ARTIGO: 3, 2, 1… O céu será o limite?

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Por Marcelo Fraga Moreira*

O mercado trabalhou a semana com uma amplitude de +1.185 pontos. O Set-21 oscilou entre a mínima/máxima/fechamento respectivamente @ 150,10 / 161,95 / 161,25 centavos de dólar por libra-peso. No período o café valorizou +6,43% e o Real valorizou +3,21% (fechando a semana @ 5,11 R$/US$).

Notícias positivas começaram a surgir logo na segunda-feira. O presidente da cooperativa Minasul, Sr. José Marcos Magalhães, já está prevendo uma quebra para a safra 22/23 entre 10-15% em função dos problemas hídricos. Segundo a matéria publicada no Wall Street Journal “A estiagem afetou negativamente o crescimento dos ramos neste ano, o que significará menos café do que seria normal no próximo ano”. Essa quebra estimada está sendo considerada com base em qual ano-safra e com base em qual produção? Se for com base na safra 20/21 (produção estimada em 70 milhões de sacas – segundo o USDA*) o Brasil deverá voltar a produzir algo entre 60-63 milhões de sacas. Se for com base na safra 21/22 (produção estimada em 47 milhões de sacas – segundo a CONAB*) então o Brasil deverá produzir algo entre 40-42,3 milhões de sacas.

Estimando um aumento no consumo ao redor dos 2pct ao ano, passando dos 165 para 168,3 milhões de sacas (segundo projeção do USDA*), o mundo continuará com um déficit entre oferta x demanda também na safra 22/23. Os estoques disponíveis deverão continuar a ser consumidos levando o índice de segurança utilizado pelo mercado “Estoque x Consumo” abaixo dos 20%! (saindo de +39 milhões de sacas para +32 milhões de sacas ao final da safra 21/22 – também segundo o USDA*).

Ora, se a safra 21/22 brasileira for ao redor dos 45 milhões de sacas x 56,3 milhões de sacas segundo o USDA* (-11,3 milhões de sacas abaixo da projeção do USDA*) então o estoque de passagem mundial final sofrerá novo ajuste e ficará abaixo dos 21 milhões de sacas (+32-11,3 = +20,71 milhões de sacas) Nesse caso, o índice “Estoque x Consumo” ficará abaixo dos 15%! Uau!!

Na terça-feira a Cecafé publicou os números de exportação para o ano safra 20/21 (julho-2020 a junho-2021). O Brasil exportou no período 45,6 milhões de sacas! Aumento de +13% referente a safra 19/20! O café brasileiro já abastece 115 países (inclusive países produtores que utilizam o café brasileiro para realizar seus blends e reexportar seus produtos para os principais mercados consumidores). Entre os “top-10” destinos estão a Colômbia e México. Ainda entre os países produtores/exportadores aparecem o Equador, República Dominicana, e Vietnam!
Desse total, 36 milhões de sacas foram do café arábica (representando 81% do total exportado), 4,8 milhões de sacas do café robusta (representando 10% do total exportado), e o saldo, 4,8 milhões de sacas equivalente em café solúvel e café tipo “torrado e moído”.

Nos 2 últimos dias da semana, o mercado começou a monitorar uma nova massa polar com previsão para atingir algumas regiões produtoras entre os próximos dias 19-21 de Julho.

Fazendo novo exercício e considerando uma safra 21/22 em 47 milhões de sacas (segundo a CONAB), um estoque de passagem da safra 20/21 em 4 milhões de sacas (segundo o USDA*), um consumo interno ao redor dos 21 milhões de sacas (segundo a ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café), e deixando um estoque de passagem para a safra 22/23 em apenas 2 milhões de sacas, então o Brasil terá café disponível para exportação na safra 21/22 para apenas 28 milhões de sacas! Uma redução de -38,60% ou -17,6 milhões de sacas! Qual país/países no mundo poderá/poderão suprir esse déficit?

Considerando uma safra ainda menor, ao redor dos 43 milhões de sacas (segundo levantamento junto as nossas fontes), esse déficit poderá ultrapassar os -20 milhões de sacas!

Realizando uma nova simulação, ainda mais pessimista, considerando que já foi colhido aproximadamente 60% da colheita do café arábica e 90% do café robusta, e considerando uma nova massa polar/geada atingindo e estragando apenas 20% do café ainda a ser colhido na próxima semana, então teremos ainda uma quebra potencial em aproximadamente -2.4 milhões de sacas. Nesse último cenário a safra brasileira 21/22 produzirá algo ao redor dos 40 milhões de sacas! Podendo exportar apenas 21 milhões de sacas! Uma redução ainda maior, estimada em -24,6 milhões de sacas ou -53,94%!

As perguntas continuam: Onde está o café já colhido? Onde estão as filas de caminhões para descarregar/entregar nas cooperativas/armazéns? Segundo nossos contatos, a quebra é real, verdadeira, sem sombra de dúvidas. Porém, na safra 20/21 houve uma antecipação na colheita e agora, na safra 21/22 o andamento da colheita está sendo normal e o café colhido está sendo preparado para começar a ser entregue nos próximos 5-10 dias. As cooperativas/armazéns deverão começar a ter mais movimento nos próximos 10-15 dias. Vamos seguir monitorando!

