Produtores de café aliviados com decisão de Temer

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A suspensão temporária das importações do café conilon, anunciada no início da semana pelo presidente Michel Temer, deixou os cafeicultores aliviados, embora o setor produtivo ainda aguarde o cancelamento definitivo. A importação é vista como um risco econômico e sanitário para a produção de café em Minas Gerais e demais regiões produtoras. Com a suspensão, a demanda pelo café arábica poderá ser estimulada, caso a oferta conilon continue em baixa.

De acordo com o diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente das Comissões de Cafeicultura da Faemg e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, o setor segue trabalhando para que as importações sejam definitivamente suspensas.

“Estamos estudando várias medidas e estratégias para que, caso este risco de se importar o café volte a acontecer, possamos agir novamente. A safra de café deve chegar ao mercado já em abril e a suspensão das importações é muito importante até lá. Depois que a safra chegar ao mercado não tem sentido importar o café”.

Ainda segundo Mesquita, os trabalhos para proteger a produção nacional de café continuam.  Para ele, a suspensão temporária da autorização para a importação do grão pode ter dois motivos: o primeiro seria que o presidente Michel Temer queira discutir mais e obter dados mais detalhados sobre a produção e, principalmente, sobre os estoques brasileiros. O segundo é esperar que a pressão do setor produtivo contra a importação fique menor para autorizar as aquisições internacionais de café.

“Acreditamos que não haja este perigo de autorizar a importação, mas estamos atentos e não paramos de trabalhar”, disse Mesquita.

Para o secretário-adjunto de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Amarildo José Brumano Kalil, caso as importações fossem realizadas o impacto econômico seria negativo para os cafeicultores. Isto porque o café chegaria ao Brasil no período de safra, provocando queda nos preços e o comprometimento dos investimentos.

Além do risco econômico, Kalil destaca que a importação de café colocaria a produção em risco. Por isso, a mobilização para manter a suspensão do processo é importante.

“Com a ameaça de importação, houve mobilização muito grande dos setores representativos dos produtores e da Seapa. Ao importar o café, o que no País não se faz há mais de 300 anos, aumentaria o risco de novas pragas e doenças chegarem aos cafezais mineiros e de demais estados. Somos os maiores produtores do grão e a ocorrência de qualquer nova praga ou doença poderia ser desastrosa”.

Mercado – Com a importação do conilon suspensa, a indústria do café pretende manter a maior utilização do café arábica na composição dos blends, até que a oferta de conilon se regularize. Antes da escassez do café conilon, a indústria nacional usava entre 40% e 50% desse grão, percentual que caiu para 10% a 15% desde o final do ano passado, quando os preços atingiram preços recordes por volta dos R$ 550 por saca.

Valorização – De acordo com o secretário-adjunto da Seapa, Amarildo Kalil, caso o volume de arábica demandado pela indústria cresça, a tendência é que os preços valorizem. Minas Gerais é um dos estados que pode atender a esta demanda, já que responde por mais de 50% da produção nacional de café arábica.

“Sem a importação, caso a indústria opte pelo maior uso do café arábica para a composição dos blends e, dependendo da oferta, os preços tendem a subir. Mas tudo isso vai depender dos estoques disponíveis e vários outros fatores de mercado. Atender à demanda de 1 milhão de sacas de café, volume que a indústria quer importar, movimenta o mercado e é natural que os preços subam”, explicou.

O representante da Faemg e da CNA, Breno Mesquita, acredita que a indústria vai optar pelo café que apresentar maior viabilidade econômica, mas levando em conta a preferência dos consumidores.

“A indústria está pressionando os produtores ao declarar que não vai usar o conilon nos blends. Porém, o setor só fará isso caso seja economicamente viável. Antigamente, o blend de café do Brasil era de 70% arábica e 30% conilon. Com o tempo o setor aumentou o uso de conilon, pelo preço mais competitivo da espécie, e foi diminuindo a quantidade de arábica. Tudo isso é uma pressão a mais para dizer que vai colocar o arábica em detrimento do conilon. Isto não procede, porque a decisão da indústria é muito mais financeira e econômica, do que trocar ou não o café”, disse Mesquita.

Fonte: Diário do Comércio (Por Michelle Valverde)

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