Produzir café com qualidade requer paciência e muito trabalho

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Produzir café com qualidade requer paciência e muito trabalho. Agricultores buscam melhorar as técnicas de plantio para atingir a excelência dos grãos e o solo exerce uma das funções primordiais para produzir um bom café.

O cerrado mineiro é uma região tem um solo muito peculiar, como conta o agrônomo e professor da Universidade Federal de Uberlândia, Gilberto Correa. “É um solo que não tem pedregosidade, é um solo bem drenado, que armazena muita água. É um solo que não tem limitação de mecanização porque é plano”.

Atrás das facilidades, muitos agricultores acabaram se mudando para o local. É o caso do Ruvaldo Delarisse, um paranaense que chegou à região em 1984, ainda garoto aos 18 anos de idade.

“Tinha um amigo do meu pai que já tinha café e chamou ele para vir conhecer. Ele veio, gostou e achou que era um bom negócio”, conta.

Ruvaldo conta que não sabia nada sobre café. “Nós chegamos aqui na pré-colheita. Chegamos em abril, o café já estava maduro. Pedia pro pessoal auxiliar a gente. Para tentar aprender, mas foi complicado”.

Atualmente sua fazenda produz um café de excelente qualidade. Ensei Neto, especialista em café, explica porque o café cultivado na região é tão bom.

“O café é um produto de território. Então, significa que o solo, a localização onde está a lavoura, tem uma importância muito grande, o segundo que é o clima de faz com que você tenha um desenvolvimento diferente das plantas e isso acaba gerando uma bebida diferente, principalmente pelo perfil de açúcares. O terceiro ponto, que seria a variedade, é que vai fazer com que você crie a diversidade de sabores”.

A fazenda do Ruvaldo tem 160 hectares e fica no município de Patrocínio, num dos poucos lugares altos da região: o Chapadão de Ferro. O solo da chapada também é rico em minerais, o que confere um sabor especial ao café.

“A bebida do café brasileiro apresenta dois aspectos mais importantes:  uma que é a doçura, que é sempre o principal fator de qualidade, e a outra que é a acidez. Essa alta carga mineral, faz com que surja um terceiro elemento que é a mineralidade ou digamos assim, ele é salgado.

Imagina quando você tem uma bebida levemente ácida, bastante adocicada e você coloca uma pitada de sal. Você muda tudo. É justamente isso que torna o café muito diferente”, conta Ensei.

O grande cuidado é não estragar o que a natureza já fez: o Ruvaldo teve que encontrar soluções para lidar com clima da chapada, que não é tão fácil assim. No alto, o clima é mais úmido e mais frio do que no pé da chapada. Pelo menos três graus abaixo e isso tem vantagens e desvantagens para o cultivo do café. 

Tem geada e chuva fora de hora. Em compensação, o clima provoca maturação mais lenta dos frutos e melhora a qualidade da bebida. Para diminuir riscos, Ruvaldo planta variedades que se adaptam melhor às condições da chapada. 

 

“O catuaí é um café rústico que tem uma produtividade boa, relativamente boa,  e que nós estamos conseguindo uma qualidade bem relevante nessa variedade”, diz Ruvaldo.

Outra técnica que vem trazendo bons resultados é a mudança na forma de plantar o café. Nas áreas mais antigas, o plantio era feito em linha reta. Desse jeito, ao longo do dia, o cafeeiro recebe sombra de um lado e sol do outro.

Agora, o café é plantado seguindo a orientação solar, o movimento do sol ao longo do dia. Assim, a planta toda recebe a mesma quantidade de luz, tornando a maturação dos frutos mais uniforme.

Por causa do clima, a produtividade em cima da chapada é um pouco menor do que a média da região: em torno de 30 sacas por hectare e toda a colheita na fazenda é feita mecanicamente.
Do campo, o café segue para o lavador, que separa os frutos em ponto de cereja, dos verdes e dos secos. O cereja também é descascado. Parte dele vai para um tanque, onde fica de molho por algumas horas, pois a fermentação melhora a qualidade da bebida.

Ruvaldo ainda faz o chamado café natural, onde os frutos que secaram no pé são apenas lavados e vão para o terreiro. A ideia é ter produtos variados para atender mercados diferentes.

Para ser considerado especial, o café tem que ser avaliado de acordo com os padrões da SCA, a Associação Americana de Cafés Especiais. Por isso, amostras de todos os lotes colhidos na fazenda, seguem para Expocaccer, a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado, onde são experimentados pelo Marco Antônio Castro, provador credenciado pela associação.

“Primeiro a gente avalia a fragrância e o aroma. Depois a gente analisa o sabor do café. A acidez, corpo, doçura e o sabor residual, que é o que fica. Se é agradável ou não”, explica Castro.

Cada quesito recebe uma pontuação. Para ser considerado especial, o café tem que fazer mais de 80 pontos. Hoje o café do Ruvaldo atrai compradores do mundo todo. Jacob Ybarra, comprador de uma torrefação australiana, veio ver de perto como é a produção da fazenda.

“Café com qualidade. Queremos grãos especiais que atendam o gosto exigente dos nossos clientes”, diz Jacob.

Enquanto uma saca de café normal hoje vale cerca de R$ 280, a de um bom café especial custa perto de R$ 700, em média.

Fonte: Globo Rural 

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