Retrospectiva: Preços do Café subiram quase 70% em 2010

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O mercado internacional de café teve em 2010 um ano marcado por muita volatilidade, mas, principalmente, marcado por fortes altas nas cotações. Na Bolsa de Nova York , que baliza os preços no mundo, a alta foi de quase 70% no balanço do ano. São os níveis mais altos em mais de 13 anos. E no Brasil os cafeicultores que iniciaram o ano sonhando com o café em R$ 300,00 a saca, observam o arábica acima de R$ 400,00 a saca.

Como em outros mercados, o café subiu e desceu ao longo do ano com as instabilidades da economia mundial e as oscilações do dólar contra outras moedas. Mas os fundamentos falaram mais alto e determinaram os ganhos hoje acumulados em 2010. O quadro é de aperto da oferta em relação à demanda há algumas temporadas, com estoques recuando e com preocupações especialmente em relação à disponibilidade de cafés arábica lavados de alta qualidade, como os produzidos na Colômbia e América Central, depois de duas temporadas de problemas nas safras.

O Brasil colheu em 2010 uma safra recorde, de mais de 50 milhões de sacas,em ano de ciclo alto produtivo dentro da bienalidade cafeeira. Ainda assim, é pouco para um mercado internacional bem ajustado em termos do que produz e do que consome, principalmente com o Brasil tendo crescimento constante no consumo e com exportações recordes.

A Organização Internacional do Café (OIC) indicou para 2007 produção mundial de 119,2 milhões de sacas e consumo de 128,4 milhões de sacas, gerando déficit naquele ano de 9,2 milhões de sacas. Em 2008, safra global de 128,1 milhões de sacas e consumo em 130,6 milhões (déficit de 2,5 milhões). Para 2009, a OIC estimou produção em 119,8 milhões e demanda de 129 milhões, caindo em função da crise global, havendo ainda assim um déficit de 9,2 milhões de sacas. Somente agora em 2010 com uma grande safra brasileira a OIC estima superávit na oferta entre 2 a 3 milhões de sacas, com uma safra mundial de 133 milhões de sacas para consumo de 130 a 131 milhões.

Afora esse cenário de queda nos estoques mundiais nos últimos anos, o mercado vê com preocupação a virada para 2011. Há escassez na oferta principalmente de cafés de melhor qualidade. Depois de duas temporadas com safras menores, esperava-se uma recuperação muito significativa da produção na Colômbia e América Central. Entretanto, a Colômbia enfrentou problemas com excesso de chuvas. E a safra que poderia superar 10 milhões de sacas em 2010 já está estimada em no máximo 9 milhões. E a América Central também teve suas dificuldades com a passagem de tempestades tropicais, prejudicando a produção de café. Para completar o quadro altista para preços, e que vem determinando os ganhos no mercado internacional, em 2011 o Brasil vai colher uma safra menor dentro do ciclo bienal produtivo.

O analista de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, destaca que o ano foi especial para o produtor brasileiro. "Nem o mais entusiasta, antes de iniciar 2010, diria que o café subiria o que subiu, em um ano em que o Brasil colheu uma safra recorde", comenta. Ele lembra que o café passou o primeiro semestre quase inteiro se arrastando sem atingir sequer R$ 300,00 a saca. "A aproximação de uma safra grande e a falta de força do mercado tirava o sono dos produtores", comenta.

Barabach observa que o mercado depois iniciou a escalada com a preocupação com os problemas na Colômbia e a falta de cafés suaves (arábicas lavados). "Faz tempo que o mundo do café trabalha no limite, produzindo abaixo de sua necessidade, com estoques intensificando a linha média de queda. E isso foi tornando cada vez mais vulnerável o abastecimento. E essa condição ficou insustentável diante da redução na oferta da Colômbia. E não adiantava de nada a safra recorde no Brasil, pois o que falta no mundo é café suave", ressalta. "Enfim, a situação que já estava ruim, ficou pior em termos de oferta", levando em conta as notícias de prejuízos nas safras da Colômbia e também América Central.

E não foi só preço que o produtor brasileiro viu ganhar terreno, o café nacional também ganhou exposição mundial dentro de segmentos em que antes lhe era negado. "A carência na oferta de cafés suaves fez o mundo olhar para o Brasil, onde encontrou no cereja descascado uma válvula de escape. Quem produziu cereja vendeu rapidamente no mercado, dada a aceitação. Os cafés de bebidas mais finas também tiveram ampla aceitação e ágios elevados em relação às outras bebidas", analisa Barabach.

O mercado entrará em 2011 ainda com tendência positiva para as cotações internacionais, tendo em vista que se acirra o quadro de aperto na oferta com uma safra brasileira menor no ano. Cabe ao produtor saber administrar o momento e aproveitar os picos de preço para se capitalizar, pensando à frente em termos de tendência. Bom lembrar que no segundo semestre o mercado passará a olhar para a safra 2012, que será novamente de alta produção brasileira e isso pode deprimir as cotações.

"Pensando em termos de cafeicultura mundial, é a hora do Brasil. Tudo aponta para um reposicionamento do produto brasileiro no cenário mundial, o que será extremamente benéfico para toda a cadeia café", conclui Barabach.

BALANÇO

No balanço anual na Bolsa de Nova Iorque, o contrato março fechou o último dia de negócios do ano passado (31 de dezembro de 2009) em 135,95 centavos de dólar por libra-peso e fechou no dia 22 de dezembro (quarta-feira) a 230,20 cents/lb, o que representa uma alta no comparativo de 69,3%.

O mercado físico brasileiro de café seguiu os ganhos externos, embora o dólar esteja em patamares baixos, abaixo de R$ 1,70. No balanço do ano, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais fechou o último dia de 2009 (31 de dezembro) a R$ 275,00 a saca de 60 quilos, e chegou no dia 22 de dezembro de 2010 a R$ 428,00 a saca, acumulando no período uma alta de 56%.

Fonte: Safras & Mercado 

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