Produção mineira de café em sachê e cápsulas avança no mercado interno e no exterior

Imprimir

Com fama de commodity, produto básico cotado no mercado internacional, o café brasileiro avança sobre os segmentos sofisticados da bebida, atrás de consumidores dispostos a pagar por sabor e aroma apurados. A produção dos grãos especiais no país cresce entre 10% e 15% ao ano, números ainda modestos, mas que surpreendem. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), das 20 milhões de sacas consumidas no mercado interno todo ano, 1 milhão é de cafés especiais, nicho que mais tem conquistado adeptos no mundo, o que explica a sua participação de 12% do comércio mundial do grão.

A expansão do chamado café gourmet segue seu curso, a despeito dos preços 30% a 40% superiores aos da bebida tradicional. Com o refinamento da produção, surgem variações, entre elas, o café orgânico, o descafeinado e o aromatizado. Sabores antes impensáveis ganham destaque, incorporando uma dose forte de inovação. A coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline de Freitas Veloso, destaca que a agroindústria de cafés especiais precisa de mais investimentos e renovações tecnológicas que proporcionem a diferenciação e diversificação dos produtos nacionais.

“Antes, o cafezinho era consumido só em casa, depois surgiu a demanda fora do lar, com abertura de muitas cafeterias. Além disso, as formas de preparo foram diversificadas, com as cafeteiras gourmets e os produtos prontos. O café monodose, por exemplo, em cápsulas ou sachês, representa uma tendência. A indústria e os produtores estão sensibilizados com isso e buscam atender esse consumidor”, ressalta. Não é outro o desafio dos produtores brasileiros de fincar os pés nas exportações.

De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (Brazil Speciality Coffee Association, na sigla em inglês), cerca de 10% do café produzido no país é especial, mas as vendas externas são, ainda, consideradas pontuais. O consultor de negócios internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre Brito, diz que é preciso subverter o histórico das exportações brasileiras e mineiras ancoradas na venda do café em grãos. A experiência bem-sucedida das empresas mineiras Café Fazenda Caeté e Villa Café mostra esse esforço.

Instalada em Campo Belo, Centro-Oeste de Minas, a Fazenda Caeté exporta café especial há três anos. O produto é vendido na forma de sachês de cinco gramas para ser mergulhados em água quente. O diretor comercial da marca, Fernando Reis Costa, afirma que o mais difícil é o trabalho de consolidar o produto no mercado internacional. “Montar uma estrutura lá fora é muito caro, e isso inviabiliza uma exportação de grande volume. Há muitos países interessados e temos um portfólio de clientes de grande envergadura, que nos possibilita ter credibilidade lá fora, mas é preciso firmar parcerias estruturadas, que queiram investir no produto e na marca”, explica.

Desde os primeiros embarques, a empresa atendeu pedidos para Dubai, Japão e Turquia. Neste ano, as vendas cresceram 30% frente ao ano passado, informa Fernando Costa. “Não existe um mercado consolidado ou uma demanda já criada. Vejo as exportações como testes, mas estamos evoluindo”, diz. Apesar da crise da economia brasileira, o executivo aposta em expansão no ano que vem. Ele vê os cafés italiano e africano com os maiores concorrentes da marca. “Temos um longo caminho a percorrer diante das fortes marcas que reinam lá fora. Há grande oferta de café no mundo e a guerra de preços no mercado externo é complicada”, observa.
O Villa Café exporta café gourmet torrado e moído há dois anos, além de cápsulas da bebida, que começaram a ser exportadas neste ano. O diretor comercial da empresa, Rafael Duarte, conta que os principais clientes são chineses e norte-americanos. “Neste ano, fizemos o primeiro negócio na América Central. Nossas exportações de café especial mais que triplicaram em 2015”, afirma. Cerca de 40% dos negócios estão sendo feitos no mercado externo, quando a previsão era faturar 20% além da fronteira brasileira.

Para Rafael Duarte, faltam acordos bilaterais alfandegários, tributários e sanitários com capacidade de alavancar as exportações de café processado. “O café brasileiro é base para blends no mundo inteiro. Temos café em abundância e é preciso vencer essas barreiras para dar visibilidade ao nosso produto no exterior”, destaca. O executivo entende que são necessários investimentos em treinamentos e, principalmente, na qualidade do produto.

NOVA FÁBRICA
Inaugurada na semana passada em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, a primeira unidade fora da Europa da multinacional Nestlé com tecnologia de produção de cápsulas Nescafé Dolce Gusto é um investimento estratégico da companhia. De acordo com o presidente da Nestlé S.A., Paul Bulcke, a construção da fábrica reforça a confiança da Nestlé na América Latina e no Brasil.

A fábrica conta com duas linhas de produção e vai oferecer quatro variedades de cápsulas: os cafés Buongiorno, Espresso e Espresso Intenso e o Café Au Lait. Para 2016, já está prevista a expansão da oferta de produtos da unidade, que atenderá Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A Nestlé investiu R$ 220 milhões na planta industrial, que vai trabalhar com café nacional.

Custo e barreiras de mercado desafiam

As exportações de café de Minas Gerais alcançaram US$ 3,348 bilhões de janeiro a novembro deste ano, num total de 1,116 milhão de toneladas. O resultado foi bem inferior ao do mesmo período de 2014, quando a receita somou US$3,690 bilhões para um volume de 1,156 milhão de toneladas vendidas, o que dá indicações das dificuldades do setor. Já as exportações mineiras de café especial, gourmet ou descafeinado chegaram a US$ 3,386 milhões neste ano.

Boa notícia foi o aumento de 20,3% da receita dos embarques do café torrado no acumulado de 2015, que somaram US$ 3,348 milhões, ante US$ 2,784 milhões de janeiro a novembro de 2014. Dados da Fiemg mostram que o Brasil exportou nesse mesmo período US$9,352 milhões de café especial ou gourmet, o equivalente a 13 toneladas. Trata-se de um resultado bem modesto para o potencial da produção, observa Alexandre Brito, analista de comércio exterior da federação mineira. “As barreiras para exportação do café processado não são tarifárias nem técnicas, mas sim de mercado. Grandes empresas internacionais, em especial as alemãs, controlam o mercado de café especial no mundo. É preciso criar um café específico, com valor agregado para competir nessa guerra de mercado”, destaca.

Minas responde por 65,4% das exportações brasileiras de café. Segundo Alexandre Brito, a Fiemg vem trabalhando no sentido de auxiliar as empresas para estimular as cifras da exportação de café processado, que ainda são baixas. Os principais países importadores do café processado mineiro são, nesta ordem, Itália, Argentina, Estados Unidos, França, Chile e China. O café torrado representou 0,1% do total exportado de café em 2015.

Fonte: Estado de Minas

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *