SE ESFORÇANDO PARA SUBIR MAIS

Quase 2 trilhões de dólares evaporaram no mercado mundial de ações nas últimas 3 semanas, inicialmente por causa da nova onda de turbulência na zona do euro, depois em função da expectativa de retração monetária da China e recentemente com a tensão/ataque entre as Coréias.

Como consequência os investidores correram para a moeda americana, e fizeram com que o índice do dólar (cesta que é composta por seis moedas) subisse 2.41% nos últimos cinco dias, sendo que apenas o Euro desvalorizou 3.15% contra o dólar.

A crise na Europa está brava, e depois do pacote de ajuda da Grécia – que correspondeu a cerca de 47% do PIB do país – e do atual pacote à Irlanda – que pode chegar a quase 60% de seu PIB – o mercado especula sobre a próxima vítima, sendo que Portugal é o mais cotado no momento. O risco é de uma contaminação ainda maior na comunidade européia, e a catástrofe seria ter Espanha no olho do furacão, já que sua economia é maior do que a soma dos três países acima.

As commodities por sua vez continuam voláteis. Inclusive nesta semana foi publicado um artigo no Wall Street Journal apontando que a volatilidade de um dos índices de commodities, o DJ-UBS (antigo AIG index) está no maior nível desde setembro de 2009, ou em 25% (30 dias). Isto é bem acima da volatilidade do índice de ações S&P, que está em 12.5%. Nossos leitores, e principalmente aqueles que operam commodities, têm sentido isto na pele, e a notícia serve para mostrar que não estão sozinhos na dor, o que não serve muito de consolo, mas… – tem uma frase em inglês que diz que “a angústia (misery) aprecia companhia”.

Seguindo o “novo-padrão” de oscilação, o café em Nova Iorque negociou entre US$ 201.45 e US$ 213.25 centavos por libra nas últimas quatro sessões, sendo que na terça-feira entre mínima e máxima o intervalo foi de US$ 10.15 centavos. Quando tudo dava a impressão que os preços poderiam afundar mais, o mercado recuperou em simpatia com praticamente todas as outras commodities, e encerrou o dia nas altas. Na quarta-feira e na sexta-feira (quinta foi feriado), os preços escorregaram de novo, porém os dois pregões tiveram volumes bem abaixo da média.

O mercado londrino, que no meio de outubro ajudou o arábica na ICE a subir, agora pode ser o vilão e levar o contrato americano para baixo. O aumento de disponibilidade de grãos no Vietnã, e o interesse dos produtores locais em garantir os preços atuais, tem sido responsáveis pela falta da capacidade do mercado futuro em sair das mínimas. Nova Iorque tem uma figura técnica negativa também, o chamado “ombro-cabeça-ombro” (head-and-shoulders), que aponta para uma queda dos preços para US$ 175.15 centavos caso o contrato de março de 2011 rompa US$ 198.30 centavos. É mercado de gente grande!!

Olhando para o mercado físico podemos notar que a entrada da safra dos cafés suaves da Colômbia e América Central trouxeram os diferenciais para patamares mais próximos dos níveis históricos, e com isso o lavado brasileiro cai nominalmente para diferenciais de apenas um dígito positivo. Cafés brasileiros naturais foram vendidos com diferenciais largos, com negócios reportados até o final de 2011 – nada em volume muito grande.

Para finalizar vale notar que o volume de dinheiro investido nos mercados de commodities subiu de 321 bilhões de dólares para 344 bilhões em outubro. Considerando o ano de 2010 o incremento é de 7.2 bilhões até agora, em comparação com o mesmo período em 2009. Resta saber quanto mais será investido neste tipo de ativo, ou pior (baixista), como se comportará o investidor caso o dólar continue a valorizar.

Com o ano acabando, parece que o Brasil apenas aparecerá para vender a bolsa caso ela venha a subir novamente, ou caso o real desvalorize. Entretanto outras origens ainda precisam vender, e para complicar um pouco, da mesma forma que os fundos de investimento ajudaram a levar o mercado para cima, uma liquidação parcial deles pode causar fraqueza no curto-prazo. Para quem precisa vender, é bom aproveitar, pois como sempre escreve o consultor que abriga estes comentários: “lucro não quebra ninguém”.

Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting 

Fonte: Archer Consulting

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