Pó de café: como identificar a pureza e a qualidade do café comprado em supermercados?

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Imagine você em casa preparando o cafezinho que irá tomar antes de sair para o trabalho. Fez tudo como de costume. Esquentou a água, coou o pó, mas na hora de beber vem um gosto diferente na boca, algo parecido com folhas. Talvez essa seja uma situação que, ao logo dos anos, tornou-se pouco comum, mas que há algumas décadas acontecia frequentemente.

“Lembro de quando eu era pequeno e via meu pai dizer para minha mãe e para meus tios que o brasileiro só bebia o pior do café”, diz o publicitário de Poços de Caldas (MG), Thiago Franco de Souza, de 33 anos.

Considerando-se um amante da bebida, Franco, que diz tomar entre oito e 10 xícaras de café por dia, fala que quando criança não sabia muito bem diferenciar um café bom de outro com pouca qualidade.

“Pra mim era a mesma coisa. Eu aprendi a tomar o café por conta da minha família, mas eu não entendia absolutamente nada de qualidade, muito por conta da minha idade. Se o café era misturado com folhas, terra ou gravetos, pra mim dava no mesmo, até porque a gente acostuma e eu acreditava estar bebendo o verdadeiro café”, comentou.

“Atualmente é diferente. Depois que a gente cresce e começa a entender um pouco mais, a gente fica mais criterioso. Se tenho que tomar um café fora da minha casa, procuro sempre um bom lugar, que sei que vai me servir uma boa bebida. Mas se tenho que fazer em casa, como não tenho um moedor, pois sei que é melhor moer o grão pouco antes de beber, procuro comprar sempre um pó gourmet”, disse.

Nos dias de hoje, ainda há muitas pessoas que pensam como o pai do Thiago pensava. É bem verdade que ainda exportamos a maior parte dos nossos cafés com altos índices de qualidade. Mas esta é uma situação que tem mudado ao longo dos anos. Seja pelas ações de órgãos certificadores ou pela exigência do consumidor final.

Publicitário Thiago Franco de Souza, de 33 anos, bebe até 10 xícaras de café ao dia — Foto: Filipe Martins

Já que falamos de consumidor final, como podemos, então, identificar e garantir que estamos comprando um café de boa qualidade nas prateleiras de supermercados, mercearias, padarias entre outros estabelecimentos?

Selos de pureza e qualidade do café
A imaginação que propusemos logo no início da reportagem é tratada como uma situação pouco comum na atualidade, muito por conta das certificações da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), encontradas nos cafés comercializados moídos.

“O pioneiro de tudo foi o selo de pureza. Ele foi lançado em 1989, antes do código de defesa do consumidor. E com isso ele foi um balizador, um divisor de águas para a credibilidade do produto. Começou a se verificar a qualidade através da pureza, com o ‘Selo de Pureza’. Depois, em 2004, a gente lançou o ‘Programa de Qualidade do Café’, que era um programa de educação para o consumo”, explicou Mônica Pinto, coordenadora de projetos e marketing da ABIC.

Mônica explica também que as certificações da ABIC surgiram para educar o consumo e categorizar os produtos, desmistificando aquilo de que o café era tudo igual e que o bom ia lá pra fora e ruim ficava aqui dentro.

Selo da ABIC garante qualidade do café comprado nos supermercados — Foto: Divulgação / ABIC

“O PQC, esse programa de qualidade do café, possibilita ao consumidor um entendimento de que café não são todos iguais. Ele orienta no momento da compra. A partir do momento que você tem uma certificação estampada na embalagem, ele acaba se tornando um balizador de compras. O consumidor vai saber que ele tá comprando um café gourmet, que é um café diferenciado, especial, por um valor, e um café extraforte ou tradicional, que é um café do dia a dia, para grande consumo de massa, mas por outro valor”, comentou.

Atualmente, o programa de qualidade certifica mais de mil marcas de café nas quatro categorias. Destas, 259 estão na categoria gourmet, 205 na superior, 399 na tradicional e 137 na categoria extraforte. As análises sensoriais feitas pelo PQC levam em conta aroma, acidez, corpo, adstringência, fragrância do pó e amargor, e classifica por qualidade mediante a nota obtida.

Apenas as marcas que, por meio destas análises, conseguem provar que possuem em sua produção 100% de grãos, tornando-as livres de adulterações e/ou misturas, recebem também a certificação com o ‘Selo de Pureza’.

“A certificação tem validade de seis meses. A cada seis meses ele passa por uma nova análise. Só que a lista que fica disponível no site é atualizada mensalmente, porque tem todo um fluxo de análise e resposta. A gente faz coleta o ano inteiro, aproximadamente cinco mil coletas e análises. O mesmo produto é avaliado em vários momentos”, disse.

Outras formas de identificar um café de qualidade
Identificar o selo na embalagem é o passo principal para o consumidor saber se o café que ele compra é de procedência e se tem qualidade. Mas existem ainda outras formas de se atentar a isso.

“O consumidor vai identificar o selo na embalagem, ou pode consultar se a marca que ele gosta está na listagem que fica disponível no site da ABIC, ou através do aplicativo ‘De Olho no Café’. Ele pode baixar esse aplicativo e colocar um código de barras no produto. No próprio ponto de vendas ele pode identificar se o produto é certificado, e em que categoria. Se o produto tiver o selo e no aplicativo não apareceu, ele pode, ali mesmo, fazer uma notificação, uma denúncia. Ele pode também dizer o que ele achou daquele produto, se ele gosta ou se ele não gosta. O aplicativo é uma boa forma do consumidor identificar um café de qualidade e buscar as certificações.

Para os cafés considerados tradicionais ou extrafortes, as notas devem ter variação entre 4,5 e 5,9. Já para os cafés superiores, a pontuação deve atingir níveis entre 6,0 e 7,2. Quanto aos cafés de alta qualidade, classificados como gourmet, o resultado deve ser igual ou superior a 7,3, tendo como máxima a nota 10.

Fonte: G1 Sul de Minas (Por Filipe Martins)

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