Reportagem Estado de Minas: Em busca do café perfeito

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Dez cafeterias que estão mudando o jeito de consumir café em Belo Horizonte

O Estado de Minas ouviu a nova geração de especialistas que tem feito o mineiro a redescobrir o verdadeiro sabor deste ouro verde.

Impulsionado por consumidores cada vez mais preocupados com a origem do produto e na esteira do crescimento dos produtos artesanais, o fenômeno mundialmente conhecido como terceira onda do café chegou de vez a Belo Horizonte. A abertura nos últimos meses de cafeterias especializadas em extrair o melhor do grão mostra que a busca por cafés especiais se firma como tendência de mercado e com enorme potencial a ser explorado, uma vez que pouco mais de uma dezena de casas na capital mineira oferecem ao cliente informações desde a origem do grão à escolha do método de preparo – do tradicional cafezinho de coador à extração mais sofisticadas, como aeropress, chemex e prensa francesa.

É um público que veio formando o paladar com vinhos, que passou a buscar cervejas artesanais e, agora, percebe que o café comercial está abaixo do que a bebida pode oferecer. Esse consumidor está mais exigente, atrás de novas experiências”, conta Guilherme Costa, sócio da Noete Café Clube. A marca, que começou como um clube de assinaturas, torrando cafés especiais em uma garagem do Bairro Jardim América, inaugurou em julho uma casa sofisticada no Santo Antônio.

A Noete se junta a casas pioneiras como Café Kahlua, no Centro; Academia do Café, que abriu em 2011 como escola e laboratório e se tornou referência no país; e a novos endereços como Oop e Intelligenza, que abriram neste segundo semestre, na Savassi.

Segundo os sócios Guilherme e Daniel Cabral, o número de assinaturas da Noete triplicou em um ano. São planos que variam de R$ 31,90 (250g de café, em grãos ou moídos) a R$ 49,90 (500g). Os números e o comportamento dos consumidores – a maioria homens, de 20 a 40 anos –, confirmam a tendência. “Além de o número crescer, o assinante foi evoluindo. Quem assinava 250g migrou para 500g e, em vez de moído, hoje pede em grãos, pois já se acostumou a moer em casa, diversificou os métodos”, comenta Daniel.

Noete: das assinaturas para a cafeteria no Santo Antônio (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)
Noete: das assinaturas para a cafeteria no Santo Antônio (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)

Terceira onda do café foi uma expressão criada no início dos anos 2000, mas que se popularizou apenas nos últimos anos. Segundo o Relatório Internacional de Tendências do Café, divulgado no início do mês pelo Bureau de Inteligência Competitiva do Café da Universidade Federal de Lavras (UFLA), o fenômeno “está ligado à percepção do café como produto artesanal, que se se diferencia por inúmeros atributos, como origem, torra e método de preparo”.

ETAPAS
O período é um avanço em relação à primeira onda – quando houve aumento do consumo em decorrência da modernização do processamento e comercialização, pós-Segunda Guerra –, e da segunda onda –, quando foi introduzido o conceito de cafés especiais, com a popularização do café expresso e o surgimento de redes como Starbucks, a partir dos anos 1960.

“Nos últimos três, quatro anos, esta tendência de mercado se fortaleceu, muito impulsionada por jovens, seja no consumo, seja no interesse em se envolver com este universo: torrando e moendo os próprios grãos, frequentando casas especializadas”, afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Nathan ressalta ainda o potencial do consume do café em casa. “O segmento de cápsulas vem crescendo exponencialmente, com previsão de crescer 18% nos próximos anos. Tudo isso faz parte da busca por novas experiências.”

OPORTUNIDADE
Além da Noete, outras duas casas foram abertas neste segundo semestre dedicadas exclusivamente aos cafés especiais: a Intelligenza e a Oop, mbas na Savassi. A Oop começou há quatro meses pelos sócios Tiago Damasceno e Adriene Cobra, que se conheceram no mercado financeiro. “Fizemos pesquisa de mercado. Estivemos em São Paulo, onde o mercado é mais maduro, percebemos que Belo Horizonte tinha grande potencial e a abertura dessas casas aconteceria inevitavelmente, uma vez que é um movimento mundial”, conta Tiago.
Ramon Lisboa/EM/D.A. Press

A barista Victória Magó e os sócios Tiago Damasceno e Adriene Cobra, do Oop (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)
A barista Victória Magó e os sócios Tiago Damasceno e Adriene Cobra, do Oop (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)

Tiago, paraense, e Adriene, de família de cafeicultores de Alfenas, no Sul de Minas, apostaram em uma casa moderna, com um longo balcão para conversar com os clientes. “Nossa missão é formar público. Gostamos de conversar, mostrar o processo, desmistificar o café. Muita gente tem medo por causa do nome ‘especial’, pensa logo ser muito mais caro, mas muitas vezes o preço é um pouco mais alto que o convencional”, conta Adriene.

PALADAR APRIMORADO
Educar o público continua sendo o grande desafio para as cafeterias que estão apostando suas fichas em oferecer toda a diversidade que o café oferece. Os desafios diários vão desde convencer o usuário a aposentar o açúcar até explicar que o método de preparo vai muito além do coador de pano que todo mundo se acostumou desde criança.

“No início a gente sofria demais, teve gente que falava que não tomaria aquela ‘água de batata’. A gente ia explicar os métodos e as pessoas ficavam desconfiadas”, conta Júlia Fortini, diretora comercial da Academia do Café, referência em Belo Horizonte na formação de baristas (desde 2011) e em oferecer cafés especiais ao cliente. “Hoje já está mudando, nos procuram curiosas, porque sabem que aqui tem diversos cafés. Também há uma mudança na cultura do consumo, com as pessoas mais preocupadas em saber de onde vem o produto, gostam de saber quem é o produtor. A cerveja ajudou muito na formação deste público”, conta Ivan Totti Heyden,diretor de qualidade da casa.

Júlia e Ivan, da Academia do Café: educar o público é o desafio (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)
Júlia e Ivan, da Academia do Café: educar o público é o desafio (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)

TREINAMENTO

A Academia funciona em uma casa aconchegante na Rua Grão Pará, no Funcionários, aberta em 2013 por Bruno Souza, da quarta geração de uma família produtora do Cerrado Mineiro. Praticamente todos os baristas ou empreendedores que se envolveram com o universo do café nos últimos anos passaram pela Academia, em cursos que vão de workshop de extração (R$ 380) para o público em geral a cursos de torra (R$ 3.500) e de barista (R$ 950), com certificação da Associação de Cafés Especiais da Europa (SCAE).

Júlia e Ivan ainda destacam a união entre os baristas e cafeterias. “Como café especial ainda é mundo muito pequeno, a gente tende a se unir para expandir o mercado no Brasil”, conta Júlia. “Quem busca café especial em um lugar, busca em outros. A gente se indica. Quanto mais gente oferecendo, melhor para o produtor, melhor para as cafeterias, melhor para o consumidor”, conta Ivan.

Fonte: Estado de Minas (Por Renan Damasceno)

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