Sindicato dos Produtores Rurais de Cabo Verde envia carta aberta à Dilma Rousseff

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Confira carta aberta do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Cabo Verde, Jerônimo Giacchetta (foto acima), para a presidente Dilma Rousseff.

A MISÉRIA DO CAFÉ EM UM PAÍS QUE ESPERAMOS SEM POBREZA

Os produtores rurais de Cabo Verde, através de seu sindicato rural, vem diretamente através desta carta e pela mídia relacionada ao café, lhe expor algumas verdades:

Que o cafezinho tomado pelo consumidor brasileiro e mundial está cada vez mais parecido com os diamantes brutos extraído dos países africanos, banhado em suor e sangue daqueles que teimam em produzir e vender abaixo dos custos de produção por falta de alternativa. Com uma diferença, aqui no Brasil a exploração é feita dentro da legislação em vigor, veja o exemplo. O pequeno produtor de café, que se diz ter um custo menor, não tem FGTS, nem 13° salário, nem recebe pelas horas extras porque trabalha bem mais de 8 horas por dia, não tem garantias de aposentadoria, embora contribua com 2,3% da produção para o INSS. Sem contar ainda que ele perde sua força de trabalho muito mais cedo porque trabalha sem nenhum equipamento de proteção e trabalha de sol a sol para garantir sua sobrevivência. A conta é simples:

EX: 1 produtor muito eficiente que ainda conseguisse vender sua safra a R$ 300,00 e ganhasse por exemplo R$ 30,00 se o seu custo fosse 270,00 que não é, mas façamos as contas pensando que é. Um produtor pequeno para fazer todo o trabalho só com a família colhe em média 200 sacas de café entre ano bom e ano ruim de produção. Se ele obtiver R$ 30,00 de lucro por saca ele teria R$ 6.000,00 de lucro ao ano em média. Se você dividir por 12 meses teremos R$ 500,00 por mês e para toda a família, bem abaixo do salário mínimo vigente no país e contrariando a constituição federal no que diz que ninguém deve ganhar menos que o salário mínimo em território nacional. Está ai criado um contingente de miseráveis rurais, que não têm outra alternativa a não ser continuar produzindo, ainda que eles possam ser essenciais na ocupação espacial rural, não estejam nas cidades inflando problemas insolúveis e ainda mantêm suas famílias com as dificuldades geradas por quem mora no campo de se conseguir escolas, transitar em épocas de chuva e se alinhar com as tecnologias de ponta para preparar seus filhos para o futuro. Para estes o Brasil sem miséria vira as costas, eles não possuem bolsa família e nem nada parecido. Só possuem a força de trabalho, que como é sabido também acaba logo cedo, diferente de alguém que trabalha em escritório ou serviço urbano protegido pelos telhados.

É preciso mostrar ao consumidor brasileiro e mundial que o café que ele bebe, com prazer, nas áreas urbanas, carece de sustentabilidade econômica e social. Considerando-se que é moda no nosso país a teoria do domínio do fato, então todos estão incorrendo em crime porque estão consumindo um produto que não tem sustentabilidade, nem econômica e nem social, contribuindo para a marginalização de toda uma sociedade rural, com a chancela governamental.

2. Que quando o governo coloca o preço mínimo do café em R$ 307,00, abaixo dos custos de produção indicados pela Conab, empresa do próprio governo, que eram de R$ 336,00, o governo está oficializando a prática de dumping no seu sentido mais básico, no mercado internacional do café e no sentindo mais amplo está praticando dumping social no momento em que os cafeicultores, vendendo abaixo do custo, não tem condições de manter as condições mínimas de produção.
3- Que nos últimos 20 anos estamos entregando dentro da matéria prima café, o suor, a esperança, a alegria e sobretudo a renda dos cafeicultores ao mercado internacional.

4- Que é prerrogativa dos agentes de governo garantir, através de políticas públicas e juntamente com os empresários, a competitividade do Brasil e a geração do emprego e da renda.

5- Que as propostas de melhoria construídas pelo setor, inclusive as vezes a pedido do próprio governo, simplesmente não se tem respostas, nem positivas e nem negativas.

Senhora Presidenta da República, não é para criticar o seu governo ou qualquer outro, porque para nós tem sido igual o tratamento já há muitos governos, que escrevemos esta carta aberta.

É simplesmente para mostrar uma realidade que seja enfrentada, queremos sobretudo ser ouvidos e também orientados porque confiamos na sua capacidade de articular soluções políticas e econômicas para os problemas de nossa classe. Precisamos de respostas do governo, sejam positivas ou negativas. Temos, através de nossas representações no âmbito nacional, estadual e municipal uma pauta de reivindicações que queremos e precisamos que sejam apreciadas.

Presidenta Dilma, cansamos de falar e ouvir educadamente, que tudo está sendo analisado, porém nada decidido. Será que em um ou dois anos já não é suficiente para dizer sim ou não e dizendo não qual seria o caminho indicado pelo governo?

Pior ainda, se a situação está assim imagine quando começar a render frutos os investimentos feitos pelos países ricos na África onde ainda tem-se muito a explorar no que tange à pobreza e miséria humana. É um problema dos cafeicultores ou dos brasileiros?

Terminamos esta carta, presidenta, esperançosos de que ouça as vozes da cafeicultura e nos ajude a resolver um problema sério de sustentabilidade e manutenção de vida dos agricultores, que nos receba para discutirmos juntos as soluções, não queremos mais ministros, assessores, cafezinho e água de Brasília.

Queremos a sua interlocução direta e eficaz, como sempre foi, para definitivamente encaminharmos a contento a continuação da cafeicultura do Brasil.

Assinam esta carta, o presidente do nosso sindicato rural, representando nosso município e os produtores presentes na reunião de indignação que participamos.

Atenciosamente,
Sindicato dos Produtores Rurais de Cabo Verde – Jerônimo Giacchetta – Presidente

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