Roteiro na Colômbia valoriza fazendas de café, natureza e cidades históricas
Eixo Cafeeiro é um dos orgulhos do país e uma das principais atrações
O eixo fica no oeste da Colômbia, no centro do triângulo formado por Bogotá, Medellín e Cali. Entre as faixas ocidental e central da Cordilheira dos Andes, é formado pelos departamentos de Caldas, Risaralda e Quindío. É uma paisagem de montanhas verdes, com vegetação que lembra a Mata Atlântica. Apesar de estarmos próximos da zona equatorial, a temperatura é amena o ano inteiro (média entre 20°C e 22°C), e quase todo dia inclui névoa, sol e garoa. Em 2011, a região foi declarada pela ONU um Patrimônio da Humanidade por suas características geográficas, econômicas e culturais únicas.
— Em torno do café cresceu uma civilização mestiça, baseada na pequena propriedade familiar e na vida comunitária — diz Yohany Gavíria, guia turístico da região, logo citando o carro que aposentou mulas e virou símbolo do eixo. — Se um jipe pifar numa ladeira, vai juntar gente para ajudar no conserto. No mínimo, vão consolar o motorista (risos). Somos um povo muito gregário e acolhedor.
Além da visita e estada em fazendas — que variam de locais rústicos até hotéis-butique —, os atrativos da região são o turismo de natureza, com caminhadas e cavalgadas. Já nas cidades típicas pode-se apreciar a arquitetura, o artesanato e a gastronomia locais. Além, claro, de um excelente café.
Vilas dos Andes unem arquitetura e artesanato
Quem viaja para o Eixo Cafeeiro pode optar por uma base urbana, ficando em capitais regionais como Manizales ou Pereira, esta com aeroporto onde chegam voos de todo país (a cerca de uma hora de voo de Bogotá, ou 315km de estrada). Mas para viver a experiência do agroturismo, o melhor é se hospedar na zona rural.
Nos últimos anos, muitas fazendas antigas foram convertidas em hotéis. Na Hacienda Castilla, na área rural de Pereira, por exemplo, os quartos ao redor do pátio central mantêm móveis e portas antigos. Na mesma cidade, o Hotel Boutique Sazagua aposta em decoração colonial com quartos modernos. Comuns na região, águas vulcânicas são os atrativos nas termas Santa Rosa de Cabal, em Risaralda, e nas Termales del Otoño, en Caldas.
Outra opção é se hospedar em fincas cafeteras como a Hacienda Venecia, em Manizales. Nesses locais, hóspedes e visitantes podem ver como o grão é colhido, torrado, moído, preparado e melhor servido, seguindo o padrão gourmet, sem açúcar ou adoçante. Vale ressaltar que, por características do solo e do clima, as sementes colombianas são naturalmente menos amargas do aquelas com que estamos acostumados no Brasil. Graças a essa “doçura natural” — além de um marketing certeiro com o personagem chamado Juan Valdez —, o café colombiano conquistou o mercado internacional.
Em tempo: o limite de quanto café você pode trazer do exterior não é de volume, mas de valor. Pode-se entrar no Brasil com até US$ 500 em café solúvel, torrado ou moído. Grãos são barrados pela vigilância sanitária.
Mas de volta ao Eixo. Em meio aos cafezais, contribuindo para a riqueza do solo, são cultivadas frutas nativas que desbancam outras. No menu dos restaurantes, onde os destaques são “pratos feitos” de origem camponesa, é comum não haver suco de laranja. Marcam presença bebidas de lulo, uchuva, zapote e guanábana — proparoxítona que vai muito bem com leite.
— Nosso clima é ótimo, qualquer coisa cresce aqui — diz Manuel Carrascal, um dos proprietários da Finca Don Manolo, onde se planta café, milho, banana e cacau.
Pelas estradas, a cada momento surgem motivos para encostar e tirar uma foto: vales belíssimos, cascatas caudalosas e até picos nevados como o Del Ruiz, com 5.321 metros de altura.
Uma empreitada popular é o Vale do Cocora, onde cresce a palma de cera. Árvore nacional da Colômbia, ela atinge 60 metros e corre risco de extinção — assim como o urso-de-óculos, o bugio-vermelho e o condor-dos-andes, todos habitantes da área.
Por falar em condor, a região é um paraíso dos birdwatchers: são 1.932 espécies de aves, 20% de todas que existem na Terra.
Em meio a paisagens exuberantes surgem cidadezinhas charmosas como Salento e Filandia, cujo nome significa “filha dos Andes”. Elas conservam a arquitetura trazida pelos colonos da cidade de Antióquia, marcada porfachadas coloridíssimas. Em suas ruas estreitas pode-se visitar lojas de suvenires, tomar (mais um) café ou até deixar o tempo passar num dos “salones”, instituições colombianas que misturam sinuca, bar, café, espaço da terceira idade e música de uma castigada coleção de vinis.
Na Praça Bolívar, a principal de Filandia, está sentado Oscar Naranjo, 70 anos. Com bengala, chapéu feito à mão e um típico poncho arriero, ele observa os turistas com desconfiança e quer saber de onde sou. Quando conto que vou falar de sua região no Brasil, ele pede:
— Diga que o café é bom, mas o povo também.
SERVIÇO
Onde comer
FILANDIA
Helena Adentro. helenaadentro.com
LA TEBAIDA
Rancho Éden. ranchoeden.com
SALENTO
Café Jesús Martín. cafejesusmartin.com
Fonda El Escobal. Km 5 da Via al Valle de Cocora. Tel. +57 (314) 618-3381
Onde ficar
MANIZALES
Hacienda Venecia.Diárias a partir de R$ 25, com café da manhã. haciendavenecia.com
PEREIRA
Hacienda Castilla. Diárias a partir de US$ 79, com café da manhã. haciendacastilla.com
Hotel Boutique Sazagua. Diárias a US$ 100, com café da manhã. sazagua.com
SANTA ROSA DE CABAL
Termales Santa Rosa de Cabal. Ingresso por US$ 9 (R$ 36). Aberto diariamente das 9h às 22h. Site: termales.com.co
PEREIRA
BioParque Ukumari. Ingressos por US$ 7 (R$ 28). Aberto das 9h às 17h, todos os dias. Site: ukumaripereira.com
Emiliano Urbim viajou a convite da ProColombia
POR EMILIANO URBIM. Fonte: O Globo