Preços devem afetar saldo comercial em 2012

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Em 2011, o volume de importações cresceu 9,4%, num ritmo mais forte que os 3,9% das exportações, levando em conta o resultado no acumulado até novembro, na comparação com o mesmo período de 2010. Apesar do crescimento maior da quantidade de bens importados, a balança brasileira terminou 2011 com superávit de US$ 29,8 bilhões.

O saldo positivo foi obtido porque o preço médio da exportação brasileira no acumulado até novembro subiu 24,4%, variação bem superior à alta de 14,5% no preço dos desembarques. Os dados são da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

O efeito preço, variável que contribuiu de forma decisiva para um saldo positivo em 2011, porém, perdeu fôlego ao fim do ano, retirou parte da rentabilidade das exportações acumulada e abre 2012 gerando incerteza sobre a evolução dos termos de troca e seu impacto no resultado da balança.

Há economistas que acreditam numa relativa estabilidade dos termos de troca e numa queda menor do superávit em 2012 – para algo em torno de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões -, enquanto outros apontam para o retorno da relação entre preços de exportação e de importação aos patamares de 2010. Nesse caso, o resultado seria uma queda mais abrupta do saldo, para menos de US$ 5 bilhões.

No ano passado, a evolução bem mais acelerada do preço médio da exportação brasileira foi propiciada pela alta das commodities agrícolas e metálicas. Os produtos básicos correspondem hoje a 47,8% da exportação brasileira e tiveram aumento de preço em dólar extraordinário no ano passado. No acumulado até novembro, o preço médio do produto básico subiu 33,7%. Os semimanufaturados tiveram elevação de 21,9%, e os manufaturados, de 14,3%. Os termos de troca terminaram o ano em nível alto e favorável às exportações brasileiras, com aumento de 8,7%, também levando em conta o acumulado até novembro.

"É uma boa variação levando em consideração a base alta de comparação", diz Rafael Bistafa, economista da Rosenberg e Associados. Ele lembra que, em 2010, os termos de troca encerraram o período em patamar elevado, com alta de 15,9% na comparação com 2009. Bistafa acredita que em 2012 essa relação de preços terá uma pequena queda, devolvendo parte da alta obtida no ano passado.

A pequena queda nos termos de troca, acredita ele, acontecerá como resultado de preços de importações praticamente estáveis e queda nos preços das exportações, principalmente dos básicos. Segundo estimativa da Rosenberg, as médias dos preços de commodities agrícolas devem cair de 10% a 15% em 2012, na comparação com 2011. As metálicas vão no mesmo sentido, com redução de 15% a 20%. Os preços de importação, explica, não devem ter, no geral, tendência de alta em função da oferta, que deverá continuar farta em 2012.

"Mesmo assim, o termo de troca ficará em patamar alto", diz Bistafa. Isso contribuirá para uma queda no superávit comercial de 2012, para US$ 19 bilhões a US$ 20 bilhões, estima o economista. No ano passado, o saldo foi de US$ 29,8 bilhões.

Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, também acredita que a queda de preços deve afetar a exportação brasileira neste ano. Para ele, a redução do valor de negociação das commodities deve jogar para baixo a exportação total do Brasil. Silveira estima que em 2012 as exportações brasileiras cairão para US$ 240 bilhões. Ou seja, US$ 16 bilhões a menos que no ano passado. Mesmo assim, acredita que haverá superávit em torno de US$ 20 bilhões.

Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, defende uma visão um pouco mais otimista, com um pequeno crescimento no valor das exportações e um superávit de US$ 25 bilhões. Ele lembra que a queda de preço das exportações nos últimos meses do ano passado tirou um pouco da rentabilidade acumulada em 2011 nas vendas ao exterior.

Em novembro do ano passado, a redução de preço fez com que o índice de rentabilidade na exportação chegasse a ter queda de 2,5% em relação a outubro. O resultado acumulado até o mês ainda ficou positivo, com 7,2% de alta em relação ao mesmo período de 2010. No fim de 2011, lembra Campos Neto, os preços das commodities exportadas ficaram muito voláteis, com resultado líquido de queda.

O economista acredita que, na média, os preços devem manter nos próximos meses o patamar encerrado em 2011. A expectativa, porém, é que haja uma reação no segundo semestre, com a acomodação da zona do euro e uma reação melhor da economia americana. Para Campos Neto, os preços permanecerão voláteis, mas não terão necessariamente, no acumulado de 2012, uma média mais baixa que a de 2011. A tendência mais esperada, diz ele, é de estabilidade com possibilidade de recuperação no segundo semestre.

José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que a crise na zona do euro terá um impacto muito maior na exportação brasileira e na demanda internacional. Castro estima que os termos de troca devem devolver, em 2012, o ganho obtido no ano passado e chegar ao patamar de 2010. Mesmo assim, lembra ele, a relação de preços será favorável à exportação brasileira e em patamar elevado.

O efeito da queda de preços, porém, acredita Castro, contribuirá para reduzir o superávit a US$ 3 bilhões. A grande perda será das exportações que, em suas contas, terão redução de US$ 20 bilhões em relação a 2011. "Isso, se não houver agravamento da crise na União Europeia e no mercado americano."

Apesar de algumas divergências nas perspectivas de curto prazo para os termos de troca e a balança comercial, os economistas convergem quando se trata das medidas necessárias para o longo prazo, como a redução da dependência dos produtos básicos na pauta de exportação e a necessidade de estimular o embarque de manufaturados. Isso reduziria o impacto de eventuais reduções de preços de commodities na balança brasileira e na situação fiscal do país.

Nesse sentido, os economistas são unânimes em citar mudanças estruturais que gerem menor custo de produção, como melhor infraestrutura e menor carga tributária. Para isso, porém, dizem, é preciso deixar de se concentrar em medidas pontuais de estímulo à exportação e enxergar bem além do horizonte de 2012.

Fonte: Valor Econômico

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