POTENCIAL CALOTE – GREGO AZEDA O CAFÉ

Após uma década do triste ataque terrorista no World Trade Center, alguns analistas financeiros tentam traçar a relação do acontecimento com a situação econômica mundial atual. Nos últimos dez anos o ouro subiu mais de 600%, o petróleo triplicou de preço, e as ações americanas ficaram bem aquém das performances dos mercados acionários de outros países desenvolvidos e também dos emergentes. Mesmo o mercado de renda fixa de curto e longo prazo teve um melhor desempenho, o que pode dar a impressão de uma influência do evento.

Na verdade a queda das torres gêmeas e a perda de milhares de vidas no dia 11 de setembro de 2001, que nos entristece extremamente até hoje (na época eu estava apenas 11 meses vivendo nos Estados Unidos), contribuiu para o endividamento da América, porém mais em função das guerras que o país entrou e do rumo que tomou com o trato de suas contas, do que por outras razões. Não podemos esquecer que 18 meses antes dos ataques, vivíamos a crise da implosão da bolha da internet, que mudou a política de juros americanos e provocou um relaxamento na regulamentação dos mercados. A consequência foi a criação de produtos estruturados que preencheram (por um tempo) o apetite de investidores que estavam (mal)acostumados com retornos inchados até o derretimento das ações tecnológicas, e que no fim inflou os mercados imobiliários e que nos trouxe à atual crise.

Nesta semana uma nova rodada de pânico tomou conta dos mercados, com o seguro para o débito soberano da Grécia indicando 91% de probabilidade do país dar o calote. Os principais fatores que desencadearam o ressurgimento do medo na zona do euro foram a saída de um membro alemão do banco central europeu e o vazamento da informação de que a Alemanha está desenhando um plano para blindar os seus bancos que serão afetados pelo “default” grego.

Sobrou para todo mundo. Os mercados acionários em cinco dias caíram entre 8% e 10% na Europa, e mais de 4% nos Estados Unidos. A corrida para a moeda americana fez com que o índice do dólar valorizasse 3.33% e as commodities não conseguiram se desvencilhar, com os principais índices escorregando ao redor de 1%.

O café em Nova Iorque foi quem mais caiu, perdendo US$ 14.15 centavos por libra na sexta-feira, e encerrando a semana com queda acumulada de US$ 23.88 por saca. Na BM&F a performance negativa foi de US$ 21.40 por saca, trazendo a arbitragem para US$ -1.71 centavos por libra. Na LIFFE o robusta caiu menos, US$ 6.24 por saca.

A conversa que dominou o noticiário cafeeiro foi o tempo seco, porém me parece que a preocupação é um pouco prematura. Quando mencionei no último comentário que este seria o próximo evento a ser acompanhado, não quis dizer que isto aconteceria no começo de setembro, mas sim para o final deste mês e o começo de outubro. Por outro lado secas diferem muito da geada no que tange o tempo de reação aos preços, e isto se deve ao fato das perdas com geadas serem identificadas mais rapidamente, enquanto os efeitos da seca são sentidos muito mais lentamente, portanto provocando uma resposta mais “gradativa”.

No mercado físico brasileiro a movimentação foi boa até quinta-feira, ajudada pela bolsa que estava se mantendo próximo das máximas, e pelo enfraquecimento do real brasileiro. Entretanto como esperado os diferenciais estreitaram prontamente com a queda do terminal. Na exportação um novo recorde foi estabelecido, a receita cambial em um mês de US$ 777.53 milhões de dólares. O volume exportado em agosto foi de 2,867 milhões de sacas – uma média de US$ 271.15 por saca exportada, sendo que para o arábica a média foi de US$ 296.61 por saca, próximo de 480 reais por saca.

A velocidade de utilização dos estoques certificados em bolsa (ICE e LIFFE) não tem sido alta, e com a proximidade das safras do Vietnã, de Colômbia e América Central notamos um enfraquecimento dos diferenciais para os suaves e para o robusta – sinais que se refletiram na falta de sequência de ganho dos futuros.

Creio que os fundos liquidaram parcialmente os seus 10,533 lotes comprados na ICE até terça-feira, estando agora provavelmente com 9 mil lotes “long”.

Como o fechamento técnico na semana foi negativo, acho que vamos ver o “C” testando os US$ 255 / 260 centavos por libra antes de encontrar suporte (podendo ser cair um pouco mais caso alguém tenha comprado as estórias de seca, e caso as chuvas se mostrem normais).

Portanto aos que precisam comprar sugiro colocar escalas abaixo de 260 centavos, e aos produtores que precisam fazer caixa no curtíssimo prazo é bom aproveitar o atual momento para vender um pouco – lembrando o que o consultor que Arnaldo Corrêa sempre escreve em seus relatórios: “o único participante que sempre vende as máximas é o mentiroso”.

Uma ótima semana e muito bons negócios para todos,

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Fonte: Archer Consulting 

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