Preços do café em Minas ficam abaixo do custo de produção

Imprimir
Os preços pagos pelo café, em Minas Gerais, seguem abaixo dos custos de produção e contribuindo para o maior endividamento dos produtores. Mesmo em ano de baixa produção, os preços não reagiram conforme o esperado pelo setor. Para agravar ainda mais a situação, as condições climáticas desfavoráveis impactaram na safra 2019, que terá uma quebra maior que a estimada inicialmente.

Dentre os fatores que contribuíram para que os preços do café não reagissem estão a colheita recorde do grão no ano passado e a expectativa de uma boa safra em 2020, o que pode não ocorrer em função do clima adverso registrado em 2019 e que terá impactos negativos na próxima safra.

No Estado a saca de 60 quilos do grão é negociada entre R$ 400 e R$ 410 no mercado físico e de R$ 440 a R$ 480 no mercado futuro, valores que são considerados insuficientes para cobrir os custos e garantir renda para que o produtor continue na atividade.

Segundo a analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Alves Gomes, o setor produtivo do café vem enfrentando, há alguns anos, um mercado com preços baixos.

Ela ressalta que, agora, que estamos em plena safra, já era esperada queda nos preços, porém, o que deixou o setor surpreso foi que a cotação ficou ainda mais baixa do que a praticada em anos anteriores. Com preços desvalorizados, os custos de produção não têm sido cobertos e os cafeicultores estão acumulando prejuízos.

“O preço recebido pelo café não é suficiente para cobrir os custos, que estão mais alto em função da desvalorização do real frente ao dólar, o que encareceu os insumos da atividade, como os fertilizantes, por exemplo”.

Ainda segundo Ana Carolina, a safra 2019 é de bienalidade negativa, o que já reduziria a oferta do grão. Este ano, com o clima desfavorável, as perdas serão ainda maiores que as estimadas inicialmente. Além da falta de chuvas em algumas regiões, chuvas fora do tempo em outras, foram registradas geadas em várias cidades produtoras do Estado o que causará perdas na safra 2019 e comprometerá o potencial dos cafezais para a próxima safra.

De acordo com o segundo levantamento da safra de café, elaborado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e divulgado em maio, a produção de café, em Minas Gerais, na safra 2019, estava projetada em 26,4 milhões de sacas. Ao todo, deveriam ser colhidas 26,1 milhões de sacas de café arábica e 324,6 mil sacas de café conilon. Em comparação com a safra anterior, a segunda estimativa indicava uma redução de 20,7% em razão de fatores como bienalidade negativa e maturação desuniforme dos frutos.

O volume projetado pela Conab não deve ser alcançado em função do clima e haverá perdas em 2020. Em carta divulgada no início da semana, 19 cooperativas produtoras de café de Minas Gerais e de São Paulo manifestam preocupação em relação a safra 2020.

“Sobre a safra 2020, o veranico de janeiro e a exposição da planta a longos períodos de amplitude térmica provocaram uma desfolha acentuada nas lavouras e as geadas em diferentes áreas produtoras comprometeram o potencial produtivo. Estes impactos inviabilizarão o recorde e uma supersafra em 2020, resultando em uma colheita inferior a de 2018. Ressaltamos, também, que este cenário negativo poderá se agravar, caso o clima não seja favorável nos próximos meses. Baseados em estudos e avaliações técnicas que realizamos diretamente no campo, constatamos o comprometimento do volume de café arábica a ser colhido no Brasil. Por estas razões, expectativas anteriormente suscitadas pelo mercado de uma safra recorde em 2020 não correspondem ao potencial produtivo do parque cafeeiro”.

Especiais – Para tentar reduzir as perdas e manter a rentabilidade, muitos produtores do Estado têm investido na produção de cafés especiais, que tem mercado e preços diferenciados.

“Mesmo com os custos mais elevados para se produzir os grãos especiais, estes cafés têm sido colocados no mercado para composição de caixa. Isso mostra a dificuldade financeira que o cafeicultor tem vivenciado”, explicou a analista de agronegócio da Faemg.

Para auxiliar o cafeicultor, os representantes da Faemg estão em negociação com o governo federal para a criação de políticas públicas que garantam a remuneração dos cafeicultores. Também está sendo feito um trabalho para que entidades financeiras passem a oferecer a linha de repactuação de dívidas, que é ministrada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Fonte: Diário do Comércio (Por Michelle Valverde)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *