Voto do CMN reforça insatisfação de cafeicultores com o governo

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O Conselho Monetário Nacional (CMN) frustrou cafeicultores de todo o país ao não votar o preço de mínimo de garantia de R$ 340,00 para o café, como era reivindicado pelo setor ao governo em um documento conjunto de cooperativas e sindicatos rurais. Lideranças e produtores reagiram ao voto do CMN, ocorrido da noite de quinta-feira santa (28), véspera de sexta-feira da paixão, afirmando que as medidas aprovadas são tímidas, servindo apenas para afrouxar o nó, mas prolongando o enforcamento do produtor brasileiro de café.

Descaso, frustração, descrédito, falta de esperança. Esta foi algumas das considerações de produtores e lideranças, que dizem estar cada vez mais desamparados pelo governo federal e, apesar do voto ter sido do CMN, ainda assim não poupam críticas ao novo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antonio Andrade, que publicamente defendia o preço mínimo de R$ 340,00, mas que na visão de lideranças não fez valer a força e vontade política para sensibilizar o Ministério da Fazenda, do Planejamento e o Banco Central, que comandam o Conselho Monetário Nacional.

“Pessoalmente, não acredito mais em uma decisão de governo em benefício do produtor de café, entra governo e sai governo, e o que vemos é uma mesma situação: descaso total com o setor”, diz Marcelo Pimenta, produtor de café em São Sebastião do Paraíso, membro de uma família que há gerações trabalha com o produto.

O Analista de mercado da Coccamig, Leandro Gomes Ribeiro da Costa, disse em entrevista ao programa “Café com TV”, da TV Alterosa, que “o lado negativo da situação é justamente o fato de que o quadro de ofertas provoca, em um mercado de livre concorrência, menores preços e isso faz com que o produtor amargue prejuízos, porque o preço que estamos trabalhando na safra atual, na verdade mal cobre os custos de produção”.

Para o produtor de cafés especiais em Ibiraci, Hugo Wolff, “o mercado de café arábica vive dois mundos opostos. Há menos de dois anos as cotações alcançavam o dobro do preço que se vê hoje. Certamente alguns produtores apostaram certo em se capitalizar e reinvestir em ações que barateassem o custo e, outros que provavelmente investiram em aumentar suas plantações para lucrar no volume produzido acumulando mais custos por, pelo menos, 4 anos e esperançosos do clima fazer seu papel e o mercado o dele. Como produtor, procuro traçar metas sem qualquer expectativa de ajuda do Governo, se vier algo, ótimo! Historicamente a monocultura é um frágil negócio. Quem produz quantidade de um único produto não pode reclamar do sistema de oferta e procura, é réu e vitima dele mesmo. A diversificação de uma propriedade, qualquer que seja seu tamanho, é fundamental na perpetuação bem sucedida, e não me refiro a fazer riquezas, e sim, a não ser obrigado a vender ou se endividar nos bancos, principal beneficiário de momentos como este”, disse.

O presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa, considera que “falta de sensibilidade dos responsáveis pela política cafeeira que não compreendem as dificuldades que os cafeicultores estão passando com os preços atuais. A velocidade de trabalho da burocracia não acompanha a tomada de decisão que os mercados exigem”.

Já o presidente da Cooparaiso, deputado federal Carlos Melles, tem uma visão contundente sobre o assunto: “Eu acho que o governo do PT, nesses dez anos, ainda veem a cafeicultura como a dos barões do café, não evoluíram, o PT não acordou para a política do café até hoje. Eu fiz um artigo,que “o café não tinha subido a rampa do Planalto” com o PT e realmente não subiu. O presidente Lula sabia, eu não sei se a presidente Dilma sabe bem : esse negócio de dar mais prazo ao financiamento é dar mais corda ao enforcado, prorroga o sofrimento. Café, e produtos agrícolas em geral, sem pilares de política, não se sustenta”, disse.

Melles ressalta: “Eu ouvi a declaração de quem está no Ministério da Fazenda, tomando conta dessa área, que é um jovem bem intencionado, preparado para ser um homem de política, mas não de política agrícola, política de café, porque ele realmente não tem conhecimento, com também não o tem quem fez no passado. É um descaso. A política do preço mínimo, a política do programa de opções, a política do Pepro, ou a política de um programa de mercado futuro dá sustentação no geral e o Brasil parece que se esquece de que é o maior produtor e o maior consumidor e te que dar rumos para a política mundial; o Brasil olha para o pé e o produtor de café, consequentemente, é prejudicado”, relaciona o presidente da Cooparaiso.

Para ele é preciso que “os produtores entrem com um pedido ainda mais sério para a presidente, que é a desoneração da folha de pagamento, que ela fez para todo mundo, e tem que fazer também para a cafeicultura, porque senão a grande cafeicultura brasileira (mineira de montanha e a capixaba) não sobrevive. Se há o preço de garantia, se tem o programa de opção e se tem o prêmio de escoamento quase que a prorrogação é desnecessária porque sobe o preço do patamar do café; o problema é que o Brasil não tem limite de sinalização, de sustentação, ou seja, custa R$ 330,00 produzir e o preço é R$ 280,00 e isto vem de longo tempo. Isto é até uma falta de consideração do governo com o produto que fez o Brasil, que é o café”, pontua.

Melles ainda ressalta as comparações entre as produções das diferentes regiões cafeeira. “Veja os números: Franca tem R$ 440,00 como custo de produção; Guaxupé, R$ 330,00; Paraíso, R$ 380,00, é a mesma região, o preço do salário mínimo é o mesmo, o preço da mão de obra é a mesmo, a produtividade é a mesma, mas o Brasil é o país do descrédito. A Conab não tem credibilidade para dialogar com o mercado, pois tem que ter transparência. De 1994 para cá, o salário mínimo, que é o maior componente de custo da economia, subiu 1200% aproximadamente e o preço do café 230%, daí dá para se ver que não há seriedade no processo. Os adubos, os insumos cresceram 600%, então não há seriedade para política agrícola no Brasil”, finaliza o presidente da Cooparaiso e presidente de honra do Conselho Nacional do Café (CNC), Carlos Melles.

“O preço mínimo de R$ 380,00 para o café seria a base das políticas que o governo possa vir a fazer, abaixo disso, tudo fica complicado. Apesar da seriedade dessa reivindicação do preço mínio que começou a ser feita em novembro do ano passado, foi levada pelo governo com grande morosidade. O prejuízo que se acumulou até agora é muito grande. Para isso virar realidade agora, ‘a vaca já foi para brejo’”, reclama o presidente do Sindicato Rural de Varginha, Arnaldo Bottrel.

Fonte: Coffee Break

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