Presidente do CCCMG analisa situação do mercado de café

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PERFIL WESPANHA: Conte um pouco da sua história com o CCCMG.
ARCHIMEDES COLI NETO: Minha história com o Centro do Comércio de Café de Minas Gerais começou com um sentimento pessoal de que eu podia contribuir de alguma forma com o conhecimento que tenho, com tantos anos no mercado. Eu era vice presidente na gestão do Cleber Marques e, com a saída dele eu automaticamente assumi a presidência da entidade. Já estou no meu terceiro mandato à frente da entidade. Tenho larga experiência em toda a cadeia produtiva do café, desde a produção até a exportação devido aos 42 anos de trabalho na área. Por isso, eu acho que tenho muito a contribuir com o setor. Espero entregar a presidência da entidade no próximo ano já com a sede própria. O trabalho é muito cansativo, mas eu fiz questão de participar de mais esse mandato para conseguir entregar ao setor essa sede pela qual o Centro do Comércio de Café luta há 32 anos. Uma das minhas metas à frente do Centro do Comércio de Café foi divulgar mais a entidade e seu trabalho. Além de trazer mais representatividade para a entidade, aumentando o número de sócios. E eu acho que nós divulgamos bastante o nome da entidade, o que ela significa e o trabalho que desenvolve. Durante esses anos eu fiz inúmeras palestras representando o Centro em todo o estado de Minas Gerais.

PERFIL: Qual a melhor forma de o produtor enfrentar a batalha comercial internacional?
ARCHIMEDES: Olha, a concorrência é até um pouco desleal, porque nós temos países, como o Vietnã, por exemplo, que é um país comunista, tem uma produção quase artesanal, onde não existem as leis rígidas que temos aqui, como a ambiental e a trabalhista. Além disso, o café do Brasil é o arábica, enquanto outros países produzem o conilon, uma espécie muito mais resistente. Hoje, a melhor forma que o produtor tem é trabalhar nos custos e partir para lavouras mais mecanizadas e tentar valorizar o café o máximo possível. Não existe reposta pronta a dar, mas os produtores estão partindo para a diversificação, que é uma maneira de conviver com as oscilações do mercado de café.

PERFIL: Existe, atualmente, algum movimento de mercado para o qual o produtor ainda não atentou ou que ainda falta ao produtor brasileiro?
ARCHIMEDES: O produtor precisa parar de olhar a produção como algo artesanal. Ele não pode mais produzir o café sem saber o quanto dessa produção ele vai vender. Nós temos que transformar nosso produtor em um homem de negócio, que no momento em que planta, já sabe quanto vai custar o plantio, por quanto ele vai vender e qual o lucro que já teve. Esse processo já é bastante usado na soja e no milho, onde o produtor já faz a programação do número de hectares que vai plantar em função daquilo que ele já negociou e do lucro que ele vai ter, usando mecanismos de venda futura. É claro que o café é uma planta diferente, que dura entre 20 e 30 anos com manejo, é um pouco mais complicado. Mas nós temos que divulgar mecanismos para que o produtor possa vender a produção com antecedência de duas ou três safras na frente.

PERFIL: E como o produtor pode fazer isso?
ARCHIMEDES: Nós precisaríamos ter um seguro agrícola melhor, capaz de cobrir as intempéries do tempo. Esse é um trabalho que nós estamos tentando fazer há anos. O Governo tem que entrar com subsídio para o setor e o produtor entrar com co-participação para que ele possa vender o produto dele futuro e, se ele não colher, o seguro pague. Isso dá segurança até para as empresas comprarem o café futuro, porque ela terá segurança de que, se o produtor não puder entregar, o seguro vai pagar. Nós temos os mecanismos, mas nós precisamos aperfeiçoá-los. A ideia de não saber por quanto será vendida a produção da próxima safra tem que acabar. O produtor tem que estar orientado para o mercado. Hoje, 90% dos produtores não usa esse tipo de mecanismo de antecipação, que quando ele colher vai só entregar porque aquela produção já está 60% vendida. Hoje os custos para se fazer isso é muito alto pela falta de um bom seguro agrícola.

PERFIL: Sabemos que o Centro de Comércio de Café colocou nossa cidade de forma definitiva no cenário nacional e internacional na área. Fale um pouco sobre isso.
ARCHIMEDES: Quando eu assumi nós tínhamos 49 sócios e hoje nós temos mais de 100. Sabemos que essa representatividade é muito importante. Vale lembrar que o Centro de Comércio de Café é do Estado de Minas Gerais e não de Varginha. A entidade representa toda a cadeia produtiva do café, desde o produtor até a exportação no Estado e não somente na nossa região. A sua sede é Varginha, a entidade nasceu aqui, mas atua em todo o Estado. Hoje nós podemos dizer que representamos todas as entidades sócias junto ao governo do Estado. Trabalhamos em todas as áreas que envolvem o setor cafeeiro de forma a favorecer todos os níveis e em prol do bem comum, sejam exportadores, cooperativas, produtores, indústrias, transportadoras, entidades econômicas, certificadoras, corretores, armazéns gerais. Enfim, toda a cadeia produtiva do café está hoje dentro do Centro do Comércio do Café.

PERFIL: Em termos de Brasil, Minas Gerais representa qual porcentagem do negócio nacional do café?
ARCHIMEDES: Minas Gerais produz 55% do que o Brasil produz. Dos 853 municípios do estado, nós temos quase 600 que produzem café. Isso representa uma importância muito grande na economia mineira, principalmente porque nós temos municípios pequenos em que 100% dele depende do café. O Brasil produz, hoje, 55 milhões de sacas e Minas Gerais produz mais da metade disso. Daí se percebe a importância que isso tem. Eu acho que as pessoas precisam entender que, se o café vai bem, os outros setores também vão bem, porque o giro de dinheiro é muito grande. Por exemplo, se o café vai bem, o comércio de automóveis vai bem, os pequenos comércios vão bem, os fornecedores de ferramentas vão bem, o trato, a oficina. Todos precisam tomar consciência de que o café representa muito para a economia do Estado. Independe se a pessoa trabalha com café ou não, uma crise no setor afeta toda a economia de Minas. É um erro muito grande analisar o café de forma separada dos demais setores, principalmente no que diz respeito à geração de emprego e renda. Principalmente em uma cidade como Varginha, que é a principal cidade de comércio de café. Era Santos, agora é Varginha a capital do café. Hoje temos mais de 100 empresas ligadas ao café instaladas aqui, com mais de cinco mil pessoas empregadas diretamente, fora os empregos indiretos, como os prestadores de serviços. Além do sem número de eventos e encontros nacionais e internacionais que acontecem aqui. Isso movimenta hotéis, restaurantes, o comércio. A distribuição de renda é grande. Eu, particularmente, tenho buscado divulgar nossa cidade como capital do café para atrair mais investimentos porque eu vejo que essa é a melhor forma de gerar distribuição de renda.

Fonte: Perfil WEspanha (Renata Mitidiere)

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