Pausa para o Cafezinho: Conheça a historia de uma família de cafeicultores de Ilicínea, no Sul de Minas Gerais

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A Coluna Pausa para o Cafezinho desta semana é sobre a fascinante história de uma família de cafeicultores que atravessa por gerações a paixão pelo café, e resgatam com perseverança a tradição da família na produção.

Em 1960, Maria dos Anjos Alvarenga Costa (mais conhecida como Dona Nega) e seu marido Cassiano Tomaz de Oliveira, começaram o plantio de café junto com os seus filhos no sítio Bela Vista, próximo a fazenda Catete, na cidade de Ilicínea no Sul de Minas Gerais.

Suely Assunção de Oliveira filha de Maria dos Anjos, relembra os momentos de dificuldade que passaram na época, com a perda de lavouras devido a geadas e chuvas de granizo, e completa que nunca desistiram diante aos imprevistos da natureza, sempre mantiveram a esperança de recomeçar não apenas por necessidades financeiras, mas por amor a terra.

Ela relembra carinhosamente, que mesmo sem energia elétrica, seu pai, Cassiano costumava ouvir através de um rádio à pilha notícias sobre o mercado do café e suas músicas favoritas.

Quando chegava o momento de secar o café sua mãe Maria dos Anjos preparava o chão para a secagem do café, enquanto seu pai seguia para a colheita,  sua mãe então varria todo o chão, catava os grãos, colocava para secar, depois “socava” no pilão  para então realizar a torra para a venda dos grãos. Suely conta, que sua mãe dizia que ela fazia um “café curtido”,o dinheiro da venda do café era usado para as despesas com a família e também para a  compra de enxoval para a casa.

Os anos se passaram, e Suely se mudou da zona rural para cidade, ainda na cidade de Ilicínea, onde conheceu seu esposo Lázaro Cândido Vilela (conhecido por todos como Zizico).

No ano de 1980, o casal inicia o plantio de café na fazenda que compraram próximo ao vilarejo da Capoeirinha no município de Guapé, cidade vizinha de Ilicínea.

A filha do casal Lidiane de Oliveira Vilela, médica e cafeicultora, moradora da cidade de Varginha no Sul de Minas, adquiriu o mesmo entusiasmo e amor de seus pais e avós pela cafeicultura. Relembra com alegria a sua infância junto com a sua irmã Fabiana, adoravam observar a produção de café de seus pais.

Ela conta que corria pelo terreiro de café, e gostava de apreciar a fumaça do secador, fazia brincadeiras entre as ruas das lavouras, ficando impressionada com a época da florada do cultivar Mundo Novo, e toda sua beleza que se esparramava entre as lavouras com suas flores brancas e perfume delicado, a sintonia e inspiração perfeita da natureza.

Lidiane conta que inicialmente não seguiu a tradição da família na cafeicultura, e se mudou para Belo Horizonte, aonde estudou medicina.

Ainda em Belo Horizonte, conheceu seu marido Daniel Lessa Akerman, de uma família Montes-clarense e Belorizontina, que também se formou para médico.

Durante 15 anos Lidiane morou na capital mineira, e acompanhava de longe o caminhar da lavoura de café dos seus pais que depois de alguns anos infelizmente se desfez. Ela conta que seus pais diziam “que tinham que parar de adubar o café para adubar ela e sua irmã  nas universidades”. Foi com tristeza que recebi a notícia de que a plantação ali se encerrava, conta Lidiane.

Depois de já formada e trabalhando, com incentivo do seu marido Daniel, resolveram retomar a produção de café com apoio de sua mãe Suely e de seu sogro Jacques, que é psicanalista em Belo Horizonte, fizeram então uma parceria em 2017, e então começaram a replantar a lavoura justamente na mesma terra onde Lidiane teve o seu  primeiro contato com café quando criança, uma feliz e oportuna coincidência.

Foi sem dúvida um ano muito especial para a família, já que no mesmo ano nasceu Beatriz filha de Lidiane, que visando essa proximidade com a sua família e a vontade de se dedicar mais ao café, decide se mudar para Varginha junto com o seu marido, cidade que atualmente moram e trabalham como médicos durante a semana se dedicando a cafeicultura nos finais de semana.

