Pausa para o Cafezinho: cafeicultor de Três Pontas deixa recado para os leitores da coluna

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A Coluna Pausa para o Cafezinho desta semana é sobre a história de uma família de cafeicultores de Três Pontas, no Sul de Minas Gerais, que segue com muita sabedoria, entusiasmo e paixão, os ensinamentos do patriarca Chico Amado.

A história de José Pereira Miranda, mais conhecido como Chico Amado por amigos e familiares, começa ainda menino, quando trabalhava pelo sustento de sua família. Saiu de casa muito cedo para ajudar sua mãe a cuidar de seus 9 irmãos, trabalhou muito tempo como meeiro e apanhador de café.

Em 1970, Chico inicia o cultivo de café, todo o dinheiro que recebia da “panha” era destinado ao cuidados de seus 14 filhos e de sua esposa, Catarina Maria, que foi a sua companheira por longos anos, relata sua neta Ana Maria Miranda Belineli.

Através de todo o seu empenho, amor e dedicação pelo café conseguiu adquirir sua fazenda chamada “Muchoqueiro”, o nome foi dado devido à grande quantidade de árvores de Muchoco que tinha no local, muito conhecida por suas inúmeras propriedades medicinais.

A fazenda está localizada na região do Morro Cavado, na divisa rural entre as cidades de Três Pontas e Santana da Vargem no sul de Minas Gerais,cercada por belas paisagens naturais.

Desde criança, Ana Maria e seus primos brincavam na fazenda. E as brincadeiras acontecia em diversas partes da fazenda, era nos montes de palha de café, nas carretas que puxava o café da lavoura, no terreiro de café e na própria lavoura, quando eram levados para dar uma “ajudinha”. Mas a ajuda era uma desculpa para brincar do que de fato um trabalho.

“Sempre observava meu avô, meu pai, meus tios e tias trabalharem arduamente na roça, tínhamos muitos colaboradores que se tornaram grandes amigos do meu avô. Existia até um time de futebol na roça, onde se reunia o time da fazenda do vô Chico.Eles jogavam contra outros times de outras fazendas da região.Minha relação com a roça e com os cafés sempre foi muito divertida, pois sempre tínhamos um lugarzinho para reunir a família e brincar”, relembra com carinho Ana Maria.

Ela relata ainda que o seu avô Chico sempre teve grande talento para os negócios, era sempre muito requisitado por diversas famílias para ajudar na repartição de herança, mas nunca cobrava. Também era muito habilidoso com os números, sempre acertava quantas sacas de café daria a cada ano na sua fazenda, e conhecia plantas medicinais como ninguém, dizem que até vitiligo ele curou de uma das suas filhas.

Chico era muito querido pelos seus parceiros da roça, ajudava seus colaboradores da roça deixando que eles tivessem um pedacinho de terra para plantar e cuidar de suas criações, sendo essa parte da colheita exclusivamente para o sustento de suas famílias, e quando um de seus colaboradores iniciavam a colheita,Chico chamava todos que trabalhavam na sua roça para ajudar o colega. Assim todos que plantavam recebiam ajuda, tudo era pensado para o bem estar coletivo.

Chico Amado, era um homem justo, e de um grande coração não negava leite para ninguém, qualquer um que chegasse na sua roça, levava um litro de leite, e todo final de colheita de café, era realizada uma celebração e um culto religioso em forma de agradecimento.

Segundo Ana, ele também era um grande contador de causos e histórias. Ajudou a construir a Cooperativa de Cafeicultores de Três Pontas (Cocatrel), e estava sempre presente em todas as reuniões sendo muito querido pelos diretores, Chico com sua sabedoria e experiência ajudava os pequenos produtores, todos os dias sua fazenda ficava rodeada de amigos para ouvir seus conselhos.

E esse amor pelo café foi passado de geração a geração, e a família está envolvida em todos os processos do grão à xícara, Silvano Ragi Belineli pai de Ana, iniciou em 1987 o trabalho na roça do meia avô, e cuida hoje das lavouras (colheita e pós-colheita), suas filhas Vitória Miranda Belineli atua na parte de de qualidade (prova os cafés), e Lilian Miranda Belineli, ajuda na comercialização e divulgação, já Ricardo Henrique Pessetti esposo de Ana é o responsável pela parte de comunicação do café no ecommerce e nas mídias sociais.

