Pesquisa estuda alternativas para controle químico e biológico da broca-do-café

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Estudos realizados por pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) apontam o monitoramento do cafeeiro como alternativa para auxiliar o controle químico e biológico da broca-do-café. Essa praga preocupa os cafeicultores pela possibilidade de perdas qualitativas e quantitativas, já que a broca ataca as sementes dos frutos.

O monitoramento é uma ferramenta que ajuda o cafeicultor a identificar as áreas infestadas pela broca para o uso racional de inseticida. As pesquisas mostram que o controle químico não é necessário em toda a lavoura porque o ataque da praga é desuniforme. “Em geral, somente 35% do total da lavoura requer controle químico. As lavouras novas, nas primeiras safras, não apresentam infestação da broca por isso não requerem controle químico”, explica Júlio. O cafezal deve ser dividido em talhões, agrupamentos de plantas numerados e separados por espaços necessários para a passagem de máquinas e equipamentos. Em cada talhão devem ser escolhidos, aleatoriamente, 30 cafeeiros para o levantamento de dados.

De acordo com pesquisador da EPAMIG Júlio César de Souza, esses dados irão compor uma planilha específica para o monitoramento, que deve ser iniciado três meses após a primeira maior florada do cafeeiro. “Esse acompanhamento é imprescindível antes da aplicação dos inseticidas para evitar o uso indiscriminado desses produtos. O cafeicultor deve fazer o controle químico no talhão onde a infestação atingir mais de 3% de frutos broqueados”, alerta.

Estudos mostram que inicialmente a larva do inseto apenas perfura os frutos verdes, aquosos, sem colocar os ovos. “Após 55 dias, os frutos já com menores teores de umidade, o inseto termina a construção da galeria até uma das sementes nos frutos broqueados, onde depositam o ovo. Assim, o controle químico visa matar os adultos fêmeas na entrada da galeria, nos frutos broqueados verdes, para evitar que depositem ovos posteriormente nesses frutos, iniciando o primeiro ciclo do inseto na nova safra de café”, define. Segundo Júlio a broca ataca frutos em qualquer estágio de maturação, só não ataca café beneficiado.

Desde 2005, o agrônomo e cafeicultor Juliano Araújo realiza o monitoramento com planilha em seu cafezal, no município de Campos Gerais. “A minha propriedade é certificada, portanto, o uso racional de inseticida já é uma realidade. Percebemos que a adoção do monitoramento serviu para reduzirmos o gasto com esses produtos, além de alertar para técnicas de manejo e poda que nos permite conviver com a broca”, conta. O cafeicultor ressalta que monitorar é indispensável, mas aliado ao controle químico, que possibilita ao cafeicultor menor risco de perda do controle desta praga.

Em Santa Rita do Sapucaí cafeicultores que adotaram a técnica da poda em esqueletamento do cafeeiro na safra zero – ano em que não se colhe nenhum café – não precisaram fazer o controle químico da broca. “Há nove anos os cafeicultores dessa região adotaram essa técnica e a infestação da broca é praticamente zero”, afirma Júlio. O pesquisador explica que são lavouras localizadas em terreno acidentado, que não permite a pulverização mecanizada, portanto, o monitoramento é também indispensável.

A planilha específica para monitoramento de cada talhão do cafeeiro está anexada à circular técnica 185 “Broca-do-café e controle químico”, disponível para download no site da EPAMIG, www.epamig.br, em menu publicações.

Controle químico

Neste mês, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) decretou emergência fitossanitária nos cafezais de Minas Gerais, visando impedir a infestação da lavoura pela broca, segunda praga em incidência nos cafezais arábica. A broca atinge o fruto, perfurando a semente e consumindo seu conteúdo, ocasionando perdas de peso e tipo nos grãos.

De acordo com o pesquisador Júlio César, trabalho realizado em conjunto entre EPAMIG, Embrapa e Universidade Federal de Lavras buscou validar novas alternativas para o controle da broca-do-café. Uma das medidas será a utilização de inseticidas com os princípios ativos Ciantraniliprole ou Ciazipir. “Esse composto se mostrou altamente eficiente no controle da broca e também de pragas em outras culturas”, explica.

A broca foi controlada no Brasil a partir da década de 1970 pelo uso do inseticidaEndosulfan, que em 2013 teve sua comercialização suspensa devido à alta toxicidade e ao potencial de danos ao meio ambiente. Segundo Júlio César, o novo produto possui tarja azul, que significa menor nível de toxicidade. “Com a suspensão da aplicação doEndosulfan, a cafeicultura voltou a correr risco. Portanto, essa medida do Mapa permite o uso emergencial do inseticida Ciantraniliprole, pelo prazo de um ano, até que a situação seja regularizada,” conclui.

Bioprodutos

Outra linha de pesquisa para controle da broca é o desenvolvimento de um bioinseticida por pesquisadores da EPAMIG e da Universidade Federal de Lavras, em andamento, na qual visa à seleção de microorganismos com potencial para produção de quitinase, uma enzima apta a degradar a quitina, que é o principal componente do exoesqueleto do inseto. A pesquisadora da EPAMIG Sara Chalfoun explica que os estudos estão na final. “Estamos analisando a eficácia do produto em campo. A meta é chegarmos em 70% de controle em quatro dias”, afirma. De acordo com a pesquisadora o próximo passo será o registro do produto que tem risco de toxicidade quase nulo. 

Foto 1: Fruto broqueado pelo inseto Crédito: Samantha Mapa / Ascom EPAMIG

Foto 2: A broca só ataca os frutos cafeeiro (Crédito: Erasmo Pereira / Ascom EPAMIG)

Fonte: Ascom Epamig via Rede Social do Café

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