Beatriz conheceu a lavoura apenas com 15 dias de vida, e o seu umbigo não foi plantado em um pé de roseira, como manda a tradição, mas sim em um pé de café, trazendo sorte e esperança neste novo ciclo na produção de café da família.

Lázaro Cândido Vilela pai de Lidiane infelizmente faleceu em 2015, e ela não pode contar com a ajuda e ensinamentos de seu pai no manejo do café, mas diz que a inspiração e empreendedorismo dele sempre a impulsiona a fazer tudo com muito empenho e dedicação na roça, buscando melhorias e progresso ano a ano para levar um café de qualidade na casa de muitas pessoas.

Ela também conta com a ajuda de seu primo Marquinho, que tem muita experiência e auxilia a família na produção do café, e em toda sua cadeia do grão à xícara.

A família atualmente está com uma lavoura de 3 anos, e com muita satisfação e alegria criaram a sua própria marca de café chamada “Café dos Anjos”, o nome escolhido foi uma homenagem a avó materna de Lidiane, Maria dos Anjos.

Com a evolução da tecnologia na fazenda, muita dedicação e paciência, a família conta hoje, com aproximadamente 40 mil pés de café, 100% arábica, com cultivares Mundo Novo e Catuaí amarelo.

As ruas das lavouras são espaçadas para uso de máquinas, a família também possui secador estático na propriedade movido à lenha ou à palha, o que permite que o café seja levado diretamente para a máquina, sem a necessidade da pré-secagem no terreiro. O trabalho em conjunto da família já gerou ótimos resultados, ano passado o café apresentou bebida mole, o que já é um grande avanço na qualidade.

Até o final deste ano de 2020, irão lançar o Café dos Anjos em embalagens de 500g torrado e moído e em grãos para iniciar assim sua comercialização.

Lidiane também deixa um recado neste momento de pandemia, “enquanto médica da família e comunidade, eu e meu marido Daniel especialista em psiquiatria, sempre lidamos com atendimento à pessoas com problemas de saúde física, mental, social e financeira. Vemos com preocupação esta doença que assola o Brasil e o mundo, mas temos a certeza que com cuidado, prevenção e bom acompanhamento médico vamos conseguir superar e sair bem disso tudo”, finaliza.

Na lavoura os cuidados neste complexo cenário está  justamente na cautela de contratar apanhadores de café, dando preferência apenas para apanhadores de vilarejo próximo, seguindo todos os cuidados recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar qualquer contaminação.

Essa história nos traz muitas evidências mesmo diante as incertezas neste momento do covid-19, nunca é tarde para recomeçar, renovar e reconstruir seus sonhos, assim como a família de Suely e Lidiane que retomaram a produção de café da família, e hoje colhem seus merecidos frutos.

Não me canso de dizer, que o que me move no café especial são as pessoas e suas histórias por trás de cada xícara, sempre gostei de ouvir essas histórias, eu realmente embarco e aprendo com cada uma delas. São muitos desafios, trabalho árduo e muito amor na construção de um café de qualidade entregando na xícara do consumidor não apenas uma experiência sensorial única, mas a sua essência e história. Que toda a cadeia possa ser valorizada especialmente o pequeno cafeicultor, torrefador e cafeteria.

Nesta época de pandemia percebemos como estamos todos conectados, e quantas reflexões e aprendizados neste período, quantas histórias inspiradoras, em um momento tão desafiador e complexo como este, que possamos nos colocar sempre no lugar do outro, conhecendo e procurando entender o que  verdadeiramente se passa em sua vida, utilizar na prática a palavra “empatia”, sentindo suas emoções, demonstrando interesse genuíno, por um mundo com mais solidariedade e união.

Nossa enorme gratidão a todos os médicos como a Lidiane e seu marido Daniel, enfermeiros e outros profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate à pandemia salvando vidas diariamente, vocês são nossos heróis.

A cafeicultora e médica Lidiane de Oliveira Vilela deixa também um breve recado para todos os leitores da coluna.

Quer conhecer um pouco mais sobre a história dessa família?

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Lilian Trigolo
Coffee Lover-apaixonada pelo universo do café, e toda a sua cultura cafeeira, formada em Administração de Empresas com Ênfase em Comércio Exterior.