TUDO É COMO LHE PARECE

Enquanto o mercado financeiro vivia mais uma semana turbulenta, com bolsas de valores e de commodities sofrendo fortes quedas até sexta-feira, a indústria cafeeira se reunia no Guarujá para o 18º Seminário Internacional de Café – e ao mesmo tempo a indústria sucroalcooleira se reunia em Nova Iorque para o Sugar Dinner.

Palestras interessantes fora proferidas no Guarujá, abordando desde a economia brasileira, o petróleo, logística, o contrato “C” e até a questão do marketing do mercado de café brasileiro.

Na última palestra do encontro, um executivo da empresa que rejuvenesceu o café no mundo foi genial na abordagem do quesito qualidade de café. Em poucos slides, com muita precisão e sutileza, vimos estatísticas que por exemplo apontam que 60% do consumidor americano crê consumir café gourmet.

O café tem esta peculiaridade, pois mesmo sendo considerado uma commodity, trafega ao em territórios nada padronizados, e termos como “cafés finos”, especiais, ou gourmets, se tornam sofisticados mas ao mesmo tempo bastante subjetivos.

A mensagem principal que tirei da apresentação foi a de que o produtor brasileiro, ou melhor o setor cafeeiro brasileiro, deve investir em marketing e promover o café do país para ganhar status cada vez mais de café de qualidade – que diga-se de passagem muitos já reconhecem como tal (vide Illy Café).

Creio que a inclusão do café brasileiro como sendo passível de entrega contra o contrato “C”, é um passo importante nesta direção, fato que se segue depois da crescente participação de mercado do produto brasileiro que teve uma boa aceitação entre os vários torradores que se viram forçados a usar mais deste café em função da quebra de produção de Colômbia e dos outros países produtores de lavados.

Outro fato que pode contribuir para a apreciação do café brasileiro, é a postura mais cautelosa dos exportadores em venderem diferenciais muito descontados, e que com a necessidade de compra que cada vez mais se acumula, pode acabar não trazendo a pressão vendedora da safra grande que os baixistas apostam.

A performance do mercado de Nova Iorque nesta semana foi impressionante, pois o arábica se mostrou firme e mais uma vez se segurou acima de US$ 130.00 centavos / libra, apesar do real, e das bolsas desmoronarem.

Como abordei em minha palestra, que por sinal gostaria de agradecer mais uma vez pela oportunidade, a crescente utilização dos estoques certificados e a falta de cafés lavados que não será resolvida até o começo de 2011, podem ter um efeito positivo para o contrato “C”, provocando uma transferência dos altos diferenciais dos café finos que temos acompanhado no físico, para a bolsa, o que então poderá provocar um alargamento dos cafés “de combate” (normais), salvando aqueles que tem vendas baratas nos livros.

A bolsa está nos indicando que a preocupação com qualidade vai continuar.

E como muitos consumidores querem continuar consumindo café gourmet, vamos torcer para que o Brasil possa ser o maior fornecedor deste tipo de café, afinal: tudo é como lhe parece.

Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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