Produtores incomodados com a situação do mercado do café

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A queda no preço da saca de café nos últimos meses tem tirado o sono dos produtores. E tomar algumas medidas torna-se necessário para que o produtor sobreviva no mercado. Reduzir custos de produção e procurar alternativas de comercialização do produto são ações cada vez mais exploradas. Mas o produtor também se preocupa com o peso que ele representa na cadeia econômica da região. E já teme pela crise que persistirá durante a colheita que se inicia daqui a dois meses, que prejudicará diretamente a geração de empregos e a manutenção nas lavouras.

Acompanhe alguns depoimentos:

Raul Carvalho Guimarães (Engenheiro Agrônomo e Cafeicultor)
“A situação do produtor hoje é complicada. Não temos boas expectativas para o início da safra, pois o produtor está sem saber como ficará o preço. O mercado está totalmente no escuro. Ninguém sabe que decisão tomar, pois é impossível determinar o preço da saca. Observamos hoje que o preço do café tipo 6/bica corrida, está na ordem de R$290,00 a R$320,00 a saca, e está aquém do custo de produção. Então o produtor deixa de investir em maquinários e até mesmo nos tratos culturais, o que diminui a produção futura”.

Lucas de Oliveira Lopes (Cafeicultor)
“Essa queda do preço da saca nos últimos dois anos na nossa região tem sido preocupante. Para o produtor, a preocupação começa já na contratação da mão-de-obra, que é muito cara, e segue com os cuidados da lavoura, já que não houve queda de preço dos insumos. Dificilmente os produtores vão conseguir oferecer os tratos culturais corretos às lavouras. E o que mais preocupa é o fato do produtor hoje pagar para produzir. É impossível produzir uma saca de café por menos de R$330,00. Vejo que muitos produtores de montanha, que não tem condições fazer a colheita mecanizada, vão acabar com essas lavouras, pois ele será obrigado a diminuir a contratação de mão-de-obra, por não poder pagar uma remuneração apropriada aos trabalhadores. A conta hoje para o produtor não fecha. A situação da cafeicultura está complicada e mais uma vez ela pede socorro”.

Sérgio Miranda Tavares (Supervisor de Negócios no ramo de Defensivos e Cafeicultor)
“No final de 2011 e início de 2012 o café atingiu preços bons, na casa de R$540,00/saca. Mas muitos produtores não venderam o produto, pois estavam com a safra comprometida. Outros guardaram o café ou obtiveram financiamentos esperando um melhor preço. Mas o mercado não correspondeu. Para 2013, ainda fica a esperança de que o preço vai melhorar. Não sabemos quando, mas alguns pontos nos indicam isso, como o baixo estoque dos exportadores, principalmente de café arábica. E vale lembrar que a alta do preço do café em 2011/2012 aconteceu durante o início da safra. Enquanto isso cabe ao produtor buscar maneiras de controlar e reduzir os custos de produção, o que infelizmente a maioria ainda não faz. E também procurar alternativas para comercializar o produto. O produtor tem que entender que não precisa ter o café em sua forma física para negociá-lo. Existem mecanismos para comercializá-lo antecipadamente. Eu mesmo costumo comercializar cerca de 30% da minha produção na forma de CPR (Cédula de Produtor Rural) ou venda a termo e assim consigo valores melhores no mercado”.

Gilberto Vilela Reis (cafeicultor)
“É o pior momento da cafeicultura. Em plena entressafra o preço da saca em torno de R$300,00 não paga os custos de produção. Assim, a produção futura será muito afetada, uma vez que os preços dos insumos e da mão-de-obra só sobem e o do café só diminui. O produtor terá que pensar muito e calcular todos os seus custos a fim de não passar por dificuldades nos próximos anos. Com relação aos custos da fazenda, acho que já chegamos ao limite, não há mais onde cortar despesas. As fazendas já trabalham enxutas, não há mais, como antigamente, muitos trabalhadores, desperdícios ou compras desnecessárias. Em relação à mão-de-obra, esta terá que se especializar, pois somente o trabalhador qualificado que sabe manusear corretamente e com cuidado as máquinas (tratores, derriçadeiras, implementos agrícolas, colhedeiras etc) é que terá emprego garantido e será valorizado. A minha expectativa para a safra 2013 é muito boa com relação à produção, pois o bom preço da saca de café na safra 2011/2012 e os investimentos que foram feitos naquela época estão surtindo efeito nesta safra. Mas já com relação a preços, nem mesmo os mais experientes estudiosos da cafeicultura podem falar nada com absoluta precisão uma fez que quem determina o preço do café são terceiros e não o produtor”. 

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Fonte: Correio Trespontano (Texto e fotos: André Silva Rosa)

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