O café especial surgiu na família em 2017, em meio a dificuldades financeiras, Ana conta que em uma conversa com o seu marido surgiu a idéia de colocar o café em uma embalagem para vender, visando agregar valor ao café, e começaram a busca pelo nome da marca, escolheram o nome do avô “Chico Amado”, nosso avô merecia essa homenagem, e se estivesse vivo sem dúvida, estaria muito feliz e empenhado em nos ajudar” finaliza Ana.

E a partir do nome definido, Ana e sua família começaram a estudar sobre cafés especiais, participaram de feiras, tiravam dúvidas com agrônomos, e assim começaram a vender para amigos, vizinhos, no trabalho, e no boca a boca as vendas foram evoluindo partindo também para as cafeterias entre outros pontos de vendas.

Ana conta que eles estão se preparando desde o início da pandemia, com a compra de equipamentos de proteção e orientação aos seus colaboradores, amigos e parentes para que seguissem as orientações dadas pelos órgãos de saúde no controle e prevenção do covid-19, e pediram para muitas pessoas que evitassem visitar a roça neste período.

“Nosso dia a dia tem sido de isolamento social, os nossos colaboradores trabalham isolados,como a nossa colheita é manual, cada colaborador fica em uma rua no cafezal. Até mesmo na hora do almoço a distância é mantida, almoçam longe um do outro evitando assim o contato físico. O uso de máscaras e álcool gel é obrigatório.

Diante deste complexo cenário do coronavírus, eles optaram pelas vendas online que tem sido um grande aliado tanto na divulgação do café, como na geração de novas oportunidades, mantendo uma relação mais próxima entre consumidor e produtor, sendo uma fonte de renda essencial para este momento de crise que todos estão vivendo.

Atualmente comercializam cafés especiais de 1kg, 500g, 250g, torrado e moído e em grãos, especialmente selecionados na própria fazenda para quem busca um equilíbrio perfeito na xícara, são dois micros lotes especiais:

Mundo novo: um café de 84 pontos, encorpado, torra média, acidez cítrica, com notas de frutas amarelas, deixando uma finalização intensa e duradoura;

Icatú Amarelo:um café de 83 pontos, corpo leve, torra média, acidez acentuada, com notas de caramelo e chocolate com finalização prolongada e agradável.

Esperam em breve, comercializar a nova safra e apresentar as diversas variedades de café que possuem em sua fazenda como o Mundo Novo, Acaiá, Topázio, Bourbon Amarelo, Catuaí, Icatu Amarelo, Acauã e Araras.

“Nesse momento de pandemia, tivemos muitas dificuldades com a logística de nossos cafés, tínhamos uma logística que priorizava os pequenos entregadores, agora tivemos que optar por meios convencionais de entrega, o que tem aumentado o preço do nosso produto e impactado o bolso de nossos consumidores. Alguns estabelecimentos que comercializamos estão fechando, por outro lado aumentamos nossas vendas online, mantendo parceria com alguns clientes que tem feito esses pedidos” relata Ana.

São muitas as reflexões que o impacto desta pandemia nos deixará, que possamos sempre nos inspirar e extrair de histórias como a do Chico Amado, Ana, Silvano e toda a sua família, aprendizados para a nossa vida, especialmente empatia em relação ao coletivo,no olhar, compartilhar e agir com o outro, é unindo forças que vamos sair de tudo isso ainda mais fortalecidos. Valorize o pequeno cafeicultor, torrefador e cafeteria!

O cafeicultor Silvano Ragi Belineli deixa também um breve recado para todos os leitores da coluna.

Quer conhecer um pouco mais sobre a história dessa família?

Instagram: @chicoamadooficial

Site: www.chicoamado.com.br

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Lilian Trigolo
Coffee Lover-apaixonada pelo universo do café, e toda a sua cultura cafeeira, formada em Administração de Empresas com Ênfase em Comércio Exterior.