Palavra do Presidente

archimedes_pupito (800 x 1049)No dia 29 de julho de 2008, Archimedes Coli Neto participou de sua primeira reunião como presidente do Centro de Comércio de Café de Minas Gerais (CCCMG), sucedendo Cleber Marques de Paiva. Nesta entrevista exclusiva para a Revista do Café, Archimedes conta que sua trajetória no mundo do café começou cedo, com 14 anos já trabalhava como torrador, classificador e provador. Sua experiência no setor é vasta: foi produtor, torrador, exportador e hoje é o representante da Stockler em Varginha, principal praça cafeeira do país. Achimedes diz que uma das metas de sua gestão à frente do CCCMG será ajudar o setor cafeeiro a ter posições mais coesas, conciliando as divergências entre os distintos segmentos. Vamos à entrevista.

RC: Pode contar como foi a sua história de vida? Como chegou a trabalhar com café?
Archimedes: Sou descendente de italianos e nasci em Varginha. Fui criado até os 7 anos na fazenda de meu avô, que era administrada por meu pai, Eduardo Pereira Coli, e tinha uns 400 hectares com plantações de café. Viemos residir em Varginha para estudarmos, eu e meus irmãos. Trabalhei com meu pai dos 12 aos 14 anos no comércio que ele montara na cidade, um armazém de cereais. Aos 14, obtive meu primeiro emprego no café como torrador, no Minas Armazéns Gerais, pertencente ao grupo Barreto, ainda em Varginha. Lá aprendi a torrar, classificar e provar. Aos 18, mudei-me para a Intercontinental de Café como provador, onde permaneci pouco tempo e retornei ao Grupo Barreto, desta vez ao Rio de Janeiro, como classificador e comprador da Solúvel Brasília, por 3 anos. Em 1979, voltei ao interior de Minas Gerais para trabalhar numa pequena firma onde iniciamos trabalho como comerciantes de café na região de Muzambinho. Lá me casei e tive dois filhos. Os negócios cresceram e montamos uma indústria de café torrado em Campanha, MG, o Café da Roça. Construímos armazéns gerais, montamos uma exportadora e uma fazenda de produção de café. Mudei-me para Campanha em 1982, onde exerci a administração da indústria por 2 anos. Aí resolvemos abrir novas fronteiras de negócios na Bahia, em 1984, na área de exportação de café verde, surgindo assim a Consumer. Mudei-me para Vitória da Conquista, Bahia, residindo aí por 3 anos. De volta à Varginha em 1988, iniciei um departamento de compras na empresa, começando assim a exportação por Varginha, e vendendo também para o mercado interno. Nesta época, iniciamos nossa representação comercial da Stockler Comercial e Exportadora, com a qual começamos a fazer muitos negócios. Anos depois, desliguei-me das empresas e fui convidado pelo Sr. Michael Timm, a abrir uma filial da Stockler em Varginha, onde atuo há 11 anos, como gerente. Em 2006, casei-me novamente e, em outubro de 2007, nasceram meus filhos trigêmeos. Hoje, com 37 anos de trabalho em café, sempre voltado à compra no interior, posso dizer que conheço o estado de Minas Gerais por inteiro, cada micro região, e suas características.

RC: Quais são seus planos para o CCCMG? Como se distinguirá das gestões anteriores?
Archimedes: Pretendo implantar uma administração democrática, com maior participação dos associados. Minha meta é proporcionar melhorias na área de informação e serviços, aplicando os recursos financeiros em questões que possam realmente contribuir para o dia – a – dia dos associados. Buscaremos também aumentar o número de associados, para fortalecer a nossa representatividade. O estado de Minas Gerais, sendo o maior produtor de café, tem que ter um centro forte e eficiente, e pra isto necessitamos a maior representatividade possível. Já iniciamos algumas mudanças: Igualamos o preço dos certificados de origem às demais associações, baixamos a contribuição de empresas coligadas e estamos em fase de implantação de uma parceria com o CREA que irá contribuir muito com os armazéns gerais em todo o estado. Queremos ainda maior aproximação com o Cecafé, para facilitar a emissão dos certificados, reduzindo custo e burocracia para nossos associados. Nosso lema será: simplicidade e eficiência.

