Para o maior negociante de café, valorização depende da demanda

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O maior comerciante de café do mundo espera alta de preços no ano que vem com a retração da oferta, mas isso depende de como a demanda se recupera das situações “imponderáveis” trazidas pelo coronavírus.

Em rara entrevista, David Neumann, CEO da Neumann Kaffee Gruppe, disse que o destino do mercado de café depende da flexibilização de restrições que fecharam restaurantes e outros estabelecimentos de Paris a Los Angeles e reduziram o consumo pela primeira vez em mais de duas décadas. A demanda deve aumentar 0,9% na atual temporada após o recuo de 1,3% no período anterior, ele prevê.

A recuperação no consumo coincidiria com a queda drástica da safra no Brasil, que é o maior produtor mundial. Os cafezais da variedade arábica, que produzem os grãos mais suaves preferidos pela Starbucks, estão entrando no período de baixa produtividade do ciclo bienal da planta.

Além disso, a seca está prejudicando o desenvolvimento da safra do próximo ano. O quadro reduzirá a oferta após o superávit de 6,9 milhões de sacas nesta temporada, estima Neumann.

“Eu tenderia a esperar um mercado C mais forte no próximo ano, pelo menos no segundo semestre”, disse Neumann, se referindo aos contratos futuros negociados em Nova York. “O imponderável aqui é o coronavírus. Será que as lojas reabrem? O consumo aumenta? As pessoas voltam a viajar e tudo mais? Honestamente, não tenho resposta para isso.”

As pessoas estão bebendo mais café em casa na Europa e na América do Norte, que respondem por pouco mais da metade do consumo global.

Embora isso não tenha compensado o fechamento de restaurantes, cafeterias e escritórios, o consumo tem se mantido relativamente saudável em comparação com outros bens de consumo, explicou o CEO.

“Acho que o café tem tudo para ser um vencedor na crise porque é um produto reconfortante e consolador, é um luxo acessível”, disse ele.

Os preços do café encararam uma montanha-russa este ano. As cotações despencaram 27% entre março e junho após o anúncio das primeiras medidas de confinamento. Os contratos futuros depois se recuperaram devido à composição de estoques diante de preocupações de que o vírus atrapalharia as cadeias de abastecimento.

Agora os preços estão subindo novamente porque a seca prejudica a safra no Brasil, onde a produção de arábica ficará “vários milhões de sacas” abaixo dos 38 milhões dos últimos dois períodos de baixa produtividade, afirma Ana Wilks, chefe de pesquisa na empresa de Neumann.

Ainda há oferta abundante no mercado. O Brasil acabou de colher uma safra de 70,1 milhões de sacas, o furacão que atingiu Honduras afetou principalmente a infraestrutura, e as restrições trazidas pela Covid-19 não abalaram os cafezais ou as atividades nas lavouras na maioria das nações produtoras, de acordo com Neumann e Wilks. Não só isso, os países consumidores adiantaram suas compras no início da pandemia.

Fonte: Bloomberg