Queda de preço afeta renovação de cafezais

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Intenso em 2011, quando gerou uma demanda capaz de provocar falta de mudas no mercado, o processo de renovação de cafezais no país poderá ser prejudicado neste ano pela queda dos preços internacionais do grão nos últimos meses. O Conselho Nacional do Café (CNC) estima que metade das encomendas de mudas para plantio em 2012 já esteja comprometida Além disso, muitas mudas cultivadas neste início de ano em algumas regiões foram perdidas em razão de doenças.

Nas contas do CNC, todas as cerca de 100 milhões de mudas de café produzidas no Brasil no ano passado foram vendidas, no embalo dos preços elevados praticados no mercado, estimulantes para novos investimentos. O conselho inicialmente esperava uma demanda semelhante em 2012, mas ficou bem mais pessimista depois de recentes consultas ao setor produtivo. A expectativa é que mesmo encomendas ainda não revistas talvez não sejam utilizadas, o que pode comprometer, em um futuro próximo, a oferta do país, que lidera os rankings globais de produção e exportação de café.

Mas o pessimismo do CNC não é geral e é encarado com muitas ressalvas pelo Grupo Técnico de Café, formado por profissionais independentes, pesquisadores e auditores de campo que atuam nas cinco principais regiões produtoras do país. José de Paula Galvão Júnior, presidente do grupo no sul de Minas, polo de produção de cafés de qualidade superior, não acredita que a renovação será interrompida. "O produtor descobriu que a saída para a sobrevivência dele no mercado depende disso", diz Galvão Júnior.

Segundo o grupo técnico, 95% das mudas plantadas recentemente (entre dezembro e fevereiro) são destinadas à renovação dos cafezais, e apenas 5% para ampliações de áreas de plantio. Com estatísticas bem distintas das do CNC e sem estimar o volume efetivamente vendido, o grupo estima que foram produzidas 164 milhões de mudas no país de dezembro para cá. Entre 20% e 30% desse total, entretanto, foi perdido por causa de doenças que ganharam força com o clima úmido de dezembro e janeiro.

Esse volume de produção refere-se apenas às regiões do Cerrado mineiro, Mogiana e sul de Minas, que juntas representam cerca de 55% do parque cafeeiro do país. A renovação é feita basicamente de duas maneiras: substituição por novos materiais ou aplicação de podas.

Éder Ribeiro dos Santos, produtor de mudas em Monte Santo de Minas, no sudoeste mineiro, concorda que a renovação ganhou força com os bons preços de 2011 e acredita que a demanda vai se manter firme, mas informa que foi prejudicado pela incidência da bacteriose, doença caracterizada por lesões de coloração parda nas folhas que pode provocar a desfolha dos ramos. A bactéria apareceu com as temperaturas mais amenas e as chuvas de janeiro.

Do fim de 2011 até fevereiro, Santos disponibilizou 1,5 milhão de mudas, mas só 1,1 milhão foram efetivamente cultivadas na região. A bacteriose provocou a perda de 400 mil mudas, um prejuízo calculado em R$ 120 mil. O número total de mudas cultivadas pelo produtor foi 120% maior na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Este ano, as mudas foram vendidas por R$ 300 a R$ 350 o milheiro. Quem não fez encomendas, pagou mais caro – entre R$ 450 e R$ 500. As encomendas para 2013, que geralmente são feitas a partir de abril, foram estabelecidas por preço entre R$ 350 e R$ 400 o milheiro. Como resultado da maior renovação dos cafezais nos últimos anos, Santos acredita que as plantas terão maior longevidade e a produtividade pode ser maior. Mas isso se o clima colaborar.

Em Minas Gerais, líder em café do país, foram produzidas 120 milhões de mudas em viveiros regularmente inscritos no Serviço de Fiscalização de Insumos Agrícolas da Superintendência Federal de Agricultura no ciclo 2011/12. O órgão não tem controle sobre a comercialização e não há dados precisos sobre a quantidade de mudas que foram cultivadas nas propriedades. Mesmo assim, o serviço informa que houve escassez de sementes para a produção de mudas, em razão da demanda aquecida.

O coordenador estadual da Emater de Minas Gerais, Marcelo de Pádua Felipe, disse que chegou a faltar muda, principalmente em determinadas regiões onde não havia renovação e no Cerrado mineiro, onde houve expansão de área. "Houve uma demanda maior, estimulada pelo preço do produto e pela necessidade do produtor em eliminar algumas áreas e colocar outras mais rentáveis para tornar mais competitiva a atividade", resume. Mas ele também acredita que, com a queda dos preço do café, o produtor pode ter desanimado e modificado os planos de compra de mudas. Minas Gerais estabeleceu em 2011 a meta de renovar, todo ano, em torno de 5% de seu parque cafeeiro de 1 milhão de hectares.

Em São Paulo, a demanda por mudas no início deste ano foi muito superior à do ano passado, segundo Celso Vegro, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA). Segundo ele, em anos "convencionais" são produzidas de 6 milhões a 8 milhões de mudas na região da Alta Mogiana, mas para o plantio neste início de 2012 houve uma demanda por 25 milhões de mudas. E parte delas, em volume não identificado, também foi para Minas Gerais. "Grande parte dessa demanda foi para novas áreas e não para renovação". Conforme Vegro, em São Paulo faltou muda, pois os viveiristas não tinham sementes suficientes.

Fonte: Valor

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