Programa ATeG alcança importantes resultados nas Matas de Minas e Sul do estado

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O programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Minas) chega ao final de 2017 com reuniões de benchmarking (processo de avaliação comparativa para analisar e incorporar métodos de trabalho cada vez melhores) com os cafeicultores participantes. Nos encontros, a equipe do ATeG apresenta e avalia os dados do biênio 2016-2017. Implantado no último ano, o programa é inédito no estado e tem como finalidade ajudar os produtores a vencer desafios a partir da transferência de tecnologia associada à consultoria gerencial.

Seiscentos cafeicultores são beneficiados nas Matas de Minas e no Sul do estado em 42 municípios. Cada técnico monitora e orienta um grupo de 30 produtores. São realizadas visitas mensais. A metodologia do programa está fundamentada em cinco etapas: diagnóstico produtivo individualizado, planejamento estratégico, adequação tecnológica, capacitação profissional complementar e avaliação sistemática de resultados. A previsão de duração é de quatro anos.

As reuniões de benchmarking estão sendo realizadas desde novembro e o último encontro será nesta quinta-feira (21) em Manhumirim. Os dados de 2017 foram colhidos no decorrer deste ano pelos técnicos e os referentes a 2016 foram compilados a partir das informações repassadas pelos produtores. Ao analisar o biênio, a avaliação torna-se mais completa e precisa.

Segundo o supervisor dos técnicos, Daniel do Prado, nas reuniões são apresentadas informações sobre receita, custos fixo e variável e o impacto na propriedade, entre outros temas. Neste momento, os dados colhidos pelos técnicos retornam aos produtores para contribuir para a tomada de decisão. “Cada produtor tem acesso à comparação da situação dele com o universo maior da região em que está inserido. Mostramos os piores e melhores cenários para eles identificarem onde se encaixam. Esse trabalho comparativo funciona de incentivo para melhorarem ou manterem os resultados”, explicou.

Nos encontros, que também têm contado com a presença de produtores que querem participar do programa, os cafeicultores também podem avaliar o ATeG e sugerir melhorias. “Eles estão muito satisfeitos. Houve poucas substituições e há muita gente querendo ingressar no programa. Estamos mudando a visão deles sobre gestão”, afirmou.

Mudanças

Para Prado, já é possível enxergar uma grande evolução nas lavouras de café e no modo de enxergar o negócio. “A gestão está virando um hábito. Quem não fazia anotações agora já faz, o que vai gerar importantes indicadores. Considerando a parte de adubação e utilização de produtos agroquímicos, a resposta foi imediata”, comentou.

O supervisor do programa no Sul de Minas, Gabriel Reis Lacerda, tem a mesma opinião. “Havia uma carência expressiva tanto na área técnica quanto na gestão das propriedades rurais. O que fizemos foi fazer um levantamento e, junto com o produtor, aplicar as técnicas. E os resultados são surpreendentes”, destacou.

A técnica Jéssica Carmo é responsável por acompanhar um grupo de mulheres de Manhuaçu, Manhumirim, Martins Soares, Alto Jequitibá, Santa Margarida e São João do Manhuaçu. O grupo irá participar da reunião de benchmarking nesta quinta-feira. Segundo a profissional, a principal motivação das produtoras é a expectativa de melhorar a vida da família, além de progredir com a produção de cafés especiais, o processo de industrialização e agregação de valor na cadeia do café.

“É uma grande oportunidade para que elas realmente enxerguem de forma empresarial o negócio da família, assim poderão ao longo dos anos tomar decisões mais seguras e fazer melhorias contínuas na propriedade. Acredito que isso empodera a mulher do campo e lhes mostra a importância do trabalho na propriedade e na família”, avaliou.

O técnico Eugênio de Andrade Souza diz que a mudança de atitude dos produtores é visível. Com o acompanhamento foi possível identificar os gargalos de cada propriedade e orientar o produtor sobre a melhor forma de conduzir aquele problema. “Não tenho dúvida que esse programa veio para revolucionar a cafeicultura familiar. A cafeicultura evoluiu e o produtor precisa acompanhar para se manter no mercado. O acompanhamento faz a diferença no produto final”, contou.

Novos horizontes

Nas visitas técnicas, o profissional orienta cada produtor a aplicar métodos que vão melhor a produção, a qualidade e a comercialização do café. Durante os encontros, foram apresentados dados e feito um diagnóstico de cada propriedade. A função da assistência técnica é fazer um trabalho de acompanhamento, apontando erros e implantando métodos inovadores de produção.

Filha de cafeicultores, a produtora Simone Dias Sampaio e o marido trabalham com cafés especiais em Araponga e já conquistaram vários prêmios. A família retornou para a cidade natal de Simone para investir na atividade, que é desenvolvida de forma sustentável. Para ela, o ATeG ajudou na organização e na revisão de paradigmas.

“Abriu muito nossos horizontes. Agora eu e meu marido nos organizamos melhor com os papéis com as informações do nosso negócio. Temos mais clareza para trabalhar e a gestão está ficando cada vez melhor. Foi legal porque vimos nossas falhas em relação a outros produtores. O programa deixa claro que a propriedade é uma empresa e tem como diferencial a associação com a assistência técnica. Aprendemos a quebrar paradigmas e entender que há outros meios de fazer o negócio crescer”, destacou.

Crescer e ajudar ativamente na propriedade foi a motivação da produtora rural Edilene Veríssimo para participar do programa. Moradora de Martins Soares, ela faz parte do grupo de mulheres assistidas nas Matas de Minas. Nascida no campo, ela cresceu em meio aos cafezais. Mais tarde, depois de três anos na cidade, retornou à zona rural, onde ainda auxilia a família e o marido na cafeicultura.

“Antes a mulher não tinha essa visão. Ela sempre ajuda a família, está sempre junto, caminhando ao lado. Esse programa vai ajudar muito o pequeno produtor. Com o monitoramento, as visitas, você vive o processo e identifica com o técnico exatamente o que a propriedade necessita. A gente não anotava nada que gastava na lavoura, só na cabeça. Mas o programa vai além e ensina como adubar, entre outras várias orientações. Tudo isso vai ajudar na propriedade. Vamos progredir e ver o nosso trabalho ser ainda mais valorizado. Isso é gratificante”, pontuou.

Mãe e filha, Josimar Augusto Sodré e Luana Augusto de Paula trabalham na comunidade de Vargem Alegre, em Alto Jequitibá. Há mais de um ano passaram a investir no café especial e vislumbram no programa AT&G a oportunidade de crescer. Organização e qualidade são alguns dos benefícios que Josimar destaca no programa. “Participar do programa faz a gente criar compromisso, nos anima e nos ajuda a crescer”, comentou.

O produtor Valdinei Rezende Leles trabalha há cerca de 22 anos com a cafeicultura e hoje planta café em uma área de cerca de sete hectares. Com meeiros e com a ajuda da família, ele caminha com o negócio em Araponga. “Pena que o ATeG tem só quatro anos. Nunca tinha participado de um programa assim e mudou o jeito como encaramos o negócio. Passamos a ver a propriedade de outra forma, principalmente a questão gerencial. Antes a gente não via claramente os custos e as despesas. Agora enxergo onde tem que melhorar e onde tem que manter. Estou organizando, mas já dá para sentir a diferença”, contou.

José Désio de Souza é produtor há 18 anos, dono do Sítio São José, na cidade de Conceição das Pedras. Depois que se aposentou como metalúrgico, mudou-se para o interior de Minas para investir em café. Na propriedade dele hoje tem 25 mil pés plantados. Ele diz que iniciou no programa com o objetivo de mudar a visão de como produzir café com qualidade. Nesse um ano de acompanhamento, ele passou a enxergar o trabalho na roça como uma empresa rural.

“O agrônomo que acompanha a gente fez uma comparação da safra anterior com a próxima, eu achava que não podia produzir tanto, e ele mostrar pra mim que posso, basta ter mais organização e seguir os procedimentos corretos”. O produtor disse ainda que já notou a diferença na qualidade, na quantidade e gerenciamento do sítio. A intenção da família é daqui para frente investir cada vez mais na produção de um café com mais qualidade e bom preço de mercado.

Meireomar de Carvalho Silva dos Santos é produtora na cidade de Jesuânia. No Sítio São José a família tem plantado seis hectares de café. A produtora sempre buscou trabalhar com sustentabilidade e participar do programa mudou o modo de enxergar a propriedade. “Eu percebi que tenho uma empresa a céu aberto”. Meireomar diz que fazia muita coisa errada e o programa revolucionou a maneira de produzir. “Além de melhorar a nossa produção, o programa ajudou até no relacionamento da minha família. Agora somos muito mais felizes”, contou.

Futuro e parcerias

Para a gerente regional do Senar Minas em Viçosa, Silvana Novais, é nítido como o programa apresenta potencial para promover mudanças positivas na cafeicultura. “O programa cresceu, sabemos que estamos no caminho certo. E há o diferencial de fazer a assistência técnica aliada à gestão. Temos produtores com qualidade e vimos que alguns enfrentam dificuldades com produtividade e lucro, por exemplo. Temos direcionamentos para dar a eles. Para 2018, entramos em uma nova rota: mostrar ao produtor que é preciso continuar seguindo as orientações de forma correta para alcançar uma boa produtividade e ter retorno financeiro”, analisou.

De acordo com o gerente regional de Lavras, Celso Vieira, o programa é importante para o pequeno produtor porque leva técnica e método de gerenciamento por meio de uma assistência in loco. “Isso proporciona ao participante implantar procedimentos na lavoura que vão melhorar a qualidade da produção, a comercialização e a sustentabilidade do agricultor familiar. Além disso, esse apoio do Senar contribui para a fixação do produtor no campo. Com o diagnóstico exato da propriedade, em um médio prazo, esses produtores terão resultados muito positivos e poderão fazer a diferença no agronegócio”, enfatizou.

Para o gerente de competitividade sustentável do Sicoob em Caratinga, Fábio Junio de Carvalho, o ATeG é fundamental para o desenvolvimento da agricultura na região. “É necessário fazer a gestão da propriedade, e isso o programa tem como efetividade. Em propriedades de diferentes níveis, há preocupação com qualidade e questão nutricional, mas a gestão é um desafio. Nossa expectativa é que sejam formadas novas turmas no próximo ano”, avaliou.

O presidente da Fundação Procafé em Varginha, José Edgard Pinto Paiva, acompanha o trabalho realizado em parceria com a organização desde o início e disponibilizou toda a infraestrutura da fundação para os técnicos e produtores. Para ele, a assistência personalizada proporciona ao pequeno produtor elevar a produção, implantar novas culturas e, principalmente, uma mudança de atitude, porque ele passa a entender a propriedade como uma empresa rural.

Fonte: Assessoria de Comunicação – Regional Viçosa (Por Nathalie Guimarães)

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