Produtor acredita que o governo federal não entende de cafeicultura

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Pouco mais de 2,5 milhões de sacas de café foram vendidas ao mercado externo em novembro enquanto em outubro o valor passou de 3 milhões. Entre janeiro e novembro deste ano, o volume exportado foi maior que em 2012. Foram mais de 28 milhões e 280 mil sacas contra quase 25 milhões e 400 sacas exportadas. Mas a receita foi 17,9% menor comparado ao mesmo período do ano passado. Em outros tempos, esses números eram bem mais expressivos.

A queda nas exportações de café no mês de novembro e nos preços refletem nas negociações das sacas, no sul de Minas. Muitos cafeicultores seguram a venda do café em busca de um preço melhor, que por enquanto só recua. Os armazéns das cooperativas cafeeiras no sul do estado, uma das regiões que mais produz o grão no país, estão abarrotados de sacas e os produtores vão perdendo dinheiro sem as vendas. Especialistas em mercado futuro apontam que em 2014 o preço do café deve melhorar.

O Repórter Agro entrevista nesta semana o presidente do Centro do Comércio de Café do estado de Minas Gerais (CCCMG), Archimedes Coli Neto, sobre as vendas para o mercado externo, o descaso do poder público com a cafeicultura, as medidas que podem ajudar o produtor na recuperação de renda e aponta erro de cálculo da safra por parte do governo.

1) Sendo cafeicultor e presidente do CCCMG, como o senhor avalia o ano de 2013 para o setor?
O ano foi muito difícil para o cafeicultor. Colhemos uma boa safra, porém os preços não foram remuneradores, ficando abaixo do custo de produção. Foi um ano que poderia ser diferente para o campo, mas por conta de uma política ineficiente do governo o setor amargou grandes prejuízos.

2) Com os últimos dados divulgados, qual foi o cenário da exportação de cafés?
As exportações devem ser melhores que 2012, entretanto ainda abaixo do esperado. O Brasil deveria estar exportando cerca de 35 milhões de sacas por ano. Este seria um número bom, mas deverá encerrar um pouco abaixo. Em outubro, o número de exportação foi de 3 milhões e 90 mil sacas, o que consideramos um bom número.

3) O que o senhor espera da comercialização de café na safra 2013/2014? E na 2014/2015, é preciso antever alguma situação? Crise, melhora…
Esperamos que 2014 seja bem melhor. Se as exportações se situarem nos níveis de 3 milhões de cada mês, isto poderá dar um certa melhora no mercado. Espero que os preços melhorem um pouco em relação a 2013. Porém não acredito que tenhamos preços como gostaríamos, acima dos R$400 a saca.

4) 2013 foi um ano delicado para os cafeicultores em função do preço da saca e alta nos custos da lavoura. O senhor acredita que o governo poderia ter auxiliado os produtores a partir do momento em que o preço começou a despencar? De que forma ele teria ajudado?
O governo foi totalmente responsável pelo prejuízo do campo neste ano de 2013. A falta de uma visão melhor sobre o café, além de ser lento nas tomadas de decisões, mal informado por aqueles que se dizem representantes dos cafeicultores. Acredito que tivemos uma safra bem maior que a divulgada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento, vinculada ao governo federal). Um bom rendimento na colheita entre 25 a 30% a mais. Temos uma demanda por volta de 50 a 52 milhões de sacas por ano e a Conab vem com safra de 49 milhões. E temos uma enorme quantidade de cafés sobrando, isto mostra claramente o erro. Quando se tem informações erradas, as medidas são erradas. Assistimos uma verdadeira falta de visão de todos que se dizem nossos representantes. Falta de conhecimento real da situação. O governo se perdeu e soltou medidas a conta gotas e na hora errada, sendo que tudo poderia ter sido diferente, com menos gastos do governo e lucro no campo. Assistimos a verdadeira face do governo, não sabe absolutamente nada sobre o campo e suas demandas.

5) Lemos todos os dias que medidas serão tomadas, que o governo ajudará. Mas não chegam à conclusão alguma. Com toda a experiência do setor na cafeicultura, quais medidas o senhor acredita que poderiam contornar esta situação?
O governo poderia ter feito opção para 10 milhões de sacas, sem descrição de bebida tipo 7, com pagamento dentro do ano. O produtor entregaria o café que tem, o bom. O fraco pelo preço de R$307, isto retiraria do mercado o que está sobrando, sem prejudicar as exportações de café fino. Fizeram tudo errado, opção para café fino de 3 milhões de sacas, sobrando ao mercado os cafés mais fracos que custam ao produtor o mesmo do fino. Daí, jogaram estes cafés para R$200 e ainda prejudicaram as exportações. Uma medida descabida e sem resultados práticos. Volume abaixo do que deveria, demonstrando a falta de conhecimento total sobre a produção.

Fonte: Repórter Agro (Flávya Pereira – jornalista)

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