Pesquisa da Epamig recupera lavouras de café na Zona da Mata

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Eles estão unidos pela dedicação a terra, pelo desejo de ter a família sempre por perto e pelo respeito à natureza. Entre eles, laços de vida, quase fraternos, ultrapassaram os limites entre o saber dos livros e a escola do campo. Doutor do conhecimento, o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Paulo César de Lima, vem, durante os últimos 16 anos, construindo um projeto de vida junto aos “doutores da terra” – os irmãos Jésus, Jonas, Natanael, Samuel e Edmar Lopes – no município de Araponga, na Zona da Mata mineira. Eles são pioneiros na implantação da cafeicultura agroecológica e orgânica na região.

Nas comunidades de Pedra Redonda, eles transformaram terra degradada em rentável lavoura de café especial. A pesquisa desenvolvida em caráter participativo trouxe conhecimento, renda e novos sonhos aos agricultores familiares, que hoje já exportam para Estados Unidos e Japão por meio de uma cooperativa.

“Através da troca de saberes, fomos construindo um trabalho consistente com os produtores, no qual eles são instigados a encontrar as soluções para melhorar a lavoura. No início, eles não conheciam cafés especiais e, mesmo com toda simplicidade, entenderam que poderiam progredir se apostassem na agroecologia”, ressalta Paulo Lima.

Sustentabilidade

A proposta é buscar o desenvolvimento rural sustentável com equilíbrio econômico, social e ambiental. Com apoio de algumas instituições, o pesquisador implantou unidades experimentais de cafeicultura orgânica nas comunidades a partir de 1999, visando adubação, nutrição, arborização, manejo de plantas nas entrelinhas, ecologia de pragas, cultivares e manejo da cultura.

Foram selecionadas cultivares de café resistentes à ferrugem, mais apropriadas à agricultura de montanha. O manejo da matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes passaram a ser práticas fundamentais, já que o cultivo do café orgânico exige critérios específicos, como adubação verde, utilização de resíduos orgânicos, plantas espontâneas e folhas de árvores de sistemas agroflorestais.

Excelência dos grãos

Além de aumentar a produção, os agricultores melhoraram a qualidade e passaram a produzir cafés especiais. De uma lavoura praticamente degradada, atingiram a excelência dos grãos, conquistando vários primeiros lugares em concursos de qualidade que participaram na região. “A vida melhorou muito. Compramos moto, trator, aumentamos a casa e hoje demos início ao beneficiamento do café, com a aquisição de uma despolpadora e um secador cilíndrico”, comemora Jonas Evangelista Lopes.

A lavoura de Jésus Euzébio Lopes é uma das que mais progride entre os irmãos. Em 1999 cultivava menos de mil pés. Hoje são aproximadamente 25 mil, sendo 8 mil orgânicos, uma parte desses ainda em formação. Ele espera produzir cerca de 60 sacas na colheita deste ano, que vai até outubro. “Dos R$ 800 da saca, 20% são para despesa e 80% para reinvestir”.

Os outros 17 mil pés de cafés de Jesus são agro-ecológicos, em transição para orgânicos, pois ainda aplica uma parcela da adubação química. Este ano serão mais de 30 sacas e, no próximo, espera-se superar as 100 sacas. “É meu lucro, coisa que nunca havia experimentado antes do apoio da Epamig”, calcula, lembrando que quer aumentar a propriedade.

Entenda melhor

Agroecologia – É uma abordagem de desenvolvimento rural que integra os conhecimentos científicos de múltiplas áreas aos conhecimentos populares, para a compreensão, avaliação e implementação de sistemas agrícolas, visando à sustentabilidade.

Cultivo orgânico – É o sistema de produção baseado no melhoramento e na conservação da fertilidade do solo, no uso apropriado de energia e no estímulo à biodiversidade vegetal e animal, promovendo manejo integrado mediante técnicas e insumos compatíveis com o ambiente.

Fonte: Hoje Em Dia

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