Técnica de adubação e estresse hídrico melhora produção de café

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Aprimoramento do Sistema de Produção de Café Irrigado no Cerrado foi o tema do Dia de Campo promovido peça Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) em parceria com a Embrapa Café e o Consórcio Pesquisa Café, no dia 15 de abril, na Embrapa Cerrados.

O evento destinado à transferência de tecnologia sobre o sistema produtivo do café contou com cerca de cem pessoas – produtores rurais, pesquisadores, estudantes e empresas ligadas ao setor cafeeiro. Divididas em grupos, os participantes visitaram quatro estações, onde puderam conhecer os resultados obtidos com a implementação das tecnologias e verem o direcionamento do programa de pesquisa de café.

O cultivo do café nesta região do Cerrado enfrentou um grande desafio. A planta, vinda das regiões mais frias de Minas Gerais, exigia muitos cuidados, pois precisava enfrentar o clima seco e quente, e com a a falta de água em determinadas épocas do ano. Mesmo com muita dedicação e irrigação o ano todo, as lavouras de café não eram lá das melhores. O florescimento e a maturação dos frutos eram desuniformes, resultando em um produto de baixa qualidade.

ESTRESSE
Diante desses problemas, a Embrapa foi convocada a gerar tecnologias capazes de resolver o problema. A solução encontrada foi usar o calor e o período da estiagem a favor da cultura de café aplicando o manejo da tecnologia do estresse hídrico.

A distribuição irregular de chuvas na região impõe a necessidade de irrigação para viabilizar a cafeicultura no Cerrado. Apesar dos produtores de café da região irrigarem suas lavouras o ano todo para suprir a natural falta de água em determinadas épocas do ano, o fato é que 95% deles não adotam qualquer critério técnico de manejo de água.

Assim, mesmo suprindo a deficiência hídrica, o resultado da lavoura ainda era desanimador. os produtores enfrentavam florescimento desuniforme, com flores mais evoluídas junto a outras recém nascidas, frutos queimados em meio a outros verdes ou cereja, que na hora da colheita, ao se misturarem, formavam uma bebida de gosto não agradável e ruim para o mercado.

"Nós, pesquisadores da Embrapa, estabelecemos um sistema diferente de irrigação usando o calor a nosso favor, por meio do estresse hídrico" explica o pesquisador Antonio Fernando Guerra, da Embrapa Cerrados.

UNIFORMIDADE

O estresse hídrico consiste na suspensão das irrigações no período entre 24 de junho e 4 de setembro, sendo esta a data limite para retorno das irrigações. "A suspensão de irrigação por um tempo é fundamental", explica Guerra.

Quando o café é submetido ao estresse hídrico adequado, a taxa de crescimento vegetativo tende a zero durante o período que há a suspensão de irrigação, porém, após o retorno das irrigações ocorre um desenvolvimento compensatório determinando um crescimento vegetativo superior ao do cafeeiro irrigado durante todo o ano.

Além disso, o uso do estresse hídrico ajuda na sincronia do crescimento dos botões florais, visto que tal procedimento força os mais atrasados ao desenvolvimento e inibe a abertura dos mais desenvolvidos. Resultados obtidos na Embrapa Cerrados comprovaram que cerca de 12 e 14 dias após o retorno das aplicações de água na lavoura já ocorre a abertura das flores. E o melhor, de forma uniforme. O resultado é que a planta vai produzir frutos que vão amadurecer ao mesmo tempo, proporcionando uma produção uniforme de grãos que, consequentemente, terão melhor qualidade.

Adubação reduz bianualidade

Os benefícios do estresse hídrico no cultivo de café são indiscutíveis, na opinião de Clésio Sacoman, produtor de café de Unaí (MG). "O aproveitamento da lavoura é de 85%. Meus frutos são uniformes e de boa qualidade", garante Sacoman. Ele usa a técnica do estresse hídrico há 15 anos recomenda aos outros produtores. "Além disso, a economia com energia e água são enormes", lembra o cafeicultor.

Além de ter uma colheita proveitosa, de frutos cereja uniformes, o produtor consegue fazer economia no período que suspende a irrigação da lavoura. Com isso, a redução de irrigação gira em torno de 33%, contribuindo para redução dos custos e preservação do meio ambiente.

Usando essa tecnologia, o cafeicultor pode, ainda, contabilizar outras reduções de custo com o menor número de horas de funcionamento das colheitadeiras e na quantidade de colheitas que tem de fazer quando os frutos apresentam amadurecimento variado. Consequentemente, a redução dessas operações também proporcionam redução de aproximadamente 30% do custo de atividade cafeeira.

Durante o Dia de Campo, Clésio Sacoman destacou a importância da parceria estabelecida com a Embrapa Cerrados há sete anos. "Antes produzíamos de 35 a 40 sacas de café por hectare. Hoje conseguimos até 60 sacas por hectare", informa o produtor.

FOSFATO NELE

Até pouco tempo atrás, era consenso a baixa exigência de fósforo no cafezal em produção. Hoje, porém, após analises químicas do solo, descobriu- se que este elemento é fundamental para a saúde da lavoura. Portanto, a adubação do cafeeiro é outro ponto importantíssimo para se obter produtividade elevada e grãos de boa qualidade.

As adequações relacionadas à adubação do cafeeiro foram consideras pelo produtor Clésio Sacoman como uma das principais contribuições da Embrapa para o aprimoramento do sistema de produção do café. A nutrição do cafeeiro visando alta produtividade e redução da bienalidade de produção (em anos alternados) foi o tema de uma das estações do Dia de Campo sobre café, e foi apresentado pelo pesquisador da Embrapa Cerrados Claudio Sanzonowicz.

De acordo com o pesquisador, a adubação fosfata visa garantir a disponibilidade do fósforo em duas épocas críticas – antes do retorno das irrigações, para garantir a energia necessária ao crescimento dos ramos novos; e em dezembro, para que as plantas tenham a possibilidade de crescer para produzir reprodutivos em janeiro.

Portanto, é necessário que a adubação seja executada no período correto, pois se houver atraso na aplicação dos nutrientes, pode haver perdas de produtividade e qualidade do cafezal.

Carlos Coutinho é produtor de café e utiliza a tecnologia do estresse hídrico há 3 anos. Coutinho tem 35 hectares na região do Núcleo Rural Lago Oeste, próximo de Sobradinho, e confirma os benefícios do uso dessa tecnologia. "Uso o estresse há pouco tempo, mas a produção já melhorou. Tenho hoje um aproveitamento de 80% do café cereja", revela o cafeicultor. Coutinho, que também participou do Dia de Campo na Embrapa Cerrados, diz que eventos técnicos como esse são muito importantes, para ajudar, não só os grandes proprietários de terra, mas, principalmente os pequenos produtores, que são maioria no Distrito Federal. 

* Nayara Rios

Fonte: Jornal de Brasilia

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