RC: Em sua opinião, quais são os maiores problemas da cafeicultura brasileira? E da mineira?
Archimedes: Acredito que a cafeicultura brasileira tenha vários problemas, o maior deles neste momento é a falta de remuneração. A outra é a falta de uma política mais eficaz para o setor, menos conturbada, que só proporciona especulações, prejudicando tanto a parte comercial como a produtiva. Uma política clara e transparente, e bem negociada com os diversos setores, evitando divergências desnecessárias. Quanto ao estado de Minas, que é produtor de café arábico quase na sua totalidade, a situação é muito pior, uma vez que os custos estão altíssimos. Grande parte das lavouras não estão preparadas para a colheita mecânica. O parque na sua maioria precisa sofrer adaptações ou novos plantios. Isto demanda tempo e dinheiro. Se olharmos os custos de colheita e produção desta safra, veremos que o desânimo é total. Vamos terminar a colheita deste ano com atraso, devido à falta de mão de obra, já que está cara para quem paga e pouco pra quem ganha.

RC: Acredita que a exportação pelo porto seco pode crescer muito ainda?
Archimedes: Acredito sim, que as exportações pelo porto seco tenham condições de crescer, se ele for eficiente, rápido e puder diminuir custos para o exportador. Mas isto irá depender de uma série de soluções, tanto da parte da Receita Federal, no que tange a horários e documentação, quanto da confiabilidade dos transportes até o porto.

RC: Como gerente de uma exportadora, que mudanças você viu no mercado de café nos últimos tempos que mais lhe chamou a atenção?
Archimedes: Como gerente de uma das maiores exportadoras do Brasil hoje, eu diria que muita coisa mudou na comercialização de café nos últimos anos, mas sem dúvida para mim a que mais se destacou foi o aumento do volume de café negociado em mercado futuro. A cada ano o produtor vem utilizando mais estes mecanismos, tanto a CPR, quanto a troca por insumos, ou mesmo apenas garantindo um preço fixo.

RC: Acha que a produção de café está crescendo ou esta estagnada?
Archimedes: A produção está cada ano mais profissional, mais eficaz, mais empresarial, o que tem acarretado maior produtividade por área. Conseqüentemente, nos levará a uma maior produção, mas tudo isto dependerá de vários fatores como: clima, remuneração e tratos culturais.

RC: Na sua visão, o mundo caminha para um cenário de excesso de oferta ou falta de oferta?
Archimedes: Na minha visão, não haverá excesso de café. O consumo mundial está crescendo e a produção irá responder na medida em que a remunere, e irá cair na medida em que os preços caírem. Lógico que poderemos ter descompassos em alguns momentos, por fatores macro ambientais, mas eles se ajustam de alguma forma.

RC: Essa crise nas bolsas americanas pode afetar o mercado internacional de café? Em que sentido?
Archimedes: Toda crise, seja ela qual for, sempre afeta o mercado, principalmente do café. O mundo está interligado de tal forma que não há como não afetar: afeta câmbio, afeta linhas de créditos e conseqüentemente afeta o setor café, que demanda muitos recursos.

RC: Quais os problemas de infra-estrutura mais graves para o agronegócio café?
Archimedes: Portos sempre foram um grande problema para o setor cafeeiro. De maneira geral, o transporte ainda tem muito que melhorar. Ainda temos muitas estradas ruins. Isto gera custo extra ao exportador.

RC: Nascido em Varginha, que mudanças você viu na cidade nos últimos anos?
Archimedes: A cidade de Varginha mudou e vem mudando muito com o café. Hoje Varginha é uma das maiores praças de comércio de café do Brasil, com uma capacidade de preparo de mais de 100 mil sacas por dia. São dezenas de empresas ligadas ao café instaladas na cidade, entre exportadores, armazéns, corretoras e transportadoras, quase todas estabelecidas em duas ruas. São negociadas hoje nesta praça mais de 10 milhões de sacas anualmente, e o setor gera milhares de empregos diretos e indiretos.

RC: Que contribuição um presidente do CCCMG pode trazer para a cafeicultura mineira?
Archimedes: A maior contribuição que um presidente do Centro do Comércio de Café do Estado de Minas Gerais pode trazer à cafeicultura mineira é fazer do setor uma voz única, coesa. E ser participativo, representando-o democraticamente em todas as missões que lhe forem incumbidas.

Disponível em: http://www.cccrj.com.br/revista/827/14.htm