobrindo o mercado de energia, grãos e café, contratos e títulos do agronegócio, contabilidade de hedge, hedge para empresas, estruturas de crédito privado, seguros rurais, derivativos em commodities, meio-ambiente, gestão de riscos, valuation, provisões e passivos contingentes, entre outros temas de enorme interesse do universo agro. Fazem parte da Diretoria Executiva da empresa, Luiz Carlos Corrêa Carvalho (ABAG), Luiz Cláudio Caffagni (Sombrero Seguros), Tarcilo Rodrigues (BioAgência) e Arnaldo Luiz Corrêa (Archer Consulting), além de um time de craques em suas respectivas áreas.

 

 

Ótima semana a todos!

 

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “FAS” = Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA*
** “OIC” = Organização Internacional do Café
** “GCA” = Green Coffee Association
** “ABIC” = Associação Brasileira da Indústria de Café
** “Sincal” = Associação dos Produtores do Brasil
** “Pib” = Produto Interno Bruto
** “FED” = Banco Central Americano
** “OPEP” = A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
** “COOXUPÉ” = Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé
** “COPOM” = Comitê de Política Monetária, é um órgão do Banco Central. Ele foi criado em 1996 com o objetivo de traçar e acompanhar a política monetária do país. Esse é o órgão responsável pelo estabelecimento de diretrizes a respeito da taxa de juros

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda