Robôs fazem 50% das operações de mercado nos EUA

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As Bolsas americanas despencaram tão rapidamente na última segunda-feira que o consenso nesta terça-feira em Wall Street era que aquilo não podia ser coisa de gente. Segundo analistas, apenas “robôs” de investimento poderiam fazer com que o Dow Jones perdesse mais de 820 pontos em intervalo de apenas seis minutos. Surgida no fim dos anos 1980, a tecnologia que delega a algoritmos decisões de investimento se popularizou nos últimos anos e já responde por metade do volume negociado no mercado americano. Sua autonomia, porém, ainda desperta desconfiança.

Uma das características dos robôs é o fato de poderem movimentar ativos em alta frequência — ou seja, comprar e vender papéis em milissegundos, a milésima parte do segundo — seguindo parâmetros preestabelecidos pelo gestor. Isso permite aos investidores, por exemplo, arbitrar o preço de uma ação negociada em dois mercados distintos. Exemplo: ao “verem” o papel se desvalorizar em Wall Street, os robôs conseguem vendê-la antes que a Bolsa de São Paulo registre a mudança.

A disputa por tempo é tamanha que as companhias que operam em alta frequência pagam fortunas para instalar seus computadores apenas alguns centímetros mais próximos aos servidores da Bolsa de NY. Em “Flash Boys”, o escritor Michael Lewis acusou essa tecnologia de roubar investidores comuns ao “enxergar” as cotações antes deles.

O problema é que, se algo der errado, dificilmente alguém conseguirá agir antes de um estrago milionário. Em 2010, robôs fizeram com que o Dow Jones perdesse e recuperasse 600 pontos em pouquíssimos minutos, no chamado flash crash. Em 2012, um “bug“ no algoritmo da firma americana Knight Capital fez com que ela perdesse US$ 440 milhões em apenas 45 minutos.

A decisão de um grupo de robôs pode desencadear a de outro antes que qualquer humano entenda o que está acontecendo. Eles podem executar o chamado stop loss, que vende determinado papel caso ele caia abaixo de uma cotação mínima determinada pelo investidor. Na segunda-feira, quem aplicava em títulos que apostavam na baixa volatilidade do mercado se viu forçado a levantar dinheiro rapidamente para cobrir suas posições nesses papéis assim que os oscilações de mercado se acentuaram. Os algoritmos podem ter desencadeado a venda de ações para fazer frente àquele revés.

Fonte: O Globo (Por Rennan Setti)

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