Torrefadores mantêm a cautela e ainda compram café da mão para boca

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A percepção do mercado de que existe uma grande oferta mundial de café, que ultrapassa a demanda, é um dos fatores que vêm provocando a queda dos preços da commodity, principalmente do arábica. E esse mesmo cenário colabora para a manutenção do comportamento dos torrefadores internacionais, que continuam a reduzir estoques e a comprar o produto da "mão para a boca". Essa estratégia ganhou força com a crise econômica de 2008, quando o crédito ficou mais caro e havia uma perspectiva de retração no consumo em mercados tradicionais, como Europa e Estados Unidos.

Tal atuação dos compradores de café foi acentuada de 2012 para cá, afirma Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercado. Segundo ele, os torrefadores confiam na logística e não enxergam dificuldade em adquirir o produto, de acordo com suas necessidades, diante das últimas duas safras volumosas no Brasil e da perspectiva de mais uma grande produção no ano que vem, além da recuperação da safra da Colômbia e da possibilidade de buscar café robusta no Vietnã.

Mas, na avaliação de Barabach, a estratégia é de risco. "Estão vulneráveis ao abastecimento. Mas preferem correr risco em função da incerteza econômica", disse. Nos últimos anos, houve uma redução dos estoques médios da indústria. "O que era de seis meses, passou para três, dois ou um mês", afirmou Barabach.

A relação entre estoque e consumo global entre 2002 e 2012 ficou, em média, pouco acima de 27%, puxada, em parte, pelos grandes estoques do começo dos anos 2000, de acordo com Barabach. Mas, no intervalo de 2008 a 2012, que engloba o período da crise econômica global, a relação estoque/consumo ficou em 22,8%.

Se por um lado não se vê agressividade do lado da demanda mesmo com o início da temporada de frio no Hemisfério Norte – quando o consumo de café normalmente aumenta -, por outro alguns players, como a Colômbia e países da América Central, estão mais "agressivos" na comercialização de seus produtos, oferecendo prêmios menores sobre a cotação da bolsa de Nova York.

Como o Brasil é o maior fornecedor mundial de café e este ano a colheita foi prejudicada por chuvas, que afetaram a oferta de grãos de melhor qualidade, alguns exportadores estão até aumentando sua compra de cafés de menor qualidade, como os da bebida rio, afirma Raphael França, da JR Corretora, de Santos (SP). "Eles aproveitam os preços baixos para comprar o produto". Os importadores não demandam muito café fino e a Europa está adquirindo café rio, conforme França.

Alguns países, como Grécia, Noruega e Áustria e os do Oriente Médio, representam um mercado cativo para cafés de mais baixa qualidade, como os de bebida rio, rio zona e riada, apesar de comprarem também grãos de melhor qualidade (bebida dura), pondera Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé).

De acordo com Braga, quando a diferença de preços é grande entre as bebidas dura e rio, alguns importadores passam a usar cafés mais baratos. Mas isso ainda não representa um fenômeno muito expressivo em volume, afirmou.

Este ano, até outubro, os embarques de café (grão verde e industrializado) somaram 25,636 milhões de sacas, aumento de 13,7% ante o mesmo período de 2012, conforme dados do CeCafé divulgados ontem. Já a receita, na comparação, caiu 15,7%, para US$ 4,357 bilhões. Somente em outubro, a queda no valor das exportações foi de 24,8% ante o mesmo mês do ano passado, totalizando US$ 463,672 milhões.

No acumulado deste ano, o volume de café robusta verde exportado registrou crescimento de 11%, enquanto o do arábica subiu 15,3%. Já as vendas externas de café torrado e moído recuaram 38,9% no período, enquanto as de solúvel aumentaram 3,7%.

Fonte: Valor Econômico via CNC

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