PROCAFÉ – Síntese do Mercado Procafé

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Resumo do mês de outubro/2020 pela Fundação Procafé

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Fatores de sustentação ao mercado:

⦁ Nota-se claramente que parte dos players e analistas do mercado ainda não perceberam o atual e caótico cenário das lavouras de café arábica no Brasil, que terá como reflexo uma safra 2021 inferior a que já se aguarda em função da bienalidade da cultura. O déficit hídrico severo aliado às altas temperaturas deste ano são os grandes vilões desta realidade: as perdas além do que se esperava já são certas. O que tem que ser mensurado de agora em diante é a quantificação das perdas. E, muito provavelmente, quando os números começarem a surgir, as cotações do arábica devem apresentar alguma recuperação.

⦁ Ainda, há de se atentar para as condições climáticas de novembro em diante. Nos últimos dias, previsões de boas chuvas puderam ser observadas, no entanto, lamentavelmente, não se concretizaram. Para novembro, iniciamos o mês com previsão de um bom volume de chuva para importantes regiões cafeeiras, todavia, caso as previsões não se concretizem, as cotações podem começar a sobrepor fatores que vêm pressionando as cotações do arábica na ICE Futures US (Bolsa de Nova Iorque).

⦁ Se por um lado a alta do dólar pressionou as cotações nas principais Bolsas de café do mundo, por outro deu certa sustentação ao mercado físico haja vista o fato de que a valorização da moeda norte americana torna os preços de exportação mais atraentes.

⦁ Na ICE Futures Europe, de meado de outubro em diante, o excesso de chuvas na principal origem de cafés robustas, o Vietnã, com consequente atraso dos embarques e queda de qualidade conduziram o mercado à recuperação de suas cotações. Vejamos se, em algum momento, este cenário para o Robusta, impactará nas cotações do Arábica.

Fatores de pressão ao mercado:

⦁ Apesar da situação extremamente crítica das lavouras de café no Brasil, previsões de chuva seguem pressionando as cotações de café. Infelizmente, há de se concordar com o que consta no Boletim semanal de n° 43 do Escritório Carvalhaes: “Muitos não conhecem produção de café e imaginam que as chuvas resolvem tudo”.

⦁ A valorização do dólar é outro fator que acabou pressionando as cotações nas Bolsas de café, pois, tornam as cotações mais atraentes para os comitentes-vendedores uma vez que o café nas principais Bolsas de café do mundo é cotado em dólar. Associado a este fato, há de se ressaltar que, da mesma forma, a alta da moeda norte americana ocasiona um estímulo às exportações nas origens, o que também pressiona as cotações.

⦁ E por se falar em exportação, a questão logística segue sendo um entrave. Em função da alta valorização do dólar, que, de um modo geral, reduz o volume de importações com consequente redução da entrada de containers no país, exportadores vêm enfrentando dificuldades para conseguir containers. Apesar disso, dados do CECAFE apontam que o escoamento do café brasileiro para o exterior segue intenso, dando ao mercado um tom de total despreocupação com relação à oferta do produto. Contudo, esta percepção não deve se estender por muito tempo, enfim, algo de curto prazo.

⦁ Início da colheita com respectiva oferta de outras consideráveis origens complementam o sentimento positivo em relação ao abastecimento no curto prazo.

⦁ Além disso, outros fatores completaram o negativismo do mercado: a aversão ao risco por parte dos players do mercado frente a preocupação com a segunda onda de COVID-19 e suas consequências econômicas a nível mundial, a insegurança ocasionada pela eleição dos Estados Unidos e a preocupação com a questão fiscal no Brasil.

⦁ Por fim, todos estes fatores associados à falta de sustentação do índice CRB e do Petróleo colaboraram para deixar o mercado tecnicamente frágil, com quebra de suportes e realização de lucros por parte de fundos de investimentos e especuladores.

Mensagem aos leitores: 

“Frente ao cenário que pudemos observar no mês de outubro atrelado à realidade da próxima safra brasileira, talvez o momento seja de “muita cautela e paciência” no que tange a comercialização de café. Neste sentido, o interessante é que os cafeicultores se mantenham como estiveram no mês de outubro: fora do mercado, segurando oferta e aguardando um cenário menos duvidoso e mais bem definido, o que provavelmente pode ocorrer até março do ano que vem”.

Varginha, 30 de outubro de 2020.

Analista: João Marcelo Oliveira de Aguiar

Superintendente Executivo

Fonte: Fundação Procafé via Peabirus