Todas as atenções estão voltadas para o Fed

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Todas as atenções do dia estão voltadas à reunião do Federal Reserve (Fed), banco central americano. Nesta tarde, o mercado ficará sabendo se contará ou não com um novo plano de estímulo à atividade nos Estados Unidos.

Entre as inúmeras ferramentas que o Fed diz ter para lidar com o baixo crescimento da economia, a mais provável, segundo a fatia de mercado que trabalha com novo estímulo, é o que se chama de “operação twist”, que consistiria em alongar o prazo dos títulos que o Fed tem em carteira. Ao fazer isso, as taxas de juros de longo prazo tenderiam a cair ainda mais, estimulando o consumo e investimento.

Os críticos dessa ferramenta não enxergam grande vantagem nisso. Afinal de contas, o americano não consome porque está sem emprego e as empresas não investem, pois não tem confiança na demanda.

Enquanto aguardam a decisão do Fed, os investidores conhecem a venda de imóveis usados e os estoques de petróleo e derivados nos EUA.

Por aqui, o Banco Central (BC) apresenta a nota de mercado aberto e uma nova prévia sobre o fluxo cambial.

Mercados Ontem

O pregão de terça-feira oscilou entre bom humor e pessimismo. As justificativas foram as seguintes: melhora de percepção com a Grécia e expectativa quanto à reunião do Fed. Conforme o humor piorou a culpa também foi da Grécia. No entanto, a última notícia do dia foi de que a nova conversa entre o país e os representantes internacionais apresentou “progresso satisfatório”.

No mercado americano, o Dow Jones, que subiu mais de 1% em boa parte do dia, fechou praticamente estável, com leve avanço de 0,07%, aos 11.408 pontos. O S&P 500 e o Nasdaq reverteram completamente e caíram 0,17% e 0,86%, respectivamente.

Bovespa

Saltos entre euforia e depressão também marcaram o dia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Após avançar 0,9%, o Ibovespa amplificou a piora externa e encerrou com baixa de 1,27%, aos 56.378 pontos. O giro financeiro fiocu em R$ 6,278 bilhões.

“É preciso definir a situação da Grécia para o mercado se acalmar. A expectativa de um calote é quase matemática. O mercado continuará com muita volatilidade e atuações intradiárias, mas há uma sensação de que os governos começam a se movimentar, o que pode estimular um viés de recuperação para os mercados de risco”, afirmou o diretor da Ativa Corretora, Álvaro Bandeira.

Apesar das expectativas sobre o encontro do Fed, Bandeira, ressalta que as operações não dariam o fôlego que está faltando à economia dos EUA.

Câmbio

O pregão de terça-feira foi de ajuste no preço do dólar no mercado à vista. A cotação subiu acertando valor com o mercado futuro, que, no fim da tarde de segunda-feira, tinha passado por firme movimento de alta. Por conta disso, o hiato de preços tinha de ser fechado.

No fim do dia, o dólar comercial apontava elevação de 0,50%, a R$ 1,789 na venda, maior cotação desde 1º de julho de 2010. No intradia, a moeda fez mínima a R$ 1,768 (-0,67%) e subiu a R$ 1,803 (+1,29%).

Da mínima do ano, registrada em 26 de julho, a R$ 1,537, o preço da moeda americana já subiu 16,40%.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar pronto subiu 0,70%, para R$ 1,7965. O volume negociado no dia somou US$ 86,75 milhões, contra US$ 175 milhões no pregão anterior.

Mais fiel ao movimento de câmbio, o dólar para outubro tinha baixa de 0,83%, a R$ 1,792, antes do ajuste final. Na segunda-feira, o contrato aumentou 3,85%, a R$ 1,807, fechando na máxima do dia.

No câmbio externo, o dólar também perdeu valor ante seus principais rivais. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, apontava queda de 0,32%, a 77,10 pontos. Já o euro rondava a estabilidade, a US$ 1,367, depois de avançar a US$ 1,374.

De volta ao câmbio local, os especialistas do HSBC acreditam que essa recente escalada de alta no preço do dólar estaria próxima do fim.

A instituição acredita em uma normalização da taxa de câmbio na linha entre R$ 1,60 e R$ 1,70, desde que as condições globais permitam. Entre os fatores que dariam suporte a esse movimento estão pontos técnicos, como o próprio preço, bem como a redução do risco de novas intervenções e a continuidade de firme fluxo de investimento externo.

Outro ponto destacado pelo HSBC é que o “choque” proveniente da mudança de rumo da política monetária já teria sido absorvido, com o mercado de juros futuros colocando na conta uma redução de 150 pontos-base no juro básico.

Mais um fator que suporta a visão do banco são as commodities, que seguem bem demandadas, o que representa um ponto se suporte relevante para o preço do real.

“Nós amenizamos, mas ainda não abandonamos nossa visão otimista com relação ao real. Acreditamos em taxa de câmbio em R$ 1,65 no fim do ano, contra US$ 1,52 na previsão anterior”, disse o banco em relatório.

Juros futuros

Os contratos futuros tiveram um pregão de firme alta na BM&F, mas fecham longe das máximas do dia. A divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) esteve entre os fatores que levaram os investidores a adotar uma postura mais cautelosa.

O IPCA-15 surpreendeu para cima ao marcar 0,53% em setembro. Em 12 meses, a prévia da inflação oficial vale 7,33%, maior leitura desde meados de 2005.

Alimentos, transportes e vestuário explicam o desvio do resultado com relação às projeções de inflação em 0,49%. Abrindo o índice, a temida inflação de serviços aumentou 0,46%, repetindo a leitura de agosto. Em 12 meses, o avanço ficou em 8,9%.

Segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, essa prévia da inflação oficial já está promovendo uma série de revisões para o IPCA fechado do mês e também indica uma inflação mais difícil de ceder em comparação com o discurso do governo.

Essa indicação do lado dos preços, diz Rosa, se soma às recentes declarações de membros do governo que dão a entender que o crescimento é a meta em detrimento ao controle da inflação.

“Isso tudo faz com que o investidor peça mais prêmio para ficar aplicado em prazos mais longos”, explicou o economista.

No lado da atividade, a desaceleração em curso, diz Rosa, não tem relação com a crise externa, esse movimento é liderado por fatores locais e já era esperado.

Mais um fator de preocupação é a recente trajetória de valorização do dólar. O preço da moeda acumula alta de cerca de 11% no mês ao mesmo tempo em que as commodities caíram 5%.

Tal quadro pode resultar em maior rigidez nos preços importados que fazem parte da inflação local. Um exemplo são os alimentos, que podem não cair na velocidade esperada ou mesmo não perder força.

Mesmo com essas incertezas em pauta, Rosa não acredita em mudança de postura por parte do Banco Central (BC). Ou seja, a Selic deve continuar sendo ajustada para baixo, já que a autoridade monetária mostra plena confiança do seu cenário prospectivo de inflação declinante nos próximos meses, menor atividade doméstica e maior  impacto dos problemas externos no mercado local.

Fonte: Valor Econômico

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