ARTIGO: Novamente, um olho no peixe e o outro no gato!

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Por Marcelo Fraga Moreira*

Mais uma semana com o mercado realizando e consolidando. Após o Set-21 atingir a máxima do ano @ 157,30 centavos de dólar por libra-peso (no dia 06 de Maio) nos últimos 7 pregões o mercado oscilou -1.045 pontos. O Set-21 encerrou a semana @ 146,95 centavos de dólar por libra-peso. A máxima da semana foi atingida logo na segunda-feira @ 155,30 centavos de dólar por libra-peso e a mínima na quinta-feira @ 145,80 centavos de dólar por libra-peso. A média diária negociada ficou em +35,168 lotes.

Com o início das operações da colheita da safra 21/22 no Brasil as notícias altistas continuaram (e vão continuar) surgindo a cada novo dia. Produtores seguem reportando e confirmando problemas já esperados: queda na produtividade e na qualidade dos grãos (as fases da granação e enchimento dos grãos foram muito afetados pela falta das chuvas). Muitos produtores estão preocupados e aguardando para saber se vão conseguir entregar o café na qualidade vendida. Produtores já começam a ficar preocupados com os efeitos do “menor nível de chuvas em 91 anos” (matéria publicada no portal G1, no link https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/05/14/menor-nivel-de-chuvas-em-91-anos-obriga-governo-a-preparar-plano-para-evitar-falta-de-energia.ghtml). Haverá restrições para uso de irrigação? Quais medidas serão tomadas pelo governo brasileiro para mitigar esse risco?

Alguns analistas estimam que o produtor já vendeu 93% da safra 20/21 e que continua com disponibilidade para realizar novas vendas e seguir abastecendo tanto o mercado interno quanto o externo até final de junho. Será?
A famosa “pergunta do milhão de dólares”: 93% sobre qual produção (uma vez que tivemos vários números da safra 20/21 estimados pela Conab, IBGE, bancos e corretoras entre 63-73 milhões de sacas)? Qual foi o tamanho real da safra 20/21 e qual será o real estoque de passagem? Esse café existe mesmo?

O IBGE** voltou a confirmar a expectativa para a safra 21/22 ao redor dos 46.7 milhões de sacas. E esse número continua variando entre 46,7-59 milhões de sacas! Esses números não estavam considerando os problemas com a qualidade/tamanho dos grãos! Essas notícias desencontradas seguem sustentando as cotações.

Os fundos continuam com o “controle remoto” em suas mãos, negociando com “um olho no peixe e o outro olho no gato”!

Mesmo com o grande volume negociado nos últimos 3 pregões da semana passada (média +57.185 lotes/dia quando o mercado deu “aquela disparada” e subiu +1.310 pontos) o último relatório do CFTC* indicou um aumento na posição dos “fundos+especuladores” em apenas +896 lotes para uma posição comprada em +41.185 lotes. Apesar desse número ter nos decepcionado, esse dado pode ser positivo pois indica que os fundos ainda tem espaço para comprar e superar +50.000 lotes no curto prazo.

A semana também deixou claro que no cenário atual o mercado não precisa de muitos lotes negociados em “um dia” para oscilar -500/+500 pontos.

Na segunda-feira, foram negociados “apenas” +32.236 lotes e o mercado caiu -520 pontos. Na terça-feira com “apenas” +31.287 lotes o mercado subiu +235 pontos. Já na quarta-feira (quando todos os mercados ao redor do mundo caíram após a publicação dos dados americanos sugerindo um aumento na inflação e a necessidade do Banco Central Americano ser obrigado a aumentar os juros) com “apenas” +40.671 lotes o mercado voltou a cair -355 pontos. Na quinta-feira oscilou +400 pontos, negociando “apenas” +36.264 pontos, e fechou com alta de +25 pontos. E, finalmente na sexta-feira com “apenas” +35.381 lotes o mercado oscilou -300 pontos e fechou com uma queda de -150 pontos.

Os dados acima podem ser considerados “irrelevantes”, mas demonstram como o mercado está sensível e arriscado! Num piscar de olhos os preços podem subir novamente +500/+1.000/+1.500 pontos ou “derreter” ainda mais rápido, caindo -1.000/-2.000 pontos.

A volatilidade é o nome do jogo para os grandes fundos e especuladores. Sem volatilidade não se ganha e não se perde dinheiro! Existem vários ditados como “tudo o que sobe desce”, “tudo o que desce sobe”, “mercado não sobe em linha reta”, “mercado não cai em linha reta” dentre outros…

Na semana passada o indicador Estocástico voltou a negociar acima dos 93% e isso voltou a ligar o “sinal vermelho” para uma realização de curto prazo. Com a queda durante a semana o mesmo indicador terminou a sexta-feira ao redor dos 34,5%. Nos últimos 15 dias o mercado subiu + 1.580 pontos e caiu – 1.060 pontos!

Acreditamos que o mercado estará atingindo os níveis “sobre-vendido” em breve. Os próximos suportes no Set-21 estão respectivamente @ 146,40 / 144,20 / 137,70 e 133,90 centavos de dólar por libra-peso. As resistências estão respectivamente @ 153,40 e 157,30 centavos de dólar por libra-peso.

O mercado segue monitorando o ritmo e os eventuais impactos com os problemas logísticos do Brasil (aumento nos custos logísticos, a falta de containers e espaço nos navios), a situação logística na Colômbia, os embarques do Vietnam, África, América Central; as condições climáticas nos principais países produtores, e principalmente as expectativas quanto a reabertura das economias no hemisfério norte para o próximo período do verão e em breve a chegada do outono/inverno americano/europeu.

Por enquanto a dúvida, a grande aposta, não é se vai faltar café para abastecer o consumo, a demanda reprimida, mas quando! Os spreads já começam a refletir esse cenário com o spread Março-22 x Set-22 trabalhando com apenas +155 pontos! O spread Julho-22 x Set-22 com apenas +30 pontos (esse spread já chegou a trabalhar negativo na semana passada).

O produtor brasileiro viu os preços recuarem na semana entre -100/-150 R$/saca (saindo dos 900/850 R$/saca para 800/750 R$/saca). Essa queda nos preços foi basicamente o resultado da queda nas cotações na bolsa de Nova Iorque e pela valorização do Real (na semana o Real chegou a negociar abaixo dos 5,20 R$/US$ e fechou @ 5,27 R$/US$). Já tem produtor com saudades quando o Real estava negociando a 5,80 R$/US$!

Seguimos construtivos para o curto prazo. Qualquer risco de geadas nos próximos 30-45 dias poderá fazer os fundos entrarem “pesado” no mercado e ativar novos “stops”. Se o mercado continuar oscilando +/- 500/1.000 pontos por dia poderemos ver a bolsa de Nova Iorque aumentar o valor da “chamada de margem inicial” por contrato forçando, tanto os comprados quanto os vendidos a ajustarem as posições.

Nossa preocupação no médio prazo continua sendo o mercado corrigir de forma rápida e o Set-22/Dez-22 voltarem para o patamar dos 120/110 centavos de dólar por libra-peso (resultando em preços para o produtor brasileiro entre 630-560 R$/saca).

Nossa recomendação para produtores, para a safra 22/23 e 23/24 continua sendo a a mesma da semana passada:
– Para safra 22/23 e 23/24 – aproveitem esse movimento de alta para já irem vendendo A FIXAR, garantindo o preço mínimo atual ao redor dos 850/950 R$/saca para o café tipo arábica e garantindo o preço mínimo ao redor dos 400/450 R$/saca para o café tipo robusta.

Procurem negociar com as cooperativas e tradings para realizar as vendas DOLARIZADAS, em Dólar/saca!

Acreditamos que chegou a hora para os produtores e cooperativas/tradings quebrarem os paradigmas de anos de comercialização “com travas fixas” e começarem a negociar com “travas a fixar, negócios longos em US$/Saca”. Os produtores precisam começar a entender e a trabalhar com as ferramentas de seguro existentes no mercado. A comprar “seguro” contra a baixa (as “Puts”, as “Put-Spreads”) e a realizar o “seguro” contra altas e eventuais quebras (através da compra das opções de compra “Calls” e/ou “Call-Spreads”).

Para o Set-22 fiquem atentos na compra do “Put-Spread” +140/-115 vendendo a “Call-Spread” -175/+200 com custo ao redor de 32 R$/saca (4,50 centavos de dólar por libra-peso com base no fechamento da sexta-feira). Essa estrutura garante ao produtor um preço entre 738-1,016 R$/saca (já descontando aqui o custo da compra da estrutura) e desde que o Set-22 feche acima dos 115 centavos de dólar por libra-peso e abaixo dos 175 centavos de dólar por libra-peso. Se o mercado negociar e fechar acima dos 175 centavos de dólar por libra peso e fechar acima dos 200 centavos de dólar por libra-peso o produtor estará em posição para participar da alta do mercado acima dos 200 centavos de dólar por libra-peso!

Como sempre, sejam prudentes! Protejam-se! Aproveitem as oportunidades! E cuidado: o inverno e os riscos das geadas ainda não começaram!

Ótima semana a todos!

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda