Ouro Verde: Sul de Minas é pioneiro na formação acadêmica de especialistas em café

Imprimir
O Sul de Minas é o principal polo de produção de café arábica de Minas Gerais e também do Brasil. O “ouro verde” mexe com a vida de todos os moradores dessa região direta ou indiretamente. E tanta importância tem motivado instituições e órgãos governamentais a criarem estruturas de pesquisa e desenvolvimento da cultura do café. Um dos pilares fundamentais desses avanços é a qualificação de mão de obra.

Cabe às instituições que ofertam esses cursos, preparar trabalhadores para atender as novas demandas do mercado consumidor de café.

“Esses cursos foram criados para a capacitação de profissionais na área de cafeicultura e nos diversos segmentos que atendem a atividade. Um maior conhecimento das técnicas de produção melhora a produtividade, a rentabilidade e o melhor uso dos recursos naturais, permitindo uma cafeicultura mais sustentável”, explicou a professora Luciana Maria Vieira Lopes, coordenadora do curso superior de Tecnologia em Cafeicultura do Instituto Federal do Sul de Minas (Ifsuldeminas).

Aluno participa de curso do Senar. — Foto: Divulgação Faemg

A doutora Luciana comenta que o campus em Muzambinho (MG), onde ela trabalha, foi pioneiro na oferta de cursos de capacitação na área de cafeicultura.

“Os institutos federais são importantes no desenvolvimento dos arranjos produtivos locais e a cafeicultura é a atividade propulsora do desenvolvimento regional. Atualmente, o Campus Muzambinho é a instituição que mais oferece capacitações na área de cafeicultura em diferentes modalidades”, explicou.

Em 2005, a primeira turma do Curso Superior de Tecnologia em Cafeicultura foi ofertada pela primeira vez. “O ingresso acontece no segundo semestre. No processo seletivo deste ano, a relação de candidatos foi de 3,6 por vaga”, comentou.

É um curso com duração de três anos e com as disciplinas voltadas para uma formação específica e completa para atender às demandas do trabalho na área de cafeicultura. O curso é ofertado apenas em outras duas instituições no Brasil: Alegre (ES) e no Triangulo Mineiro.

Cafeteria Escola do IF Sul de Minas – Campus Machado — Foto: Diego Silva

Em 2009, o campus Muzambinho recebeu aprovação para oferecer um curso técnico em cafeicultura à distância. “A oferta desse curso acontece até os dias atuais, para o qual estimamos terem sido capacitados mais de 10 mil alunos em diferentes cidades do Sul de Minas Gerais. O curso tem duração de dois anos e atualmente está sendo ofertado em seis cidades polos da região. São elas Muzambinho, Ilicínea, Boa Esperança, Três Pontas, São Gonçalo do Sapucaí e Três Corações”, comentou Luciana.

A professora explicou também que o campus oferece ainda um “Curso de Cafeicultor” à distância com duração de quatro meses. Essa ação é parte do Programa “Novos Caminhos” do Governo Federal e é voltado para jovens a partir de 15 anos, com ensino fundamental completo. “O curso é ofertado na modalidade à distância e possui 489 alunos matriculados”, citou.

Outro curso mais técnico é o “Análise da Qualidade do Café”. Com duração de um ano, ele “capacita profissionais para realizarem a análise da qualidade do café, na fase que antecede a comercialização”.

Ainda segundo a coordenadora, novas necessidades de capacitação surgem a todo momento. “O mercado de trabalho absorve os profissionais e a demanda por capacitação é constante. Isso exige que o campus esteja sempre atento à oferta de novas oportunidades e atendimento a novos temas relacionados à cafeicultura, pois a atividade é muito dinâmica, portanto, não se esgota”, afirmou.

O ex-aluno Marco Pimenta criou marca própria após se formar. — Foto: Arquivo Pessoal

Um profissional formado na instituição é Marco Antônio Porto Pimenta. Ele cursou os cursos Técnico em Cafeicultura e Análise da Qualidade do Café e montou uma torrefação para lançar sua própria marca de café especial. “Sou filho de produtor de café e em 2011 eu vim para ajudar na administração da propriedade. Nosso foco sempre foi café. Quando cheguei, eu tinha poucos conhecimentos sobre a cultura, então resolvi procurar cursos profissionalizantes e foi quando procurei o Ifsuldeminas”, revelou.

Segundo ele, o aprendizado contribui para sua lavoura de 30 hectares de café arábica em Jacuí (MG). “Foi depois que fiz o segundo curso que entendemos a necessidade e oportunidade de criarmos nossa marca própria. O aprendizado mudou a gestão da propriedade. Alterou a maneira de como e quando são feitos os investimentos e compras de insumos e os tratos culturais. Também transformou o processo de colheita e processamento dos grãos que agora é feito buscando cafés de qualidade superior”, relatou.

Agronomia

Perguntada porquê um curso de agronomia convencional não seria suficiente para a cafeicultura, a professora Luciana foi enfática.

“A agronomia é um curso de ampla formação permitindo o conhecimento básico de diversos sistemas de produção. A oferta de cursos direcionados para a cafeicultura são para atender à demanda por capacitação em áreas específicas da cultura, tais como o comércio, marketing, classificação da qualidade, entre outros e acompanham as tendências de mercado que são muito dinâmicas”, afirmou.

E complementou: “Observe que o curso de Tecnologia em Cafeicultura, por exemplo possui 2.700 horas de ensino dedicadas à produção do café, abrangendo todos os principais segmentos da cultura”.

A professora do Ifsuldeminas Luciana Maria Vieira Lopes do campus Muzambinho (MG). — Foto: Ascom / IF Sul de Minas

Campus Machado

No outro campus do Ifsuldeminas de Machado (MG) também são oferecidos cursos na modalidade de formação inicial e continuada de produção de cafés, tecnólogo e técnico em cafeicultura à distância. Ainda há uma pós-graduação Lato Sensu em Cafeicultura e a possibilidade de desenvolver projetos de inovação e pesquisa com café no Mestrado Profissional em Alimentos.

Desde 2010, o campus em Machado (MG) do Ifsuldeminas possui uma “Cafeteria-Escola” equipada com modernos equipamentos para dar suporte aos alunos no preparo de cafés, atendimento ao consumidor, capacitação de baristas e desenvolvimento de pesquisas na área de novos produtos a base de café.

“Na cafeteria ocorrem cursos rápidos que duram entre três dias até uma semana. São aulas sobre classificação, torra, análise sensorial e barista. Outros cursos oferecidos são esporádicos como o de pós-colheita e formação de terreiro”, explicou o professor da instituição, Leandro Paiva.

O docente explicou ainda que os alunos formados em Machado atuam na administração de fazendas cafeeiras, em comercialização de insumos para o café, consultorias em fazendas e com comércio e exportação. “Também temos alunos que seguiram no segmento de cafeterias e qualidade de bebida como classificadores e degustadores”, acrescentou.

Alunos participam de grupo de estudos em qualidade do café no Ifsuldeminas — Foto: Érika Vilela

Outras instituições

Na região Sul de Minas, o Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) promove cursos e programas especiais para a cafeicultura no escritório regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) em Lavras (MG).

“Os cursos e programas ensinam técnicas para o plantio do cafeeiro, classificação e degustação de cafés especiais e comercialização. Ainda há formação sobre a segurança no trabalho, a preservação ambiental e ações de marketing. Todos os cursos são gratuitos”, explicou o vice-presidente do Sistema Faemg Breno Mesquita.

Os interessados em participar devem ser produtores, trabalhadores rurais ou ter relação com o campo e procurar o sindicato rural do município para conversar com o mobilizador do Senar local sobre a agenda de cursos.

Em 2021, o Centro de Excelência do Café – que está em construção em Varginha (MG) – deverá oferecer cursos voltados para o setor cafeeiro. As previsões dos responsáveis pelas obras é que um Técnico em Cafeicultura à distância deverá ser o primeiro curso oferecido.

Obras do Centro de Excelência em Cafeicultura estão avançadas em Varginha (MG) — Foto: Graziela Reis

A Fundação de Apoio à Tecnologia Cafeeira (Procafé) em Varginha também oferece cursos pagos de atualização e capacitação como, por exemplo, manejo tecnológico da lavoura cafeeira, classificação e prova de cafés e fertilidade-nutrição avançada. A previsão de início desses cursos é para setembro e outubro de 2020, segundo o site da fundação. Para 2021 existe a previsão de uma pós-graduação em Cafeicultura com duração de 25 meses. A Procafé ainda oferece um curso à distância de sistema produtivo da cafeicultura.

A Empresa Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) também oferece cursos em todas as áreas da cultura cafeeira, porém essas aulas são direcionados às demandas dos cafeicultores.

“Nossos cursos atendem às necessidades locais de nossos produtores. Não são cursos convencionais abertos ao público. Acreditamos que esse modelo seja mais eficiente porque pegamos as especificidades da demanda daquela região. Achamos que o aprendizado é melhor pois une a parte teórica e prática. São atividades demonstrativas na lavoura”, explicou Julian de Carvalho, coordenador técnico de cafeicultura da Emater.

Ele contou que para ter acesso a esses cursos basta que o cafeicultor procure os escritórios locais da empresa técnica.

Fonte: G1 Sul de Minas – Coluna Grão Sagrado (Por Jonatam Marinho)