PERIGO DE BAIXAS NO PICO DA ENTRESSAFRA

O crescimento da economia chinesa continua a mostrar sinais de arrefecimento, ao mesmo tempo que os Estados Unidos revisam positivamente a variação do seu PIB para o último trimestre de 2010.

Na Europa a falta de apoio ao primeiro-ministro português para fazer ajustes fiscais provocou a queda do mandante e deteriorou ainda mais a crise de débito na região.

Resultados de empresas de tecnologia entretanto ajudaram as bolsas de ações a subirem durante a semana, e as commodities também acompanharam o tom positivo, com exceção do café, do suco de laranja e da soja.

O mercado de café teve comportamento misto entre o robusta e o arábica. O primeiro fechou praticamente inalterado se comparado com 5 dias atrás, ajudado pela a ainda inversão forte do spread entre os contratos de maio e julho na LIFFE. Já o arábica na ICE e BM&F subiu 7.60 e 10 dólares por saca respectivamente – justamente depois da maior parte dos torrefadores já terem feitos reajustes significativos no preços do torrado e moído para seus consumidores.

O pico da entressafra na maior origem produtora, assim como o fim da colheita dos produtores de cafés lavados, coincide com o começo da primavera no hemisfério norte, período no qual o consumo sazonalmente tem uma diminuição. Isto, creio eu, diminui a ansiedade dos torradores, que muito embora estejam longe de ter com uma posição confortável de cobertura nos seus livros de futuros, estão vendo os preços sem força de fazer novas altas.

Nova Iorque testou mais uma vez os US$ 260.00 centavos por libra-peso, US$ 36 centavos abaixo das altas vistas apenas duas semanas atrás, um “desconto” razoável se assumirmos que as recentes decisões de aumento do torrado moído foram tomadas olhando-se para as máximas. Novas compras por parte da indústria, aliado com a queda do terminal, podem provocar uma diluição de escalas de compra na bolsa. O pior é que tecnicamente os preços estão em um ponto perigoso, e uma nova queda abaixo de 258.00 centavos pode desencadear vendas de fundos.

Por outro lado a sensação é diferente no mercado físico. Os produtores nas origens ainda não digeriram as baixas dos terminais, e como as bases não se alinham com o futuro o custo de reposição encarece. No FOB o movimento é lento, e aqueles que podem estão olhando mais para as coberturas do segundo semestre do ano, com diferenciais mais atrativos (para os compradores, claro).

As exportações dos países produtores da América do Norte, América Central, Colômbia e Perú, totalizaram 2,582 milhões de sacas em fevereiro, 11% acima do que o ano anterior, e o acumulado para os cinco primeiros meses do ano-safra ficou 19% maior, ou 10,420 milhões de sacas. No Brasil tudo indica que teremos mais um mês de exportação ao redor de 2.6 milhões de sacas.

Falando em Brasil, alguns contribuidores mencionam que diversos negócios futuros foram feitos para a entrega de café de safra-nova, e que os produtores mais uma vez não terão a necessidade de pressionar os preços no início da colheita – música para os ouvidos dos altistas. Os baixistas torcem o nariz, e dizem não acreditar que este número seja representativo.

Seria bom que os preços começassem a se comportar com menor volatilidade, e talvez cair um pouco mais para encontrar um equilíbrio momentâneo ao menos. Continuo achando que uma queda abaixo de US$ 240 centavos por libra é menos provável neste momento, e não acho saudável ver os preços voltarem a trabalhar acima de US$ 280 centavos por libra-peso, dado que pode causar uma nova rodada de aumento de preços ao consumidor.

Digo isto pois tenho minhas dúvidas do que os altistas sempre dizem, que independentemente do preço a demanda do café não diminuirá. O problema talvez não seja os preços mais altos que o consumidor tenha que pagar para tomar seu café, mas sim ele ter que pagar mais para beber um café (na média) de qualidade pior – dada uma suposta “otimização/adequação” dos blends à arbitragem de Nova Iorque e Londres, e da menor disponibilidade de cafés de qualidade.

A volatilidade-implícita tem caído depois que os agentes vêem menores chances de rompermos 300 centavos. Sazonalmente devem cair mais até próximo do fim do mês de abril, quando muitos começam a montar estratégias de proteção contra o inverno brasileiro. De qualquer forma não estão caras para quem tem dúvidas quanto a direção do mercado e ao mesmo tempo precisa de alguma garantia de preço.

Uma ótima semana e muito bons negócios para todos,

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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