O mercado interno voltou a valorizar na última sexta-feira com negócios acontecendo entre 800-950 R$/saca (dependendo da qualidade/localização dos armazéns). Produtores com produto disponível seguem vendendo apenas o mínimo necessário para pagar as contas e aguardando por preços acima dos 1.000 R$/saca! Para alguns produtores com café tipo “cereja descascado” + certificado esse patamar já foi atingido!

Dependendo do avanço da massa polar no final de semana, na próxima segunda-feira o mercado poderá já abrir firme rompendo a próxima resistência no Set-21 @ 164,60 centavos de dólar por libra-peso. E quem sabe romper a máxima do contrato @ 168,65 centavos de dólar por libra-peso. Suportes agora nos 155,40 e 146 centavos de dólar por libra-peso.

Com base na última posição do CFTC* os “fundos+especuladores” liquidaram -1.926 lotes e continuam comprados em apenas +26.273 lotes. Na sexta-feira o volume negociado voltou a superar os + 52,000 lotes. Atenção nos próximos 2 pregões (segunda-feira e terça-feira) e atenção redobrada no avanço da massa polar. O Set-21 poderá explodir caso algum “stop” for acionado (rompendo os 164,60 ou os 168,65 centavos de dólar por librar-peso) ou caso a geada realmente venha a ocorrer. Se a massa polar perder força poderemos ver o mercado realizando novamente -1.000/1.500 pontos, buscando os 150 centavos de dólar por libra-peso no curto prazo.

Seguimos sugerindo a venda do café disponível contra o Dez-21 acima dos 950 R$/saca através da modalidade “venda através da compra de uma opção de venda “Put”, ou da compra da estrutura “Put-Spread” vendendo uma opção de compra “Call”, e/ou vendendo a estrutura “Call-Spread”.

Para a safra 22/23 e 23/24 (como a liquidez para as opções com base no contrato Set-23 é muito baixa) sugerimos que o hedge seja feito contra o Set-22 e depois a posição referente a safra 23/24 seja rolada para o Set-23 quando a liquidez começar a existir.

Para o Set-22 seguimos sugerindo o hedge através da compra de uma opção de venda “Put”, ou da compra da estrutura “Put-Spread” vendendo uma opção de compra “Call” ou uma estrutura “Call-Spread” garantindo assim uma remuneração para os próximos 2 anos entre 900-1.200 R$/saca.

Caso as chuvas voltem a cair nas principais regiões produtores a partir da segunda quinzena de Agosto e até o final de Setembro a safra 22/23 poderá recuperar e a produção brasileira poderá voltar a superar os 70 milhões de sacas! Nesse cenário os preços poderão voltar para baixo dos 700 R$/saca!

Já estamos escutando produtores acreditando que o mercado em Nova Iorque poderá ultrapassar os 300,00 centavos de dólar por libra-peso! Será? Isso daria um café ao redor dos 1800 R$/saca! Atenção: “Mais vale um pássaro na mão do que 2 voando”!! Garantir um preço mínimo ao redor dos 1.000 R$/saca é um excelente preço para o produtor! Se o mercado seguir subindo as estruturas apresentadas sempre permitem ajustes para cima ou para baixo (com um custo adicional), deixando o produtor sempre mais próximo do mercado!

“Sugestões da semana”:
No Set-21: Quem seguiu nossa sugestão da semana passada ganhou dinheiro e conseguiu mitigar seu prejuízo! A opção no Set-21 strike 160 centavos de dólar por libra-peso saiu de 3,31 para 7,79 centavos de dólar por libra-peso. Um ganho aproximado de 30 R$/saca. Quem estiver comprado monitorar o mercado na próxima segunda-feira e, mercado subindo atenção para realizar. Se a geada na terça/quarta-feira não vier, essa opção poderá “virar pó” (as opções vencem próximo dia 13 de Agosto)!

No Dez-21: Analisar a compra da “Put-Spread” strike +160/-140 vendendo a opção de compra “Call” strike -185 a custo zero. Na sexta-feira essa operação permitia uma venda entre 940-1.110 R$/saca (desde que o Dez-21 feche acima dos 140 e acima dos 185 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções desse contrato em Nov-21).
Para a safra 22/23: No Set-22 – Analisar a compra da “Put-Spread” strike +165/-140 vendendo a opção de compra “Call” strike -210 a custo zero. Na sexta-feira essa operação permitia uma venda entre 1.000-1.325 R$/saca (desde que o Dez-21 feche acima dos 140 e acima dos 210 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções desse contrato em Agosto-22).

OBS: Ainda da tempo! Invistam 2-4 sacas de café nos nossos dois já consagrados Cursos: O Essencial de Futuros em Commodities Agrícolas (de 16 a 20 de agosto) e o Avançado de Opções em Commodities Agrícolas (de 20 a 24 de setembro).

Inscrições já estão abertas e a procura tem sido acima das expectativas!
Depois só em 2022!!
Detalhes no nosso site archerconsulting.com.br

Ótima semana a todos!

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda