ARTIGO: A importância do hedge

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Por Marcelo Fraga Moreira*

Uma semana para abrir os olhos dos produtores! Em apenas 5 dias o Set-22 chegou a cair -2.505 pontos (aproximadamente -11,55%)! Novamente os dados americanos e chineses referentes as expectativas da inflação e contração do pib* das duas principais economias do mundo derrubaram os mercados.

O mercado de café caiu quase -1.500 pontos nos 2 primeiros dias da semana e estabilizou na quarta-feira fechando @ 207,35 centavos de dólar por libra-peso. Praticamente “em cima” do importante suporte da média móvel dos 50 dias do indicador “Banda de Bollinger”. Na quinta-feira, com a divulgação dos dados da inflação americana acima das estimativas do mercado (+9,1% nos últimos 12 meses e o patamar mais elevado dos últimos 20 anos), o FED* sinalizou que poderá aumentar os juros na sua próxima reunião entre 0,75-1,00 pontos! Com essa sinalização o Set-22 seguiu em queda livre voltando a cair -1.235 pontos e voltando a negociar abaixo dos 200,00 centavos de dólar por libra-peso.

Os fundos + especuladores voltaram a liquidar suas posições rompendo esse importante suporte ao redor dos 205,00/203,00 centavos de dólar por libra-peso. Segundo a última publicação do CFTC* os fundos + especuladores venderam -8.074 lotes e terminaram o período ainda comprados em +18.055 lotes. Como o mercado continuou caindo nos 3 dias seguintes (com o volume médio diário negociado ao redor dos +40.000 lotes) na publicação da próxima semana acredito que a posição dos fundos + especuladores poderá estar abaixo dos +10.000 lotes! Vamos ver como será a movimentação do mercado nos 2 primeiros pregões da próxima semana!

O Set-22 agora encontra importantes resistências @ 201,80 / 209,20 / 215,00 e 222-225,00 centavos de dólar por libra-peso. Suportes “lá embaixo”, ao redor dos 192 / 185 e 167 centavos de dólar por libra-peso. Será que o “gap” ainda em aberto desde 20 de julho de 2021 vai fechar??

Do lado fundamental seguimos positivos, acreditando que o Brasil vai ter uma safra 22/23 abaixo dos +50,00 milhões de sacas e um consumo interno ao redor dos +19,00 milhões de sacas. Considerando um estoque de passagem “estável” da safra 21/22 para a safra 22/23 e da safra 22/23 para a safra 23/24 ao redor dos +3,50 milhões de sacas , então o Brasil poderá exportar no próximo período (julho-22 / junho-23) apenas +30/32,00 milhões de sacas.

A Cecafé* publicou o fechamento das exportações do mês de junho-22 e da safra julho-21/junho-22. Em junho-22 o Brasil voltou a surpreender e exportou +3.144.334 sacas. No período julho-21 / junho-22 exportou +39.200.000 sacas! Dessa forma, novamente, os números da Conab* e/ou dados do consumo interno brasileiro precisam ser ajustados! Caso contrário o “milagre” da multiplicação dos estoques/safra brasileira precisa ser explicado! Como explicar um “estoque de passagem negativo” em aproximadamente -9,20 milhões de sacas?  Será que uma das explicações está no parágrafo abaixo?

Um ponto “polêmico” ainda não abordado nesse comentário semanal e creio ser importante trazer para discussão é a quantidade de palha/resíduos/”lixo” utilizado na indústria brasileira. Segundo a Abic* o consumo brasileiro está ao redor dos 22.000.000 de sacas! Já questionamos esse número e, com base no consumo americano estimado em aproximadamente +26.000.000 sacas então por regra de três simples o consumo brasileiro deveria ser ao redor dos +17.000.000 sacas.

Será que o consumo das +22.000.000 sacas esta considerando o café em grão misturado/diluído com “palha/resíduos/lixo”. Considerando uma mistura com 75% café robusta/arábica e 25% desses “resíduos/palha/lixo” então o consumo real de café em grãos cai para +16.500.000 milhões de sacas e aproximadamente +5.500.000 sacas equivalentes em “resíduos/palha/lixo”!

Dessa forma, os números já começam a fazer mais sentido, ajustando a produção da Conab*, o consumo com base na Abic*, e os números de exportação com base na Cecafé*. Dessa forma, a produção brasileira da safra 21/22 deve ter sido ao redor dos +54.500.000 sacas, com um consumo interno de CAFÉ Grão ao redor dos -16.500.000 sacas, um consumo de “palha/resíduo/lixo” ao redor de +5.500.000 sacas equivalente, permitindo então o Brasil ter exportado as +39.201.000 sacas (segundo a Cecafé*) e terminado a safra 21/22 para a safra 22/23 com um estoque de passagem “mínimo” ao redor dos +3.200.000 sacas!

De volta ao mercado, entre os dias 02-24 de fevereiro de 2022 e entre os dias 01-30 de junho de 2022 o “mercado” deu oportunidade para o produtor realizar operações de hedge com o Set-22 negociando acima dos +250,00 e acima dos +235,00 centavos de dólar por libra-peso!

Lembrando: no dia 09 de fevereiro de 2022 o Set-22 negociou na máxima do ano @ 256,40 centavos de dólar por libra-peso e o R$ entre 5,25/5,29 R$/US$.  Essa combinação deu oportunidade para o produtor realizar hedge do seu produto entre +1.650/+1.750 R$/saca para vender/entregar seu café entre julho-agosto-setembro de 2022.

Durante o mês de junho-22, com o mercado negociando praticamente durante o mês inteiro acima dos +235 centavos de dólar por libra-peso o produtor poderia ter realizado hedge do seu produto entre +1.450/+1.550 R$/saca para vender/entregar seu café entre julho-agosto-setembro de 2022.

Agora, com o mercado negociando @ +195 centavos de dólar por libra-peso e com o R$ ao redor dos 5,40 R$/US$, os preços voltaram para o intervalo entre +1.180/+1.250 R$/saca! Ou seja, o produtor atento, que fez o hedge da sua safra, está vendendo/entregando o hoje o seu café entre +300/+500 R$/saca melhor do que o mercado!

Para a próxima safra, contra o Set-23 o produtor atento teve a oportunidade para fixar seu café para entregar entre julho/agosto/setembro-23 entre +1.700/+1.850 R$/saca com o mercado pagando agora apenas +1.200/+1.250 R$/saca!

Apesar de continuar “altista” para o médio prazo, sempre estamos recomendando ao produtor a se profissionalizar, estudar e aprender a utilizar as ferramentas disponíveis no mercado para a proteção da sua safra. Temos notado que o produtor sabe muito bem cuidar da sua lavoura, produzir, colher. Mas infelizmente ainda precisam aprender com urgência a utilizar e a operar o mercado tirando proveito/proteção das ferramentas de hedge existentes e das oportunidades que o “mercado” oferece.

Como vimos, “o mercado é soberano”. Fatos “do nada” acontecem… (por exemplo Covid-19; fechamento do canal de Suez com o navio Ever Given em março de 2021; a guerra da Rússia x Ucrânia; a explosão nos preços dos fertilizantes e do petróleo; risco recessão / inflação em todos os países do mundo). E você produtor, precisa estar preparado e “aproveitar” as oportunidades para maximizar seu retorno e diminuir seu risco!

Acreditamos que os fundamentos seguem positivos para o médio / longo prazo.

 

Ótima semana a todos!

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

** “Call” = opção de Compra

** “Put” = opção de Venda

** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;

** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil

** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos

** “FAS” = Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA*

** “OIC” = Organização Internacional do Café

** “GCA” = Green Coffee Association

** “ABIC” = Associação Brasileira da Indústria de Café

** “Sincal” = Associação dos Produtores do Brasil

** “Pib” = Produto Interno Bruto

** “FED” = Banco Central Americano

** “OPEP” = A Organização dos Países Exportadores de Petróleo

** “COOXUPÉ” = Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé

** “PIB” = Produto interno Bruto de um país

** “COPOM” = Comitê de Política Monetária, é um órgão do Banco Central. Ele foi criado em 1996 com o objetivo de traçar e acompanhar a política monetária do país. Esse é o órgão responsável pelo estabelecimento de diretrizes a respeito da taxa de juros

** “Bandas de bollinger” = do inglês bollinger bands, é um indicador de volatilidade bastante utilizado para prever se um ativo está sobre-comprado, estável ou sobre-vendido. Ele é formado por duas médias móveis, uma superior e outra inferior que indicam tal informação. São alguns atributos desse indicador:

  • Antever os níveis de preço de um ativo
  • Antecipar topos e fundos de preço no gráfico
  • Mostrar a intensidade de valorização ou desvalorização de um ativo

Portanto, este indicador tenta mostrar se uma ação está barata ou cara, em um determinado período de tempo.

Desse modo, ele é indicado para operações de curto prazo, day trade ou swing trade.

O autor da técnica é o americano John Bollinger (nascido em 1950), analista financeiro e colaborador da área de análise técnica. John lançou o seu livro Bollinger on Bollinger Bands em 2001, mas essa técnica começou a ser desenvolvida por ele ainda na década de 1980. As bandas são derivadas das médias móveis e mostram que, independente de qualquer movimento que o preço faça, ele tende a voltar a um equilíbrio. Portanto, temos aí um “estreitamento das bandas” no gráfico de candlestick.

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda