Relatório estima redução de 40,7% da safra de café em 2021
O trabalho estima que 193 mil hectares de área cultivada com café foram atingidos no estado e poderá haver uma redução de safra de 20,7%, em 2021. Ao considerar o efeito da bienalidade negativa, que em média já proporciona normalmente uma queda aproximada de 20% entre uma safra e outra, a estimativa percentual de perda para este ano se eleva para 40,7%. Além disso, avalia-se que aproximadamente 15 mil cafeicultores tiveram as lavouras afetadas pelas intempéries climáticas, especialmente pelo déficit hídrico.
As informações foram coletadas junto a produtores, cooperativas e entidades representativas do setor. O levantamento obteve respostas em 322 municípios produtores de café e os dados foram consolidados pelo Departamento Técnico da Emater-MG e pela Gerência Técnica e Gerência de ATeG do Sistema Faemg/Senar/Inaes. Os municípios participantes foram agrupados em 4 macrorregiões: Sul de Minas, Chapada de Minas, Matas de Minas e Cerrado Mineiro.
Da amostra, 218 municípios relataram a ocorrência de alguma intempérie climática no período de julho a novembro de 2020, mas em alguns municípios ocorreu mais de um fenômeno climático. “No ano passado, de agosto a outubro, praticamente não choveu nada. A planta busca água no solo para se manter e desenvolver, por isso a seca foi o que mais afetou os cafezais mineiros”, comenta o coordenador técnico de Cafeicultura da Emater-MG, Julian Carvalho, um dos responsáveis pelo estudo. O déficit hídrico atingiu 55,9% dos municípios e as altas temperaturas médias, 42,5%. Também foi observada a ocorrência de granizo (9,3%) em 30 municípios.
Queda na safra
Em 65,2% dos municípios, os produtores tiveram suas lavouras afetadas, sendo que em 20,8% dos municípios consultados, mais de 150 produtores em cada município tiveram suas lavouras atingidas. A ocorrência da seca traz expectativa de redução na produção da safra 2021, podendo interferir, também, em safras futuras. No último ano, a partir de setembro, foi registrado um aumento de temperatura, ficando acima de 25°C, e é nessa época que ocorre a floração da planta. “O café tem várias fases fenológicas (florada, frutificação, etc). Quando alguma intempérie atinge uma fase, a planta pode ter uma produção menor e ainda poderá ter uma perda na qualidade dos frutos, o que reduz a rentabilidade do agricultor”, argumenta o coordenador da Emater-MG, empresa vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
O relatório mostra que, em 73,1% dos municípios que relataram perdas, a frutificação foi comprometida com intensidade de média a alta. A influência negativa na frutificação do cafeeiro poderá comprometer a produção na safra a ser colhida em 2021, em volume e qualidade (redução do tamanho e peso dos grãos). O estudo aponta ainda que, em 60,1% dos municípios que relataram perdas, os tratos culturais foram comprometidos com intensidade de média a alta. Os atrasos das atividades nas lavouras fazem com que o sistema produtivo se torne menos eficiente. Como consequência, poderá diminuir a rentabilidade das lavouras, prejudicando a próxima safra e também safras futuras.
A expectativa é haver uma redução na produção cafeeira dos municípios produtores em Minas Gerais, devido às intempéries climáticas da ordem de 21,2% para o café arábica sequeiro e de 13,2% para o café arábica irrigado, sem contar o efeito da bienalidade. Em termos de volume é esperada a redução total em torno de 10,3 milhões de sacas na safra mineira de café arábica. Com isso, o levantamento aponta uma projeção da safra 2021 da ordem de 17,9 milhões de sacas.
O coordenador de Cafeicultura da Emater-MG, Julian Carvalho, esclarece que a condição demonstrada no relatório reflete um estágio avaliado em janeiro de 2021, podendo ocorrer mudanças em virtude de tratos culturais e condições climáticas. Por isso, a perda para a safra 2021 poderá ser maior ou menor à estimada e é esperado também um reflexo dos problemas ocasionados em 2020 para a safra 2022.
Ajuda aos produtores atingidos
O diretor técnico da Emater-MG, Feliciano Nogueira, explica que a realização do levantamento surgiu, no segundo semestre de 2020, da parceria entre a Emater-MG e o Sistema Faemg/Senar/Inaes, com o propósito comum de apoiar os cafeicultores atingidos por intempéries. Segundo Feliciano, o estudo será um importante subsídio para a formulação de políticas públicas para o setor.
“O levantamento dá mais clareza sobre essa provável perda na safra de café em 2021, que já seria menor devido à bienalidade negativa. As intempéries exigem um cuidado mais intenso com as lavouras e o agricultor pode precisar de um suporte mais técnico, de crédito ou seguro rural. Ter uma estimativa possibilita que o governo se articule junto aos agentes financeiros, associações e cooperativas para buscar estratégias e políticas públicas a fim de minimizar prejuízos”, argumenta o diretor da Emater-MG.
De acordo com o vice-presidente da Faemg e presidente das comissões de Cafeicultura da entidade e da CNA, Breno Mesquita, diante da constatação das perdas, algumas medidas já estão sendo tomadas para ajudar os produtores atingidos. “Em cima dessa perda de mais de 40% em relação a 2020, a CNA e a Faemg, com apoio de outros setores da cafeicultura brasileira, conseguiram a aprovação de uma linha de crédito de R$150 milhões, justamente para o cafeicultor que sofreu com a seca. Assim ele pode se financiar, com carência de dois ou três anos, e passar a fase de baixa produção em condições de cuidar da sua lavoura e tocar o seu negócio”, esclarece Mesquita.