Qualidade deve ser o foco da colheita de café

Imprimir

A colheita do café se inicia nas principais regiões cafeeiras, com estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) para uma safra em torno de 47 milhões de sacas. Muitos produtores estão atentos aos cuidados essenciais para a manutenção da qualidade no período de colheita e pós-colheita. No entanto, a qualidade final da bebida, segundo especialistas da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), reflete um cuidado que abrange toda a atividade, desde a formação da lavoura ao manejo adotado seguindo boas práticas agrícolas. Na prática, para a obtenção de cafés de boa qualidade, torna-se fundamental a elaboração de um planejamento adequado que envolva todo o processo produtivo do café.

Na avaliação da pesquisadora da EPAMIG, Sara Maria Chalfoun, especialista na área de fitopatologia e microbiologia, a qualidade do café é construída durante todo o processo produtivo, resultando em um produto com histórico carregado de valores tangíveis e também intangíveis. Além de apresentar características sensoriais e físicas desejadas, o café deve estar livre de resíduos de qualquer natureza, sejam químicos ou metabólicos tóxicos produzidos por microorganismos.

Chalfoun argumenta que um produto final com características preservadas deve incluir o respeito ao ambiente e ao ser humano. Assim, a qualidade sinaliza também a adoção de boas práticas agrícolas, como a seleção de produtos menos agressivos, a otimização de sua aplicação e a observação dos períodos de carência. “É o sistema passível de rastreabilidade que vai conquistar cada vez mais a apreciação dos consumidores”, destaca.

A pesquisadora explica que ao amadurecer na planta, os fruto já iniciam a quebra de resistência natural contra microorganismos. Deve-se, portanto, ser adotado um manejo adequado para que não ocorra a fermentação indesejada nos frutos e nos grãos já colhidos. Ela orienta ainda que em regiões de elevada umidade de ar, deve haver uma integração de medidas de controle, não sendo, neste caso, recomendado o adensamento. Além destes cuidados, a colheita deve ser preferencialmente no pano, evitando-se o contato com o chão.

Ao longo da observação destes microorganismos, Sara Chalfoun e sua equipe de pesquisa, o professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Carlos José Pimenta e Marcelo Cláudio Pereira, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), identificaram que o microorganismo Cladosporium cladosporioides estava associado ao café de boa qualidade. Apelidado de “fungo do bem”, o produto tem potencial para preservar os frutos presentes nos cafeeiros e que secam na planta antes da colheita, para que não sejam comprometidos por fungos prejudiciais.

A reincorporação deste fungo saprófito à lavoura inibe a ação nociva de outros fungos, como agente bioprotetor da qualidade do produto final. A tecnologia está em fase de transferência para produção em larga escala. O fungo do bem já é produzido em uma biofábrica na Universidade, construída com o apoio articulador do Polo de Excelência do Café (PEC/Café).

Fatores relevantes

De acordo com o pesquisador da EPAMIG na área de colheita, pós-colheita e qualidade do Café, Marcelo Ribeiro Malta, a produção de cafés de qualidade vai depender de uma série de fatores, que somados vão exprimir o potencial de qualidade de determinado lote de café. Esses fatores já se iniciam com a escolha da região de cultivo, devido as condições edafoclimáticas que contribuem de maneira significativa na obtenção de cafés de qualidade diferenciada. Normalmente, regiões de maiores altitudes contribuem para a obtenção de cafés de melhor qualidade. Além disso, a escolha da cultivar que possua aptidão para região poderá influir no potencial de qualidade final do produto.

Atenção deve ser redobrada nos processos de colheita e pós-colheita do café (processamento, secagem e armazenamento), pois mesmo que a condução da lavoura cafeeira no campo tenha sido adequada, a qualidade pode se perder se as etapas posteriores não forem bem realizadas. Marcelo Malta reforça que a colheita deve ser realizada com o máximo de frutos maduros e o processamento ser o mais rápido possível, sem deixar os frutos amontoados na lavoura ou mesmo na unidade de processamento, seja por via seca ou úmida. O especialista comenta que muitos produtores expandem a área de produção sem o cuidado de redimensionar toda a estrutura da pós-colheita do café (processamento, secagem e armazenamento), perdendo assim a qualidade do café obtida na fase de campo.

Fonte: Polo de Excelência do Café

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *